A poética de Dagmar Braga
foto - Inês Santos
"Geometria da Paixão"
como se fosse domingo
desabotoei as horas
l e n t a m e n t e
abri minhas gavetas e deixei
suspensa
a esperança ilegível
recolhi o desejo
a memória
como se fosse domingo
deixei a solidão lançar seus fumos
meus destroços e lendas
aprontei o turíbulo
- a prece pelo avesso –
desentranhei-me –
o coração vadio
o corpo
o olho nu
como se fosse domingo e um deus dormisse
Poemando
luz e
palavra
tecendo o encontro
corpo e texto
lavrando a noite
liberdade
uma pitada de sal
ternura
e fogo
Poema delirioso
Era uma vez o sol
Depois veio a noite
A moldura
da boniteza da noite
E o silêncio ancho – regado a sonho
Depois veio a fome
E o medo da fome
A incerteza
E o olhar – comprido de desejo
Depois veio a sede
E a ranhura do vento
Na crueza dos campos alísios
Era uma vez o sol
Depois veio a noite
E sua iluminura
Geometria da paixão
concebo-me esferas
cubos
tubos
cones
e me deságuo
imensa
puro êxtase
maravilhamento de lua – cheia
e solitária
Ampulheta
enquanto o dia escorre no horizonte
a lua
vigia
a corrosão
das coisas e dos homens
foto publicada no Facebook
Dagmar Braga nasceu em Pitangui-MG. Reside em Belo Horizonte desde 1973. Tem textos publicados em antologias, jornais e sites literários e foi finalista do Prêmio Jabuti (2009), com “Geometria da Paixão” (Poesia). Organizou as antologias “Noites de Terça” (2007) e “Oficina da Palavra” (2011), com trabalhos desenvolvidos nas Oficinas de Literatura que promove no Espaço Cultural Letras e Ponto:
https://www.facebook.com/LetrasePonto
Comentários
Postar um comentário