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Vamos falar de Trova?
por Chris Herrmann
Antes de trazer a esta publicação trovas improvisadas por mim com uma bela interação com amigos virtuais, gostaria de falar sobre o que é a trova, suas origens e como ela é construída nos dias de hoje. Embora eu não me considere uma típica trovadora, gosto de estudar e experimentar diversos gêneros literários, sem preconceitos.
Mas vamos lá: a trova é, na literatura, um poema autônomo monostrófico, isto é, que apresenta uma única estrofe com sete sílabas poéticas em cada verso. Os quatro versos em redondilha maior** devem oferecer ao leitor o significado completo da mensagem a ser transmitida.
**A redondilha menor (ou pentassílabo = verso de cinco sílabas) e a redondilha maior (ou heptassílabo = verso de sete sílabas) foram sempre usadas na poesia popular portuguesa desde os seus primórdios. Os poetas "eruditos" nunca as desdenharam. Camões cultivou-as com mestria: “Aquela cativa / que me tem cativo“ (em redondilha menor) e “Perdigão perdeu a pena / não há mal que lhe não venha“ (em redondilha maior) são disso exemplo.
O nascimento da trova está estreitamente relacionado à poesia da Idade Média, quando esta composição poética se referia a qualquer poema e letra de música. Tal criação literária desenvolveu-se no tempo das Cruzadas, do sistema feudal e do prestígio do clero.
**A redondilha menor (ou pentassílabo = verso de cinco sílabas) e a redondilha maior (ou heptassílabo = verso de sete sílabas) foram sempre usadas na poesia popular portuguesa desde os seus primórdios. Os poetas "eruditos" nunca as desdenharam. Camões cultivou-as com mestria: “Aquela cativa / que me tem cativo“ (em redondilha menor) e “Perdigão perdeu a pena / não há mal que lhe não venha“ (em redondilha maior) são disso exemplo.
O nascimento da trova está estreitamente relacionado à poesia da Idade Média, quando esta composição poética se referia a qualquer poema e letra de música. Tal criação literária desenvolveu-se no tempo das Cruzadas, do sistema feudal e do prestígio do clero.
Na Europa, mais especificamente na região sul da França e em Portugal, prosperou um movimento poético denominado Trovadorismo. Os poetas que se dedicavam a compor esses poemas eram conhecidos como trovadores.
Os portugueses trouxeram a trova para o Brasil, e continuou com Anchieta, Gregório de Matos, Tomaz Antonio Gonzaga, Claudio Manuel da Costa, Gonçalves Dias, Casimiro de Abreu, Castro Alves, Olavo Bilac, Vicente de Carvalho, Mário de Andrade, Manuel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade.
Trago um exemplo de trova, escrita há alguns anos pelo meu irmão Paulo Magalhães (filósofo, residente em Taubaté/SP) - observe que a sétima sílaba métrica está em azul:
Não vou além dos meus passos
Quem dera fugir de mim
A dor me faz em pedaços
Na noite que não tem fim
Quem dera fugir de mim
A dor me faz em pedaços
Na noite que não tem fim
Atualmente, a trova é o único gênero literário exclusivo do português.
A trova é um poema monotrófico, isto é, que contém apenas uma estrofe, com quatro versos heptassílabos (redondilha maior). O significado completo da mensagem que o trovador deseja transmitir deve estar contido nos quatro versos. Trata-se do menor poema da língua portuguesa e deve obedecer a características rígidas.
A rima é obrigatória na trova, mas não é obrigatório haver um título. Esta composição poética possui a sua conceituação própria e diferencia-se da quadra e da poesia de cordel, da Trova Gauchesca, do Repente e do poema musicado da Idade Média.
E como se dá a métrica na Trova? Em poesia cada linha se chama verso e assim a Trova possui quatro versos, sendo que cada um deve ter sete sílabas métricas: quando a sétima sílaba é contada pelo (sétimo) som entonado, e não pela sétima sílaba natural.
E por que ter métrica? Isso não “engessa“ o poema? Não tira a liberdade de expressão/criação? Não, porque nesse caso a métrica é que regula a cadência e o ritmo dos versos, assim como ocorre na música. Isso torna a construção do poema aparentemente mais difícil do que o chamado “livre“, no que diz respeito à escolha dos vocábulos. Mas não necessariamente.
Contudo, não se engane, já que essa “dificuldade“ é a mesma que os músicos de hoje têm ao criar uma letra com melodia. A habilidade do poeta de trovas, sonetos, haikai e qualquer outro gênero de poesia com regras especiais e de metrificação, está na mesma proporção de um bom músico ou um bom poeta contemporâneo.
Não há, em essência, um “poema livre“ na poesia contemporânea, mas um poema que como qualquer outro, necessita ser bem elaborado, sonoro, com escolhas cuidadosas de determinadas figuras de linguagem (conforme o autor achar necessário), com cadência e estética que o torna único.
