Uma mulher admirável - homenagem à Ana Elisa Ribeiro
Foto: Sérgio Karam |
Ana Elisa Ribeiro - mulher de muitas artes e talentos
por Chris Herrmann
Conheci a Ana Elisa, primeiro virtualmente há alguns anos. Desde então acompanhava pelas redes uma parte da sua atuação como escritora/poeta, professora, pesquisadora, editora e agitadora cultural. Admirava há tempos seus talentos, dedicação extrema e seriedade junto aos seus projetos de trabalho , bem como sua responsabilidade e carinho com seus alunos, amigos, e principalmente com seu filho. Minha admiração cresceu ainda mais quando selei essa amizade pessoalmente em Maio de 2018, quando estive em Belo Horizonte para lançar um livro.
Em Belo Horizonte, com Ana Elisa Ribeiro Maio, 2018 |
Nosso encontro foi na Livraria da Rua, que ainda não tinha tido o prazer de conhecer. A sugestão foi da própria Ana Elisa. E foi perfeita. Muita animação, mil livros para se apaixonar, pessoas interessadas em cultura enchendo a livraria e a rua. E, de quebra, um show ao vivo do Clube da Esquina que não resisti em assistir, cantar, vibrar e tirar fotos. Dali fomos almoçar em um restaurante próximo e conversamos bastante. O suficiente para que eu me encantasse ainda mais com a simpatia, inteligência e o sorriso belíssimo e sincero de Ana. Trocamos presentes, livros e afetos que ficarão com carinho e para sempre na minha lembrança.
Acrescento aqui, um depoimento curto, lindo e verdadeiro da escritora e romancista Rosângela Vieira da Rocha sobre a Ana:
“Querida Ana Elisa Ribeiro, pesquisadora admirável, excelente poeta, extremamente diligente, trabalhadeira, sem arrogância e sem frescura. O mundo pode estar caindo e ela continua trabalhando, tem uma força e uma persistência que nos fazem tirar o chapéu.“
Acrescento aqui, um depoimento curto, lindo e verdadeiro da escritora e romancista Rosângela Vieira da Rocha sobre a Ana:
“Querida Ana Elisa Ribeiro, pesquisadora admirável, excelente poeta, extremamente diligente, trabalhadeira, sem arrogância e sem frescura. O mundo pode estar caindo e ela continua trabalhando, tem uma força e uma persistência que nos fazem tirar o chapéu.“
Abaixo, seis poemas de Ana Elisa, um pouco da sua biografia e uma pequena lembrança da nossa revista, que a dedicamos com toda a nossa admiração e respeito.
Ultra
Fui mãe de um
de dois de três
dos quais
apenas um
chegou a nascer;
Fui mãe querendo
e sem querer;
a barriga de alguns
nem despontou
para as primeiras
fotografias;
tive a sorte do abraço
e do beijo
de apenas um;
dos demais
mal me despedi
nas ultrassonografias.
NOTA
O poema Ultra foi publicado na antologia Elas, a alma, a cura, publicada pela Páginas Editora, em BH. Fake está no livro Álbum (Relicário, 2018) e Crias está no Dicionário de Imprecisões (Impressões de Minas, 2019), depois de ter uma versão publicada no Suplemento Literário de Minas Gerais. Mimese, A peste e A peste 2 são inéditos em livro.
꧁☬꧂
Fake
o braço
sem a alma
não faz abraço;
como beijo
só é beijo
se tem língua & alma;
não basta
só a língua, nem o beiço.
a foto sem o corpo
é o fake da presença;
da voz [rouca]
ao mais denso
do corpo,
só se mata saudade
com carne & osso.
꧁☬꧂
Crias
quantos livros escreveste?
respondo que perdi a conta
e na verdade sinto vergonha
de escrever tantos livros desconhecidos
do que tratam teus livros?
publicas histórias ou poemas?
respondo que são variados
e sinto vergonha de escrever sobre o que não sei
vives disso?
sinto-me retorcer, mas alegro-me
em dizer que não:
tenho profissão
dessas que todos sabem o que é
ganhas dinheiro com os livros?
calo uma resposta, ao que eles
admitem que os desconhecem
e revelo um riso entredentes
e passo a falar sobre como é difícil criar filhos
꧁☬꧂
꧁☬꧂
Mimese
o dono tomou os trejeitos do felino
o felino aprendeu as manias do dono
: da languidez ao enroscado do rabo
: no modo de piscar e no de andar
pelas ruas, num passo silencioso
de modo tal que a morte de um
suspendeu para sempre
a respiração do outro
꧁☬꧂
꧁☬꧂
A peste
os mortos só são mortos
quando nossos
bem próximos
quando são mortos
dos outros
são mera notícia
꧁☬꧂
꧁☬꧂
A peste 2
cientistas
- mal pagos e sem prestígio –
de várias partes do mundo
estudam a cura
para a ignorância
acharão antes
a cura de muitas pestes
ANA ELISA RIBEIRO é mineira de Belo Horizonte, onde reside. Graduou-se em Letras por uma das melhores universidades públicas e gratuitas do Brasil, a UFMG, onde também fez mestrado e doutorado em Estudos Linguísticos. É professora de uma centenária instituição pública e gratuita de excelência, o Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais. Atua como professora em três níveis de ensino: a educação de nível médio, a graduação e a pós-graduação (lato e stricto sensu), em regime de dedicação exclusiva, oferecendo formação como servidora pública por muito mais que 44 horas por semana. É autora de diversos livros na área de Letras, entre eles vários de poesia e alguns técnico-científicos. Seus títulos de poesia mais recentes são Álbum e Dicionário de Imprecisões, pelas editoras independentes mineiras Relicário e Impressões de Minas, respectivamente. Acredita no poder de transformação da leitura, da escrita e da literatura.
Com carinho, da Revista Ser MulherArte
Parabéns à homenageada e a você, Chris Hermann!
ResponderExcluir