Improvisos & Arquivos | árvore/poemas - publicação coletiva
| Improvisos & Arquivos - 08 | |
Árvore - poemas
por Chris Herrmann
por Chris Herrmann
Esta é a oitava edição do nosso projeto de improvisos que se transformou em coluna. Improvisos & Arquivos terá sempre alguma variação de abordagem, mas manterá a ideia de improvisação, seja minha por sugestão de amigos ou vice e versa. A publicação de hoje contém poemas de 16 autores (mulheres e homens) dos amigos que aceitaram o desafio de escrever sobre o tema acima proposto.
Agora, vamos aos resultados, lembrando que alguns dos poemas trazidos podem não ser inéditos. Como o nome da coluna já diz sobre a fonte - improvisos & arquivos...
Agora, vamos aos resultados, lembrando que alguns dos poemas trazidos podem não ser inéditos. Como o nome da coluna já diz sobre a fonte - improvisos & arquivos...
p o e m a s
Passageira
Desfeita amá-la,
tão frágil, tão pele.
Inteira de fendas,
equibrista.
Escrita e Nódoa,
átimo prazer,
paisagem e viagem,
instantes e querer.
A flor sangra forte,
desembarca no abate
brasão escarlate
amor sem espera.
Fez-se ao combate,
destino ou vala,
em veias de aço.
Desfeita a mala,
com sombra e bagaço.
Maria Elizabete Nascimento de Oliveira
꧁☬꧂
Fonte de vida
Nutrida, alimenta
Segue em sua força
Expande territórios
Avança limites
Cerceia seus amores
Jorra vida e sabores
Acolhe em seu seio inervado
Reacende sementes
Ao brotar em terrenos áridos
Ramifica e sela
O cordão umbilical
da vida que pulsa insistente
Das raízes, força
Do tronco, equilíbrio
Em suas folhas a leveza
e diversidade do ser
Se tem flores, esperança
Se dá frutos, o êxito
E em cada estação
a dor e a beleza nos ciclos do viver.
Jéssica Rodrigues
꧁☬꧂
A solidão de Hermes
a mesa da cozinha posta
pratos normais do dia a dia
a fome a me fazer olhar nos olhos do peixe frito
cor-de-nata e pureza
eu engulo tudo
não gosto de natureza morta
(abstraio)
o abstrato atrai-me
fujo de tortas de chocolate
e de espelhos
corro a mão na toalha de corujas marrons
conto os quadrados alvejados a cloro
não me incomodam escamas
canários-da-terra e tesourinhas
ciscam
bicam seres invisíveis
cantam pulinhos coloridos
solam seus blues
...
prefiro corrimão para descer escadas
tenho pressa de voltar ao chão
meus pés perderam as asas
:
a solidão dispensa pratos sofisticados
Ivy Menon
꧁☬꧂
Embaúba
enraíza-se a embaúba no solo
enquanto suas folhas parecem mãos
abertas acenando embaladas pela
brisa molenga da madrugada febril
o caule magro balança com os galhos
serve de morada para formigas saúvas
porque é oco como o cerne do inimigo
pelo menos assim se considera esse cão
sem ser grosso e firme como um baobá
velha entidade da savana africana
que guarda uma abundância de água sã
como o oásis do amado para a amante
Divanize Carbonieri
꧁☬꧂
Nas quatro estações ela acolhe silenciosa
os passantes em busca de sombra e inspiração
Amantes da natureza, poesia e prosa,
Sedentos de oxigênio, paz e reflexão
No verão refresca a fronte dos seres
No outono deita camadas de folhas em série
Na primavera traz flores e prazeres
No inverno resiste imponente às intempéries
Mesmo assim a serra e o machado a abate
A poluição mata sua seiva e secando sua raiz
Acordemos para a realidade antes que seja tarde
Ou, cruzando os braços, aceitemos um desfecho infeliz
Nilza Freire
꧁☬꧂
A manga rosa
Lá no alto do galho
da mangueira frondosa
havia uma manga rosa
colorindo a paisagem
nublada da cidade
Nenhum pintor renascentista
conseguiria aquele tom de rosa
No meio do encantamento
me vem de súbito
um pensamento
Seria a manga rosa
tão saborosa
quanto bela?
Rosana Paulo
꧁☬꧂
Sentinela do norte
O mormaço da amazônia
perde o lirismo
sem seus leques de clorofila
os herdeiros da canção do exílio
desperdiçam oxigênio
lançando seu orgulho ao vento
papa-chibé pressente
o iminente silêncio
da fartura das palmeiras
que me valha um caruana
no dia em que açaí do grosso
faltar em minha mesa.