Não fosse por isso, não seria poesia. Basta observarmos que a maioria dos poemas contemporâneos mais cotados para se tornarem canções, são exatamente os que possuem maior cadência e ritmo. E o que é isso se não a herança da poesia dos cantadores e trovadores do passado?
Eu concluo que livre é o pensamento e não o poema. Este último é a (des)construção e a reorganização do caos que é o nosso pensamento para transformá-lo em uma obra poética. Forma, signos, cheiro, sabor, sonoridade, cadência, enfim, toda uma estrutura estética e de consistência própria a ser apresentada ao leitor como ‘produto final‘, único e artístico. Alternam-se apenas as ferramentas e apetrechos trabalhados com e na linguagem literária (e visual), mas o fio condutor que permeia e acompanha este caminho ao seu destino é o mesmo.
Voltando às trovas, como são as rimas? As rimas de uma trova podem unir o primeiro ao terceiro verso e o segundo ao quarto, seguindo a estrutura rimática alternada (ABAB). Pode também apresentar outra disposição, com o segundo verso se ligando ao quarto, conforme a estrutura ABCB (rima simples). Existem também trovas com rimas no plano ABBA (rima interpolada) e AABB (rima emparelhada).
E como se dá a métrica na Trova? Em poesia cada linha se chama verso e assim a Trova possui quatro versos, sendo que cada um deve ter sete sílabas métricas: quando a sétima sílaba é contada pelo (sétimo) som entonado, e não pela sétima sílaba natural.
E por que ter métrica? Isso não “engessa“ o poema? Não tira a liberdade de expressão/criação? Não, porque nesse caso a métrica é que regula a cadência e o ritmo dos versos, assim como ocorre na música. Isso torna a construção do poema aparentemente mais difícil do que o chamado “livre“, no que diz respeito à escolha dos vocábulos. Mas não necessariamente.
Contudo, não se engane, já que essa “dificuldade“ é a mesma que os músicos de hoje têm ao criar uma letra com melodia. A habilidade do poeta de trovas, sonetos, haikai e qualquer outro gênero de poesia com regras especiais e de metrificação, está na mesma proporção de um bom músico ou um bom poeta contemporâneo.
Não há, em essência, um “poema livre“ na poesia contemporânea, mas um poema que como qualquer outro, necessita ser bem elaborado, sonoro, com escolhas cuidadosas de determinadas figuras de linguagem (conforme o autor achar necessário), com cadência e estética que o torna único.
Não fosse por isso, não seria poesia. Basta observarmos que a maioria dos poemas contemporâneos mais cotados para se tornarem canções, são exatamente os que possuem maior cadência e ritmo. E o que é isso se não a herança da poesia dos cantadores e trovadores do passado?
Eu concluo que livre é o pensamento e não o poema. Este último é a (des)construção e a reorganização do caos que é o nosso pensamento para transformá-lo em uma obra poética. Forma, signos, cheiro, sabor, sonoridade, cadência, enfim, toda uma estrutura estética e de consistência própria a ser apresentada ao leitor como ‘produto final‘, único e artístico. Alternam-se apenas as ferramentas e apetrechos trabalhados com e na linguagem literária (e visual), mas o fio condutor que permeia e acompanha este caminho ao seu destino é o mesmo.
Voltando às trovas, como são as rimas? As rimas de uma trova podem unir o primeiro ao terceiro verso e o segundo ao quarto, seguindo a estrutura rimática alternada (ABAB). Pode também apresentar outra disposição, com o segundo verso se ligando ao quarto, conforme a estrutura ABCB (rima simples). Existem também trovas com rimas no plano ABBA (rima interpolada) e AABB (rima emparelhada).
São três os gêneros básicos da trova:
- Trovas líricas – Abordam sentimentos;
- Trovas satíricas – São as engraçadas;
- Trovas filosóficas – Contêm ensinamentos.
A trova também é chamada de “quadra” ou “quadrinha”, porém esta comparação apresenta problemas, uma vez que as regras da trova não ocorrem necessariamente na quadra. É importante ressaltar que a quadra é uma poesia mais longa, enquanto a trova se resume a uma estrofe completa em si.
