Cinco poemas de Catita | "Minha árvore é baobá rainha da savana"
FSM-Team. Fonte: pixabay.com |
Cinco poemas de Catita
"Minha árvore é baobá rainha da savana"
Monstro
imaginário
Meu monstro não é sem cabeça,
de uma perna só,
carrega um saco, mora no escuro
ou parece o Boitatá.
Meu monstro não vem da África,
Ásia ou Oceania,
muito menos dos castelos
europeus.
Meu monstro não é um boi, nem
tem a cara preta,
não pega como a Cuca, não mora
embaixo de minha cama.
Meu monstro não me atormenta na
lua cheia ou na sexta-feira treze,
muito menos me espreita nos
bosques hollywoodianos.
Meu monstro não está na rua
deserta, na arma do bandido,
no ponto de drogas ou após a
faixa amarela do metrô.
Meu monstro não é a infecção, o
câncer,
a cegueira ou a amputação.
Meu monstro, calma e
solenemente,
sem alarde, embora espere resposta,
apenas diz:
“Você não vai conseguir”.
Hoje
Hoje
é um bom dia
Para
estar viva
Para
perceber que estou viva
Para
agradecer por estar viva
Para
lutar pra continuar viva
Talvez
não seja um bom dia
Para
viver
Com
consciência
do mundo
das coisas
das gentes
dos deveres
dos direitos
Mas
indomável e sedutora
A
vida me toma e me basta.
Morgane Vander. Fonte: pixabay.com |
Cartão
de Natal
Meu bom velhinho não é branco
Não tem longa barba branca
Não tem roupa vermelha
Não visita só criancinha
boazinha.
Meu bom Preto Véio, bem
pretinho mesmo,
de barba curtinha e carapinha
branquinha, sentadinho no toco,
do lado da Preta Véia,
recebe cada criança que,
em reverência à sabedoria
incorporada,
leva no coração uma luz que não
se apaga,
que a orienta a enfrentar essa
vida
que às vezes parece ensaio de
morte.
Minha árvore não é pinheiro
europeu
Não tem luzes pisca-pisca
Nem bibelôs de louça
Nem biscoito de gengibre.
Minha árvore é baobá rainha da
savana
Banhada de sol e lua
acarinhada de vento forte
Brincante de vaga-lume
Alimentada das falas
ancestrais.
Em fumaça de pito, a inscrição:
Adorei
as Almas!
Girassol e lisianto
Ela
ronca.
Ela
cochila quando vemos filmes.
Ela
não planeja o fim de semana.
Eu
me atraso.
Eu
falo-pergunto-insisto do “bom dia” ao “precisamos conversar”.
Eu
sou a chata das questões sociais.
Nós
detestamos shoppings.
Nós
amamos padocas.
Nós
divergimos.
Você,
mais do gesto,
Eu,
mais da prosa,
A
gente divide o suco.
Uma
girassol, amarelo dourado na noite
Outra
lisianto roxo, às seis da manhã
Nenhuma
amor-perfeito sempre.
As
duas céu e terra, em looping.
As
duas mergulham nos sons.
As duas seguram as nuvens.
Quando a gente casar, preta,
-- A gente já casou.
No
espelho
Meu grisalho conta,
Tal griô,
As histórias mais crespas,
Encantadas pelas que vieram
antes,
Iluminando o porvir.
Linhas bolsas e vincos
Expressam choros e risos
Dores e amores
Uns mais que outros.
Todos colhidos
Repousam
no colo acarinhado
pelas minhas mãos
que recebem
curvas formas marcas
tão diversas
sempre em mutação.
Minha pele preta
Re-luz
Re-vela
O amor de mim
Em mim
Por nós.
Marguy Wennmacher. Fonte: pixabay.com |
Prazer em conhecer você e sua poesia incrível!
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