De Prosa & Arte| Nosso Corpo não é Bagunça!
Estava tudo preparado para contar pra vocês sobre a Origem do meu nome. Era um texto descontraído e jocoso sobre a saga de ter um pré nome incomum.
Mas os dias tem acordados cinzentos e violentos para manter a condição de mulher e seria uma banalidade egoísta passar por cima desses dias nublados em que violam minhas iguais.
Eu, mulher preta ando cada vez mais assombrada me esgueirando nas sombras pra passar despercebida pelos fuzis, ataques misóginos, estupros, racismo… é tanta coisa que me atravessa que pergunto quando acaba esse inferno?
O patriarcado precisa acabar. A heteronormatividade machista precisa ser combatida na urgência. Somos caladas todos os dias.
Se nos erguemos contra os desmandos desse mundo macho-escroto-global somos as barraqueiras, as maloqueiras.
Se pedimos justiça pelos nossos corpos hiperssexualizados, fustigados, violados, mutilados, apagados de sua livre existência somos militantes radicais.
Quando lideramos seções, somos empresárias, chefes ou exigimos respeito e compromisso no ambiente de trabalho julgam nossos ciclos e luas.
A ideia é sempre nos reduzir ao lugar de loucas, megeras, confusas, bruxas e descontroladas.
Não queremos mais performar essa feminilidade forjada por machos brancos, detentores do vil metal, atrás do seu whisky on the rocks e seus charutos imponentes.
Estamos hoje punhos em riste e tetas a mostra se assim quisermos, porque a força motriz e geradora percorre nossas coroas. Somos muitas a manter a casa financeira, emocional e estruturalmente.
Somos abortadas da vida masculina porque muitos deles não querem assumir responsabilidades que lhe tiram do futebol com os parças, das noitadas de biritas, do carteado, do jet na praia pagando de boys.
Ontem perdemos mais uma vez a possibilidade de proteger nossos corpos desses falos indesejados que nos dão encoxadas no busão ou trem, nos oferecem dinheiro em troca de silêncio quando descobrimos suas famílias, que nos afastam dos filhos alegando alienação parental mesmo quando só aparecem uma vez no ano escolhendo entre Natal e aniversário do rebento.
Sim, ontem foi estupro coletivo. Uma corja de homem branco podre, humilhando milhares de mulheres ao inocentar um ESTUPRADOR de merda, um vagabundo facínora. Sim, esses homens deitam-se com suas mulheres, levam suas filhas ao shopping, tomam café com suas mães na maior naturalidade depois de romper nossos hímens com suas barbáries.
Hoje eu sangro, toda a dor de de mulheres que tentam se recompor emocional e fisicamente depois de ter o corpo violado pelo membro sujo e a moral fodida pelo sistema de INjustiça deste buraco que chamamos de País.
Uma mulher branca, relativamente organizada financeiramente, visível tendo sua existência física e moral arrastada na lama. Eu temo por outras mulheres menos favorecidas e mais expostas a toda essa violência. Temo por mim e por minha filha.
Eu ergo o punho, mas hoje é de vontade de metê-lo todo na goela de um puto desses e arrancar todas as bizarras facetas clareadas, misóginos politiqueiros de araque, gente torpe e maldosa.
Todos ao meu redor acham que sou radical. Hoje eu quero erguer o punho, quero ir às ruas e chorar a cântaros com razão. Trocar de mal com o Astral até assentar essa dor lancinante.
Precisamos nos unir para combater essas violências diárias. Lutar pelos direitos de decidir sobre os nossos corpos, nos engajarmos em ocupar cargos de liderança pública, a fim de definirmos políticas de combate ao feminicídio, estupro, violência doméstica, exigir medidas protetivas efetivas à manutenção de nossas vidas.
Em que medida podemos reverter essas monstruosidades instaladas, incrustadas que nos violentam e estupram diariamente?
Já passou da hora do levante.
Eu queria escrever sobre levezas e delicadezas que delineamos apesar do desconforto de existir numa alma feminina. Eu queria dividir belezas, alegrias e miudezas. Mas hoje só consigo urrar a berros:
- Se saiam com sua escrotice, bando de corvos engravatados, nosso corpo não é bagunça! Estupro culposo não existe!
Vai ter volta.
#justiçaparaMariFerrer
Há dias que é só grito mesmo! Obrigada, mais uma voz não se cala, mais uma voz por nós!
ResponderExcluirRozana, gratidão pela leitura. Que nossos brados sejam sempre chamamento as nossas iguais.
ResponderExcluir