[ fontes: arquivos pessoais, site: estudopratico ]
[ fontes: arquivos pessoais, site: estudopratico ]
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Agora, aos improvisos! As sugestões de palavras que os amigos me deram e os resultados:
Vera Ione Molina sugeriu ABRAÇO:
CH - Trova 1
tristes notas de pesar
doendo do peito ao baço
depois que tudo passar
quero te dar um abraço
Silvia Maria Ribeiro sugeriu LAÇOS:
CH - Trova 2
chorei por laços desfeitos
pensava ser minha culpa
ignorava os defeitos
estagnei-me em pupa
Helena da Rosa sugeriu ENCANTO:
CH - Trova 3
encanto-me por tão pouco
sorriso, beijo, abraço
mas se prenderem o louco
eu dou aquele festaço
Lia Sena sugeriu EMPATIA:
CH - Trova 4
pinoquio que não é mudo
não merece anistia
nesse homem falta tudo
falta amor, falta empatia
Claudia Manzolillo sugeriu TRANÇA:
CH - Trova 5
menina-mulher de trança
perdeu o baile da vida
por deixar de ser criança
por ser pouco atrevida
Divanize Carbonieri sugeriu LIBÉLULA:
CH - Trova 6
hoje eu vi uma libélula
seu voo me paralisa
do último poro à célula
arrepio que eterniza
Andrea Lucia Guarçoni sugeriu JUSTIÇA:
CH - Trova 7
justiça de deus? que nada.
justiça dos homens? piada.
se esperar vira indigente
a gente conta é c’oa gente!
Tê Caroli sugeriu MEMÓRIA:
CH - Trova 8
quem tem memória, tem muito
quem honra a história, tem mais
pois que em tempo fortuito
quem não tem culpa, tem paz
Ada Zanirato sugeriu SERENA:
CH - Trova 9
a esperança é serena
pra quem não sai do lugar
uma tv sem antena
uma alma sem lutar
Denise Moraes sugeriu ENTEDIADA:
CH - Trova 10
sente-se entediada?
no seu apê moribundo?
faz de conta que é balada
pega um livro e dance o mundo
Elisa Campos sugeriu ESTRELA:
CH - Trova 11
pensou ter visto uma estrela
delirante e cadente
era nada, era só ela
e aquela fome indecente
Celso José Ferreira de Oliveira sugeriu GREGÁRIO:
CH - Trova 12
será o instinto gregário
vírus pior que o corona?
pergunte ao seu Olegário
no grupo do zap da mana
Inês Lempek sugeriu LOUCURA:
CH - Trova 13
costuraram a realeza
nas roupagens da loucura
enganaram a safadeza
que cavava a sepultura
Vera Ione Molina sugeriu ABRAÇO:
CH - Trova 1
tristes notas de pesar
doendo do peito ao baço
depois que tudo passar
quero te dar um abraço
Silvia Maria Ribeiro sugeriu LAÇOS:
CH - Trova 2
chorei por laços desfeitos
pensava ser minha culpa
ignorava os defeitos
estagnei-me em pupa
Helena da Rosa sugeriu ENCANTO:
CH - Trova 3
encanto-me por tão pouco
sorriso, beijo, abraço
mas se prenderem o louco
eu dou aquele festaço
Lia Sena sugeriu EMPATIA:
CH - Trova 4
pinoquio que não é mudo
não merece anistia
nesse homem falta tudo
falta amor, falta empatia
Claudia Manzolillo sugeriu TRANÇA:
CH - Trova 5
menina-mulher de trança
perdeu o baile da vida
por deixar de ser criança
por ser pouco atrevida
Divanize Carbonieri sugeriu LIBÉLULA:
CH - Trova 6
hoje eu vi uma libélula
seu voo me paralisa
do último poro à célula
arrepio que eterniza
Andrea Lucia Guarçoni sugeriu JUSTIÇA:
CH - Trova 7
justiça de deus? que nada.
justiça dos homens? piada.
se esperar vira indigente
a gente conta é c’oa gente!
Tê Caroli sugeriu MEMÓRIA:
CH - Trova 8
quem tem memória, tem muito
quem honra a história, tem mais
pois que em tempo fortuito
quem não tem culpa, tem paz
Ada Zanirato sugeriu SERENA:
CH - Trova 9
a esperança é serena
pra quem não sai do lugar
uma tv sem antena
uma alma sem lutar
Denise Moraes sugeriu ENTEDIADA:
CH - Trova 10
sente-se entediada?
no seu apê moribundo?
faz de conta que é balada
pega um livro e dance o mundo
Elisa Campos sugeriu ESTRELA:
CH - Trova 11
pensou ter visto uma estrela
delirante e cadente
era nada, era só ela
e aquela fome indecente
Celso José Ferreira de Oliveira sugeriu GREGÁRIO:
CH - Trova 12
será o instinto gregário
vírus pior que o corona?
pergunte ao seu Olegário
no grupo do zap da mana
Inês Lempek sugeriu LOUCURA:
CH - Trova 13
costuraram a realeza
nas roupagens da loucura
enganaram a safadeza
que cavava a sepultura
Parabéns pela matéria, Chris. Edição, trovas, tudo muito bem cuidado!
ResponderExcluirNossa revista merece. Obrigada, Lia querida. 🤍
ExcluirUma trova se bem feita
ResponderExcluirtem que ser bem analítica
mesmo que seja refeita
sobreviver sobre a crítica.