Quatro poemas de Maria Elizabete Nascimento de Oliveira | Nas asas do inaudível
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Quatro poemas de Maria Elizabete Nascimento de Oliveira
Nas asas do inaudível
O
silêncio
Silêncio nunca é ausência.
É plenitude, criação fetal.
Às vezes, meigo,
embala o sono,
perfuma o sonho.
Outras, selvagem,
chega galopante,
tortura a mente,
espreme o cérebro,
arrasta-nos
do/para
o cativeiro,
companheiro de redenção.
Manifesto
Onde estão as mulheres escritas
pela goiana Cora Coralina,
pela mineira Conceição Evaristo,
pela ucraniana-brasileira Clarice Lispector
e tantas outras que
escrevem e escreveram
com o sangue que jorrou de si?
Apagadas,
invisíveis,
sem valor...
Gritos sufocados no universo de papel,
mulher-esposa,
mulher-amante,
mulher-mãe,
mulher-sonhadora,
mulher-profissional,
mulher-sedutora,
mulher-mulheres.
Vivendo todas em uma.
Este ser múltiplo, original.
Avante! Abra as portas e as janelas,
respire o ar que, também, sai de suas
entranhas.
Únicas,
desiguais.
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Explosão
de mim
Borboletas em cio
bailam em fios de silêncios
que cortam,
que encompridam.
Voos rasantes da finitude,
voos que exalam perfumes
da força invencível da existência.
Voos que jorram overdose de mim,
me estico,
me ajeito,
me endireito
de imprecisões.
Neste imenso palco
me desfaço em cachoeira.
Eu grito,
eu sussurro,
eu deliro em vertigens de mim,
deságuo em liquidez,
sobras e excessos
do meu tempo,
de mulher.
Liberdade
Não!
Não é poesia.
Só vontade de pedir parada.
Descer do trem.
Quebrar corrente.
Tirar algema.
Abandonar a mala.
Rasgar o documento.
Sair da cela.
Encontrar ninguém.
Rasgar a carne.
Pedir parada.
Saltar com calma.
Andarilha.
Mulher e alma.
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Maria Elizabete Nascimento de
Oliveira -
Doutora em Estudos Literários pela Universidade do Estado de Mato
Grosso/UNEMAT. Atualmente, professora formadora da área de linguagens no Centro
de Formação e Atualização dos Profissionais da Educação Básica/CEFAPRO –
Cáceres/MT. Membro dos Projetos de Pesquisa: No Centro-Oeste da “MARGEM”: Cem
Anos de Relações entre Cultura e Literatura em Mato Grosso (1916-2016), UNEMAT/Universidade
do Estado de Mato Grosso; Poética contemporânea de autoria feminina do Norte,
do Nordeste Centro-Oeste do Brasil - UNIR/Universidade de Rondônia. É autora de Asas do inaudível em luzes de vagalumes (Carlini & Caniato, 2020).
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