Um olhar poético - por Mariana Belize/4 poemas
Carmen Luna |
Cavo
pouco a pouco
um buraco no quintal
para enfiar dentro dele
a mulher desiludida.
***
quilates
tradição e linhagem
um de nome outra de sangue alheio
no combate que não estive
lava a honra no sangue e na espada
fracamente a luz balança
na casa onde a mãe e a menina
se mantém cativas
honra e glória para a posteridade
do homem que primeiro assinou
um papel de seu desejo
a propriedade
quem dera voltar no tempo
e resgatar minhas delicadezas
impossivelmente real
como a padaria do outro lado da rua fechada
sem tabuleta na porta
sem ninguém que venda o pão
sem alguém que olhe aqui pra mim
neste quarto
e me faça erguer os braços agradecendo por estar
viva
nada disso
que mulher só fica
vai ficando
permanecendo
cada vez mais quieta
sem deixar rastros
nem palavras
catando etiquetas
poeiras e as palavras
já vai esquecendo
permanece propriedade
de outro.
descansa, amor, dessa aflição
minha querida
se retira desse mundo de letras
isso te dá rugas, você não vê?
está mais velha a cada dia.
amputa teu braço que escreve e segue a vida
a rotina minha que você mantém
limpa a casa guarda meus vintém
casamento instituição sagrada de deus pátria
família propriedade
os livros esses entulhos
você ama
mais a eles do que a mim?
não te amo mais.
então essa é a frase que mata
as mulheres?
te amo
quero ficar no teu corpo
feito tatuagem
sinto ciúmes dos teus
versos
Eu te amo
mas preciso que você olhe
ouça
entenda
compreenda
apreenda
escute
de
vez
necessito que você desista.
Mas doce irmã
Encara teu olho esquerdo,
víbora nessa errante pele.
Mente outra vez a tua fala de vidraça...
Encara estas sombras
descansando sobre tua carne
Estas sombras que pairam, Irmã
quem é que pode hoje nesta era covarde
chamá-la minha em íntima coragem?
Curandeira sem atributos
não tem ladainha nem coroa
quem te viu, quem te vê…
como chegou até aqui?
Ninguém te viu, esquecida tarântula.
Fecundo horizonte ininterrupto…
de vida, de sangue, de calor
nada de sorte nem azar
nos mistérios dos homens
sob teu peito, um imenso coração
guarda a História, a Memória, toda tirania
e todo ditador e toda guerra e toda morte
Jamais descansas do peso desta missão
levar milhões por dia na tua viagem
Querida estrela mais rápida que minha retórica
Irmã, seja mais rápida que meu não.
deboche
Inventar um livro
tal
Mariana Belize criou e escreve no Projeto Literário Olho de Belize, é mestranda em Literatura Brasileira pelo Programa de Letras vernáculas da UFRJ. Formada em Letras - Língua Portuguesa/ Literaturas - da UFRRJ – Nova Iguaçu Escreve resenhas críticas com base nos seus estudos de Crítica e Teoria Literária com base na Estética da Recepção e estudos sobre a relação entre arte e vida. Também divulga seus poemas na página Galpões de Sonho, no Facebook.
adorei ser publicada aqui! obrigada pelo espaço e as pinturas, tão lindas!
ResponderExcluirNós também agradecemos os belos poemas, Mariana Belize!
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