Coluna 04 | Fala aí... Terezinha Malaquias (Alemanha)
Banzo
por Terezinha Malaquias (autora convidada)
Acordei-me hoje bem mais cedo do que eu gostaria. Perdi o sono em algum lugar e não
consegui encontrá-lo no sofá da sala, onde sentei-me para rezar e meditar. Esse
é o meu ritual diário há muitos anos, mas principalmente na pandemia.
Depois fiz abdominais, e dancei um pouco sem música. Queria mesmo era acordar o meu corpo para o novo dia que amanheceu para mim.
Fui para a cozinha e fiz bolachinhas de polvilho inspirada na receita que minha avó materna fazia e ensinou para a minha mãe.
Mamãe não me ensinou porque eu não quis aprender a fazê-las. Nunca me
interessei antes porque prefiro comer salgados do que doces.
Mas
nesse ano atípico, eu fiz pela segunda vez essa receita que passa pelo ao menos
por três gerações de mulheres da minha
família materna. Coloquei-as no forno para assá-las e rapidamente o
perfume bom, perfumou a casa toda, a começar pela cozinha.
O cheiro foi se intensificando cada vez mais forte e as lembranças começaram a
dançar na minha cabeça e nos meus sentidos, com imagens lindas que pareciam filmes. Me vi dançando outra vez. Mas
dessa vez dancei ao som da música da
minha lembrança de criança, adolescente e mulher adulta. Éram vivas e muito reais. Trazia a memória de comida
feita em casa com toda a família reunida, incluindo as crianças que corriam brincando, pulando e
gritando pela casa, fazendo bagunça, e enchendo-a de energia alegre. Era um cheiro de pertencimento de lugar, de ser, de família.
Cheiro ancestral que vinha de mulheres que sempre cozinharam para alimentar
suas crias e seus maridos. Cheiro de gente feliz, que trazia no corpo e na alma
, o verbo esperançar. Cheiro de colo, cafuné e dengo misturado ao cheiro de
várias comidas, cheiro da minha gente.
Assei as
bolachinhas e coloquei sobre a mesa na varanda para esfriar mais rápido e
guardá-las na caixinha dos sonhos doces, e ir comendo aos pouco, para elas
durarem mais tempo.
Sorri para mim mesma quando pensei na palavra „gulosema“!
Não,
não é! As bolachinhas feitas por mim
nessa manhã sem sol, no inverno alemão, foram a maneira que eu encontrei para
dialogar com a saudade e adoçar o meu
coração.
Às 16H me sentei sozinha com meus pensamentos, novamente no sofá da sala para o meu café da tarde. Sobre a mesa baixa tinha, à minha direita uma xícara com café e leite de aveia sem acúcar. Um vaso de cerâmica de cor bege meclando claro e escuro com rosas coloridas. E no prato três bolachinhas. Três mulheres negras. A avó, a mãe e a filha.
PURA EMOÇÃO.Lendo ou ouvindo seus Poemas, Textos, somos envolvidos por grande emoção. Conseguimos penetrar na história com muita facilidade.Acho que isso nos faz identificar com os texto gostosa mente,ricamente,lindamente.Obrigada por tudo isso Tê.bjss❤️
ResponderExcluirTerezinha prima querida, que delícia de texto. Certamente tão saboroso quanto suas deliciosas bolachinhas da receita da vovó Dinha. Parabéns e gratidão por compartilhar.
ResponderExcluirAhhhhh, tenho tantas lembranças assim...
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