De Prosa & Arte | Balde de Pipocas


Coluna 11


Balde de Pipocas
pixabay.com

Queria ter alguém pra dividir comigo meu  balde de pipocas. Nas frias tardes de julho quando sozinha passava as férias. Sozinha? 

Sim, porque manjo muito desses paranauês de viver solidão a dois. E agora vivo solidão pura mesmo, e às vezes com os dois filhos jovens cada um no seu quadrado.


Queria mesmo ter alguém pra dividir o meu balde de pipocas!

Queria mãozinhas diminutas procurando pelas minhas pra amparar seus passinhos cambaleantes. Pensei até  que teria que usar as duas mãos para agarrar outras quatro dessas pequeninas. Achei que levaria um no colo e outros dois em cada mão e aí talvez eu precisasse de mais um par de braços ou um sling. 


Então, por anos comi muitos baldes de pipocas. Sozinha. Pra mim pipoca significa florir/curar. Então me enchi de flor, me curei enquanto estive só mesmo a dois.


Ter alguém pra dividir meu balde de pipocas comigo?

Nas tardes frias de julho ou nas quentes tarde do fim de Dezembro, quando sozinha passava as férias. Sim, sozinha mesmo.


Foram 7 anos dessa solidão estranha e a ansiedade de parir de ventre ou peito. E então depois de longo processo vi meu balde de pipocas esvaziar em menos de um minuto. Não nasceram de mim, mas nasceram para mim. Sob medida para o meu Recanto. Para curar minha alma da inquietude de não ser!


Aquelas mãozinhas pequenas, que nem eram assim tão pequenas, encostando nas minhas dentro do balde de pipocas. Aqueles passinhos cambaleantes de aprendizado já eram maduros e apressada marcha na escadaria. Mãozinhas que não eram assim tão diminutas já me giravam imitando um tango estilizado ou um samba rock pegado. Me enxugavam lágrimas de tristeza e sem que eu pedisse me traziam chinelos. 

Mas com essas menores, outro par de mãos chegou também, decididas agarravam firmemente sua primeira boneca na casa nova. Mãos que folheavam apressadas gibis, livros de histórias e poesia. Pois tudo era novidade, descoberta, tudo era acumulativo. Estas também roçavam as minhas dentro do balde.


Eu que já estava tão escolada de solidão a dois, percebi que a quatro não existe solidão. Nem dá tempo. As mãos maiores acabavam com os meus melhores esmaltes, com meus batons e apanhavam no meu guarda-roupa o melhor moletom para fazer pintura. Haja sabão em pó…


Na minha vida tudo veio aos pares, na deles também!

Eu saúdo em vida ou para além dela os bio-pais, pois sem vocês eu nem seria.

Mas podem deixar que daqui eu assuma.


A mãe foi inventada para isso mesmo e para outras mil funções estratégicas e simultâneas. E agora?


Tantas mãos no meu balde de pipocas. Não me preocupo em ser prioridade nesta disputa. Só sei que hoje do meu balde de pipocas, curada e parida deste balde de flor salgada já não me sobra os piruás.









 

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