Quatro poemas de Ivone Segade | "Corpo/Caleidoscópio"


Fonte: pixabay.com

Quatro poemas de Ivone Segade


FEMININO

 

O sabor do mar e o cheiro da lua

Teu cabelo

Menstruação

Fluxo feminino

Ciclos da lua

Paixão

Hormônios

Navegação

Profundidade



CORPO/CALEIDOSCÓPIO

 

Em cada posição uma mirada diferente.

Dor, contratura, estiramento, prazer, deslocamento.

Costurando no ar um movimento.

Ordenados

Desordenados

Sentimentos

Parados, corpos atentos, gordos, magros, eutróficos.

Corpos completos, faltosos, atrofiados, dismórficos.

Não me interessa, são corpos.

Carregam o invisível.

Indivíduo

Singular

Movimento não linear

Sapatilhas

Dores escondidas no ballet da criatura.

Costuradas

Aprimoramento.

Já nasce espremido, espancado, sem ar e chora na vida.

Corpo

Viajante

Quebra cabeças de múltiplos posicionamentos

Caleidoscópio.

 

Fonte: pixabay.com


FOTOS

 

Verás que o tempo não existe

Tudo é ilusão

As coisas vêm e vão

São ondas

Comprimentos de ondas que deixam seu rastro no chão

Firmamento na escuridão

Vácuo das memórias inconscientes

Repressão

Traduzem naves nas estrelas

Sem direção

Fatos

Fotos

Fatos

Fotos

Preto branco

Coloridos

Amarelados

Fotos

Estrelas

Firmamento

Naves soltas em correria pelo espaço

Colisão de palavras ao acaso

Que traduzem notas

Descritas na escuridão do tempo

Vácuo

 


PERSEGUIÇÃO

 

Noite assim, a lua parecia o olho de alguém, bela e assustadora.

Olhos dentro e fora de mim.

Só, na rua

Ninguém me reconhecia.

Se alguém passa perto, encolho

Porém, esses olhos dos céus caem

Em minha direção, alucinação, aquarela.

Fuga desesperadora.

Correndo na rua até o fim.

Na esquina

A lua olhava sim, só pra mim

E eu caia na rua

O joelho sangrava

Carmim

No estômago jorrava ácido

Na boca escarra

Tortura sem fim

 
Fonte: pixabay.com












Ivone Segade, 52 anos, natural do Rio de Janeiro. Médica psiquiatra, desenha e pinta desde criança. Aprendeu a ler e escrever antes mesmo de chegar à escola. Autodidata, chegou a iniciar um curso livre de pintura para aprimorar suas habilidades artísticas natas. Suas obras são marcadas por forte expressividade. Assim como usa as cores para pintar o que sente, usa a caneta para colocar no papel ideias que se transformam em palavras. Artista de múltiplas linguagens, múltiplos olhares. Em 2019 realizou três exposições em espaços culturais na capital carioca, onde além dos quadros, foi apresentado sarau com poesias de sua autoria, interpretadas por jovens atores.



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