Uma janela para o sobressalto
MOSAICO Coluna 05 – Crônica
Uma janela para o sobressalto
por Marília Kubota
Na pandemia, pipocam conselhos sobre como preservar a sanidade mental durante a quarentena. Há entrevistas com padres, monges e religiosos acostumados a viver em clausura em monastérios. Ex-presos políticos descrevem a rotina nas celas em seu tempo da reclusão. Escritores e intelectuais defendem a necessidade da solidão como fonte de inspiração. Receitas para suportar o isolamento não variam. Silêncio. Meditação. Reflexão. Disciplina. Exercícios físicos. Leitura. Filmes.
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Há um mês, desde que a rua se tornou ameaça viral, passo tantas horas sozinha quanto antes da quarentena. A diferença é que não saio mais para ir a restaurantes, cafés, salas de cinema, teatro encontrar amigos, nem vou eventos literários. Cozinho em casa, vejo filmes por streaming - uma grande dica é o site do Petra Belas Artes, só exibe filmão, todos gratuitos - faço yoga e estudo por cursos online.
Continuo lendo e escrevendo, como antes e preciso de algumas horas sozinha para estas atividades. A clausura voluntária a qual me submeti por anos, por amor à contemplação, me fez ter dificuldade para conversar. Em reunião com mais de quatro pessoas emudeço. Não suporto ver vídeos de personalidades falando por mais de 15 minutos. Mantenho distanciamento social de lives que agora pululam nas redes sociais.
Continuo lendo e escrevendo, como antes e preciso de algumas horas sozinha para estas atividades. A clausura voluntária a qual me submeti por anos, por amor à contemplação, me fez ter dificuldade para conversar. Em reunião com mais de quatro pessoas emudeço. Não suporto ver vídeos de personalidades falando por mais de 15 minutos. Mantenho distanciamento social de lives que agora pululam nas redes sociais.
Isabelle Catucci
Há algumas semanas reativei a conta no Instagram. Publiquei fotos de viagens recentes. Dias depois, recebi convite para participar de um sarau virtual de poesia. Acabei desistindo, menos por causa das limitações de conhecimento em relação à plataforma e mais por questões políticas. Semana passada fiz um teste para participar de uma live. Avançar neste admirável mundo novo será inevitável.
Isolamento não é só restrição de mobilidade. Também pode ampliar conhecimentos em universos até então intocáveis. Quando decidi abraçar o ofício de escritora, me eduquei para falar em público. Agora, com o grupo de autoras do Mulherio das Letras estou treinando para falar em vídeo, para outros públicos.
Um pequeno passo para a alma tímida. Não duvido que este meu salto possa ser um tropeço para a humanidade.
Beiji, Marilia!
ResponderExcluirExcelente crônica, Marília.
ResponderExcluirNão sabe como me identifico com você: necessidade de quietude, pouca disposição para ouvir "personalidades" por longo tempo e diminuta habilidade para lidar com essas tecnologias virtuais, enfim. Legal seu texto, Marília! Abraços.
ResponderExcluirExcelente, Marília.
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