Cinco poemas de Marcella Wolkers | "Mulheres são deusas"
Melissa Angela Flor. Fonte: pixabay.com |
Cinco poemas de Marcella Wolkers
"Mulheres são deusas"
- Da série poética "Poeta Puta"
MULHERES
SÃO DEUSAS
Nasci...
Sou
ser humano.
Nasci
mulher...
Então
sou Deusa!
Há
milhares de Deusas
Espalhadas
pelo mundo
Nem
todas são justas
Mas
todas carregam uma dor dentro
E essa
dor é um poder!
Há
Deusas que transformam
a sua
dor em veneno
outras
em antídoto
Algumas
transformam a sua tormenta em trovoadas,
Outras
em dia ensolarado e de abrigo.
Há
Deusas que deixam escorrer na dor, as suas lágrimas e
Há
aquelas que deslumbram no sofrimento, o seu sorriso
Mulheres
hipérbole, eufemismo
Amor,
ódio
Verdade,
cinismo!
Mulheres
flores, espinho
De
coração generoso, mulheres do mesquinho
De
toda gente, do sozinho
Da
paz, da guerra
Do
céu, mulher da terra
Da
respiração, da guelra
Do
mar, do ar
Mulheres
do ódio
Mulheres
do amar
Deusas
que agem por impulso,
Outras
que só agem depois de pensar
Mas...
Todo
poder vem mesmo da dor interna
Da dor
volumosa e materna,
Que
carregamos em nossos seios empedrados de sentimentos.
De
algumas dessas pedras, sai leite
Outras
pedras, oferecem o deleite...
Na
minha dor de fel, filtro o amargo
E
deixo passar o mel
O meu
poder é transbordar doçura
Transformar
o pranto que é um mar salgado de amargura,
Em
lágrimas doces e de ternura.
Há
milhares de Deusas espalhadas pelo mundo e
Nem
todas são justas
Algumas
vão nuas, outras usam armadura
E se o
poder de cada uma nasce da dor
Eu
escolho converter todo o meu sofrimento de divindade...
Em
puro amor!
AMOR
SAFADE DE GOIANA
Se
você é assim tão bom de cama e nas flanelas
Tem
que também ser bão...
Nas
panelas!
Nada
de beringelas
Faz
pra mim um frango caipira
Coloca
quiabo
Que te
dou o meu jiló
Ah aí
a goianinha pira!
Desata
do meu tesão o nó
Faço o
diabo
E
misturo com pimenta e farinha!
Do
milho até ao sabugo
Gosta
a galinha
Rói do
meu pequi até o espinho e o caroço
Apalpa
as minhas carnes
Mas
seja cachorro...
Morda
o meu osso!
Coloca
a tua línguiça na minha pamonha
Derrete
meu queijo
Da
forma mais sem vergonha
Põe a
tua mandioca
No meu
quibebe
Veja
só
Como o
nosso caldo ferve!
Quero
ser comida como pão de queijo
Mas
por favor,
Não
esquece de me encher de beijo
Me
chupa,
Me
abre,
Vem
provar da minha pele de jabuticaba
Tesão
de homi temperado por filha de Cora Coralina, nunca se acaba,
Invade!
Kalhh. Fonte: pixabay.com |
TEU
CORPO É O MEU MAPA
Sempre
fui péssima em geografia
E
Em
matemática também
Mas
Se me
deixares
Eu
mapeio as terras e as águas do teu corpo
E
reconheço os teus Estados
(Os de
solidão e de alegria)
Meço
as temperaturas de cada lugar teu
E
declaro minha, as zonas climáticas mais quentes...
Conto
as tuas pintas e cicatrizes
Somos
as tuas linhas
Faço a
legenda com a ponta das minhas unhas invernizadas
Escalo
teus morros
Constato
as latitudes
E a
tua longitude de mim...
CARTAS
OBCENAS AO ROMEU QUE NÃO MORREU
Romeu,
horra meu!
Que os
meus seios chupa e neles se deleita
Faça
uma espanhola no meio deles
E
derrama em minha cara a tua meita!
Romeu
quente que não morreu,
A tua
língua o gato não comeu
Bota
ela na minha "cêta"
E me
deixa tocar a tua corneta!
Romeu,
óh meu Romeu Montado...
Faz de
mim o seu cavalo
Puxa bem forte a minha crina
E come
até o caroço da minha nectarina!
Romeu
quente que não morreu,
Lambe-me
toda, como se eu fosse sorvete
Mostra
pra tua Julieta Caputeiro
Como
se faz um bom minete!
Romeu,
arre Romeu
Dá-me
um beijo molhado e cola o teu corpo no
meu
Ficámos
os dois bem suados e
Atingimos
o apogeu!
Meu
Romeu, Meu Romeu Montado
Eu
cruzo as minhas pernas em você sentado
Te
deixo com tusa
E
rebolo em teu falo, a minha bunda lusa
Romeu
suado, Romeu Montado
Deixame-me
louca
Me
comes de frente, de costas e de lado
Me faz
gemer até ficar rouca
Romeu,
bora fazer um grande love
A
minha boca no teu sexo e a tua no meu
O meu
número da sorte é o sessenta e nove
E o
pronome pessoal do teu pau ereto sou Eu!
RUPTURA
O amor
já foi mais bonito...
Agora
só sinto o absurdo
Cega,
tateio o corpo da vida
E ele
tem estrias,
É
gordo,
Tem marcas de violência no rosto e no pescoço
E
desgosto na saliva...
Já
chorei por tantos amores
Minhas
lágrimas já lavraram de tal forma o meu rosto
Que
agora, choro poeira.
Tantas
vezes cozi-te
Que
fiquei sem linha para mim.
Resta-me
a agulha...
E então,
pico-me com ela.
Pergunto-te
agora:
- Quem
irá chulear os cantos de minh'alma desfiados?
Fonte: pixabay.com |
Marcella Wolkers é goiana, reside em Portugal há 21 anos. Tem 4 obras lançadas assinadas Como Marcella Reis. Participação e coordenação em várias antologias. É membro académico da ALAF (Academia de Letras e Artes de Fortaleza), conquistou alguns prêmios literários no Brasil e em Portugal. Tem formação profissional em CENFA (cenografia, figurinos e adereços - Ofícios do Espetáculo pela escola circence Chapitô). É Técnica em Acção Educativa.
Deusa estupenda! Quando lembro de você e do Andri declamando como Romeu e Julieta, nossa, que diversão!
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