Um conto de Ciça Ribeiro | "O doce bombom"
Iris Hamelmann. Fonte: pixabay.com |
Um conto de Ciça Ribeiro
O doce bombom*
Pelo muro baixo do jardim da sua casa, enquanto tentava brincar de bola com seus irmãos, pouco interessados na sua companhia, ela esperava ansiosamente o chamado das duas vizinhas. Só ela era chamada.
Senhoras de cabelos brancos, gordinhas - talvez por comerem tantos bombons quanto desejassem -, e sempre usando um pulôver leve de lã, abriam a porta da casa, que tinha um jardim igual ao dela. A primeira que saísse olhava para ela, levantava o braço à meia altura e, com o dedo indicador - o curvava em movimentos delicados -, chamava-a para os minutos mais preciosos da manhã. Sem perder tempo, e não mais interessada na brincadeira de bola, nem tampouco nos irmãos, ela saia triunfante pelo portão enquanto os meninos a seguiam com os olhos cheios de vontade. Sabiam que ela era a escolhida, apenas ela.
Assim que ela adentrava a sala,sempre envolta na penumbra, o precioso objeto que repousava esplendidamente em cima de uma mesa no centro da sala, quase no escuro total, tinha uma luz própria que talvez viesse dos seus próprios olhos. A bomboneira reinava magistralmente.
Educada e bem-comportada, ela entrava na sala pisando leve, em respeito ao ambiente sagrado. A timidez, entretanto, parecia ser arremessada longe assim que uma das senhoras levantava a tampa da bomboneira e lhe oferecia um bombom. Ela, sozinha em sua aventura, experimentava o que seria o prenúncio da sua vida. Uma alegria intensa, felicidade simples e infinita.
S. Hermann & F. Richter |
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