UniVerso de mulheres 09 - Três Poemas de Rayen Kvyeh - traduzidos por Valeska Brinkmann



| Coluna 09 |

Três Poemas de Rayen Kvyeh  - tradução Valeska Brinkmann




Tempo da lua fria 
 
*Inesgotável tempestade de granizo do wekufe
chicoteia as araucárias sem piedade
expulsa os choroyes** de seus ninhos
bandos tempestuosos enlouquecidos
.viajam pelo espaço
No altar
 o tambor do pajé
,soa
na noite sem lua
lá ao alto os choroyes
se detêm
 :e lançam o fatídico presságio
chegarão os estrangeiros
.e um tremor rasgará a terra

 

wekufe – força negativa que tenta destruir o equilíbrio natural*

Choroy – espécie de papagaio típico dos boques do sul do Chile**


Tiempo de luna fría

Granizada inagotable del wekufe
azota sin piedad las araucarias
desaloja de sus nidos los choroyes
enloquecidas bandadas tormentosas
.recorren el espacio
En el rewe
el kulxug de la machi
suena
.en la noche sin luna
Allá en lo alto los choroyes
se detienen
:y lanzan su fatídico presagio
llegarán los extranjeros
.y un temblor partirá la tierra

 
§§§§§                                                                            

Eclipse
 
Quando o sol e a lua
,se beijam detrás das montanhas
percorro os caminhos de teu corpo
e na penumbra prata-dourada
em rios caudalosos navego
desembocando
em mares desconhecidos
com o vai e vem das ondas
que estouram ao amanhecer
 
Eclipse
 
Cuando el sol y la luna
,se besan detrás de las montaña
recorro los senderos de tu cuerpo
y en la penumbra plateada-dorada
bajo en raudales ríos
 desembocando
en desconocidos mares
en el vaivén de las olas
que estallan con el amanecer
 
§§§§§                                                                                    
 
Lua de cinzas
 
Meus olhos cegos por uma venda
O ar cortado em metro quadrado
O silêncio torturado amarrado
.Entre cabos, golpes e sangue
 
Minha razão se extravia
Em labirintos sem fim
.De crua realidade e negra fantasia
 
Suando frio, tremendo de raiva
Minha pele se espreme ao meu esquálido esqueleto
Vai abandonando a vida
.Numa lenta agonia
 
Meus filhos me chamam
.Entre vozes de kulxug* e guitarra
Meus olhos se inundam
derramando rios de lágrimas
Meu corpo se lava e embebe de calor
.Meus pensamentos túrgidos
 
Passo a passo
meus olhos vendados
caminham pelas veredas
.da minha terra
 
Ao lado do tear
,a avó descasca o milho
,a araucária te beija
,colhes os pinhões
suando ao forno
amarras teu pranto
pelas ruas bélicas
.da cidade sitiada
 
Um bosque de ternura
se ata a meu ventre
dando vida
.a um rebelde embrião
 
Kulxug – instrumento musical mapuche*
 
 
Luna de cenizas
 
Mis ojos cegados por negra venda
El aire cortado en un metro cuadrado
Amarrado el torturado silencio
.Entre cables, golpes y sangre
 
Se extravía mi razón
En interminables laberintos
.De cruda realidad y negra fantasía
 
Sudando frío, temblando rabia
Mi piel apretada a su escuálido esqueleto
Va abandonando la vida
.En una lenta agonía
 
Me llaman mis hijos
.Entre voces de kulxug y guitarra
Mis ojos se inundan
Bajando en raudales
Mi cuerpo se limpia y baña de calor
.Mis entumecidos pensamientos
 
Pasito a pasito
mis vendados ojos
caminan los senderos
.de mi tierra
 
Junto al telar
,la abuela choclos desgrana
,te besa el pewen
,recoges piñones
sudando en el horno
amarras tus lágrimas
por las militarizadas calles
.de la sitiada ciudad
 
Un bosque de ternuras
se anuda en mi vientre
dando vida
.a un embrión rebelde
 
  
 

 (Rayen Kvyeh (Flor de Luna


            Poeta, escritora e dramaturga, Rayen Kvyeh
nasceu na província de Malleco, Chile. Estudou Direito e Teatro na Universidade de Concepción. Escreveu e dirigiu peças de teatro criticando a ditadura militar chilena.        Foi prisioneira política, tendo se exilado na Alemanha, onde fez parte do conselho editorial da revista «blätter des iz3w» em Freiburg. Retorna ao Chile em 1987, voltando a lutar pelos direitos do povo Mapuche. Criou a Casa de Arte Mapuche - Ciência - Pensamento MAPU ÑUKE KIMCE WEJIÑ,  em Temuco. Entre seus livros de poesia destacam-se:  Luna de los Primeros Brotes, Luna de Cenizas, Brotes de Luna Llena. Pubicou também prosa e teatro. Rayen ainda participa de leituras e festivais de poesia. Vive em Temuco
 



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