Fotografia 5 | Projeto Pixel Ladies + Revista Ser MulherArte - Francine Tobin
por Bianca Velloso, Suzana Pires, Chris Herrmann e Lia Sena
Pixel Ladies é um grupo de fotógrafas brasileiras com experiências de vida diversas e a Revista Ser MulherArte é um coletivo de artistas mulheres de língua portuguesa. Ambos têm o objetivo de divulgar a produção artística das mulheres.
A arte é o que nos salva da dureza dos dias. Por isso a Pixel Ladies e a Revista Ser MulherArte lançaram um desafio poético durante a quarentena. A Pixel Ladies propõe a imagem em postagem no Facebook e as poetas que se sentirem tocadas escrevem um poema. A Revista Ser MulherArte seleciona e publica.
A fotografia número 5 foi da Francine Tobin
Estes foram os poemas selecionados com suas respectivas autorias:
não é cega
mas é turva ante a beleza,
a paixão que se nega a ver
com clareza
e se curva a uma ilusão
Eliane Silva
..
Das incertezas agudas
Essa música que brota das águas
Mistura-se aos flocos sussurrantes
Como se gritos desses introspectivos dias
A primavera chegará sem garantir flores totais
Sem profecias à desilusão
Segue-se no quando em quando
Nas agudíssimas insolvências
Talvez uma nova Terra seja criada
Talvez um novo céu azule mais essa turbidez
Enfim. Nada finda sem fim.
Tere Tavares
..
A cor e o sentido
Aos nove anos, descobriu o poder do azul. Naquela tarde, a mãe havia colocado na pasta uma banana para a merenda. Ao sair pelo armazém do pai, pediu um refrigerante. "Caçulinha ou Grapete?" Antes tivesse escolhido o guaraná. Na volta do recreio, a banana lutava contra o refrigerante de uva, não se acomodavam no estômago. Já não ouvia mais a voz da professora durante o ditado. Alívio encontrou na capa de plástico azul do caderno. Fixou os olhos ali e afastou o desconforto. A professora, que nada percebeu, acabou com o encantamento: "Dedé, abra o caderno." A página branca não ficou em branco, assim como a carteira, a cadeira da colega da frente e o sapato da professora, que correu para acudir.
Valeria Bicca Ferrari
..
Flor da pele
enquanto as couraças
se distraem com as certezas
a pele se arrepia
com as dores dos ventos
na linguagem dos moinhos
subcutâneos
e o corpo se levanta
pela única certeza
de que ainda se espanta
com a tez das flores
Chris Herrmann
..
A morte
No instante em que vemos as flores embaçadas,
algo do céu toca a nossa essência.
O fim é apenas um novo começo.
Viviane Justo
..
Ânimo
Esse orvalho
em tuas pétalas
goteja em minha mão.
Colho, recolho
e sacio minha sede
de flor.
Claudia Manzolillo
..
No Jardim da vida
Há um lugar onde a vida se renova
E traz boas novas
A breve brisa balança toda essa dança
trazendo esperança
No jardim deste bosque
O suave toque
No jardim da vida
Damos as boas-vindas!
O doce perfume das flores
Amenizam as dores
A diversidade das cores
Permitem todos os amores
Seu precioso néctar
Nos reconecta
Suas pétalas
Tão plenas e repletas!
A mãe terra
É terna e bela
A mãe natureza
Pura beleza e sutileza
A vida se renova nessa brisa
Coloniza e nos hipnotiza
A vida é singela
Beleza eterna
A vida se transforma
A toda hora
A vida convida
A seguir em constante partida
Há um lugar onde tudo é belo
Repleto e singelo
Há vida em toda parte
Majestosa arte!
Há um lugar onde é possível respirar
Para o ar renovar
E o olhar desviar
Do incessante pensar
No jardim do bosque
Um novo retoque
No jardim da vida
Cura todas as feridas!
Adriana Oliveira
..
fora de cena
pincelou as notas
mortas da folha
de fina fibra
branca
viajante mente
inventa formas
cria flores de
linho
tão azuizinhas
quanto a luz
serena da menina
fora de cena
que sonha
um jeito perfeito
de dar forma nova
àquela gota
que sentiu azul
e
era branca...
Ana Cleusa Bardini
..
o vale
um perfume inebriante de rosas selvagens
paira sobre o vale
sombras de verde e azul
florinhas penduradas como
gotas translúcidas.
segredos vivos se escondem lá
nas profundas do vale
há uma árvore com grandes raízes
que se enterram no solo e buscam o mar
onde minha mãe agora habita
tornada em água, tartaruga, alga marinha,
cinzas de minhas cinzas, pó do meu amor
minha mãe.
no vale as flores sonham, brancas e plácidas
o córrego sonha, sereno em seu curso líquido
eu caminho em silêncio e meus olhos são verdes
e se afogam em gotas translúcidas
são azuis os meus olhos, da cor da terra,
meus grandes olhos castanhos, tristes como os olhos de um cavalo triste
choram.
há uma árvore no vale
seus galhos tão longos que tocam o céu
as pequenas flores fantasma à volta da árvore
dançam, porque ali, das raízes que crescem para dentro das águas
uma semente se formou e agora busca
alcançar o céu que nos protege.
na luz tênue vejo minha mãe,
transmudada em verdes e azuis e rosas selvagens
meiga e espirituosa, cheia de risos, corajosa como ela é, e doce
vejo minha mãe nos olhos azuis e verdes de minha filha,
brilhante como ela é em um mundo sem relógios
ela é.
Malu Baumgarten
..
aquela tarde
olha, lídia
aquela tarde novamente...
o finzinho do outono
a alameda florida
as folhas cobrindo
nosso caminho
olha, lídia
há tanta verdade
nesse canto nosso
há o primeiro toque
as mãos que se achavam
no acanhamento
os anéis de seu cabelo
há seu sorriso
me esperando na varanda
o primeiro beijo
há a primeira briga
o primeiro filho
o primeiro medo
há muito, lídia
eu lendo o poema
que tanto encantamento
punha em seu olhar
esverdeando sentimentos
bocas desejos
assim, lídia
aprendi a lhe amar
entre páginas histórias
pequenas felicidades
sorrisos perdidos
solzinho tímido nos cobrindo
e as canções
que nos punham em movimento
um chão de estrelas
só para você
as orquestras
e as marchinhas
que a revelavam tão malandrinha
olha, lídia
essa tarde novamente
Mara Magaña
..
Sinais
Meus pensamentos são levados
ao sabor do vento.
As palavras fluem
como galhos em movimento.
Meus olhos refletem
o azul do firmamento.
O destino, não importa.
Pelo caminho carrego
o perfume das flores.
Por onde passo,
deixo os meus sinais.
Sida Mara da Silva
🤍
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