Joelma Bittencourt
꧁☬꧂
Simbologias do eu
Quando sinto a superfície corroer-me
Corro às raízes
Da árvore.
Quando o vento ameaça arrastar-me
Colo-me ao caule
Da árvore.
Quando tudo está obscuro
Subo e repouso a asfixia no lume dos galhos
Da árvore.
E, quando tudo é fechado e fixo
Afasto os invólucros na fragrância das flores
Da árvore.
E, quando me parece tudo tão igual e insípido
Eis que me é ofertada a polpa e a doçura dos frutos
Da árvore.
E, quando errônea ou sábia julgo perdido ânimo
Tenho nova semente
Da árvore.
Tere Tavares
꧁☬꧂
Árvore
Aparenta paralisia
mas é jogo de cena
de lentos movimentos
em direções diferentes
aprofunda raízes
procura segurança
se fortalece na longa aventura
rompe a terra
muda a direção
busca a luz
abre galhos de segredos
brota folhas livres
para bailarem ao vento
tilinta brilhos verdes
generosas clorofilas
presta serviços de beleza
arrisca flores, ousa frutos
se esparrama em frescor e sombra
cenas que ultrapassarão nossa vida!
Silvana Conterno
꧁☬꧂
há que se cantar
em prantos
a dor da revoada
de pássaros
quando
suas casas
verdes árvores
foram arrancadas
atiradas em caçambas
suas penas se eriçaram
do infinito
ouviu-se o grito:
plasmada no tempo
em rubras verdes
lágrimas
a dor ecoava
AnnaZzul
꧁☬꧂
outonal
é primavera?
mas ainda
estou
outono
despida
de folhas
flores
sonhos
me veja
como estou
seca
espalhada
no chão
me falta
beleza
mas sobra
certeza
de um dia
ser verão.
karolzinha da silva
꧁☬꧂
Raízes
Desde sempre trânsito em tua sombra...
Sonho em tuas flores, em tuas folhas secas, seco desilusões.
Árvore! Árvore vizinha da minha infância...
Roqueira da Minha juventude...
Companheira fiel dos meus outonos...
Minha alma passarinho em ti canta no balustre...
Da casa que em mim mora...
Perfurando horas!
Joana Prado Medeiros
꧁☬꧂
Árvores-aves raras
Pés fincados
No solo
Braços da terra
Elevam-se ao céu
Morada de pássaros
Frutificam e aromatizam
Refúgio e alento
Margeiam estradas
Folhas tragam o ar
Renovam a atmosfera
Tronco abatido
Natureza morta.
Claudia Manzolillo
꧁☬꧂
O Homem e seu quebra-galho
Peregrinava,
manhã de primavera,
o cheiro de árvore
cortada.
Pisava,
sem perceber,
seus galhos mortos
e vi o alvo sangue
escorrendo na calçada.
Ela agora tronco,
árvore pelada,
indecente.
A sabedoria acumulada
sobre passarinhos,
sol em dia frio,
madrugada enluarada,
das coisas do céu
que seus galhos tocava
era agora silêncio,
fim da diversão dos ventos,
da sombra sobre o mundo.
Foi quando me dei conta
que caminhava
sobre meus braços amputados.
Marcio Sales Saraiva
꧁☬꧂
Assolação
setembro se cobre de pelefolhas retorcidas
flores negras espraiam perfume ácido
troncos de mil anos gritam em chamas
tudo que é vida queima e derrama
seiva negra pelas veias abertas
que sangram nessa américa amazônica
nessas terras pantaneiras
carambás-ligeiras jacarandás
mandacarus ipês rosa sem fim
ardem às ordens dos senhores da guerra
tuiuiús onças pintadas seriemas
jacarés lobos guarás garças reais
veados-campeiros catingueiros
sucuris tucanos micos-leões botos
voam as aves sem destino
chora a mãe d'água sem eira
soluça a chalana desde o rio paraguai
pelas plantas gentes bichos
que a sanha do deus homem
arrasa arrasta mata no fogo
Mara Magaña
꧁☬꧂
Lote com defeito
Cheguei aqui, seu moço
E nada tinha
Nem luz nem água
Bicho ou gente
Um breu de incomodar
Arregacei as mangas
Aos pouquinhos fiz muito
Primeiro fez-se luz
E dia e noite trabalhei
Dizem que foram seis
Mas eu mesmo que sei
Botei árvore, botei frutos
Botei uns bichinhos bonitos
E até um casal pra tomar conta
Aí foi a perdição, seu moço
Botaram a fazer lambança
Expulsei daqui mas era tarde
Multiplicaram demais
O que não puderam mudar
O fogo veio pra queimar
Manogon
꧁☬꧂
Comentários
Postar um comentário