Cinco poemas de Claudia Miranda Franco | "Moenda"
Carabo Spain por Pixabay. |
Cinco poemas de Claudia Miranda Franco
Moenda
O moinho gira, roda.
Prensa, aperta.
Na dança da necessidade,
Eu Grão, verde/ora/duro, seco, sede,
Cede, se esfacela pelo chão
Hoje eu não quis/ não...
Não ser, não haver,
não há.
O que será que tem do lado de lá?
Eu nau,
vago, vaga, perdida,
em qual ferida se desfez meu coração?
Namoro com a sombra...
Corri aqui e acolá.
Fugir? Ela nunca esteve fora,
No centro, dentro, fio fino, frio...
por um triz
No escuro os olhos não doem.
Quem manda!
Saia já daí!
Já disse que ali não pode,
Caminha no meu corpo,
Navegue no meu suor...
Mas aqui não!
Minha mente é particular.
E, quando privada de sentidos,
Qual o sentido?
Cercada... segue,
Há trincheiras, minas
E mesmo nesse terreno incerto
Sobrevive, aqui ainda mando eu!
Despido de sua ausência
Preâmbulo nas ideias
Vasculho lugares onde você não
está...
Quando raro, encontro um canto, e
veja só: aqui ainda sou.
Meus primeiros sonhos, primeiros
erros
Lugar de luta e de paz
Ali sou amiga do rei?
Não, lá sou a mulher que eu quero
No caminho que desenhei.
Líquido e Osso
Quanto mais desintegro,
Mais desmonto, mais me entrego
De estado liquido ao sólido em um
segundo
Me desfaço gélida no chão do mundo
A espera de uma de luz
Que não vem...
E a carne padece, nua e crua
A ponta do osso corta
E mostra o que há por dentro
O liquido corre das veias
Latente, revela o segredo
Leve comemora o fim
Da dança com o medo.
O verso surge
Anatomia feminina do traço,
fenda que esconde prazeres profundos
se abre... o toque suave da língua
escreve
minuciosamente.
Toca pétala por lábio
o segredo lascivo da palavra.
o obscuro universo de dentro
Soa, intenso
teço a teia do verbo
noite a dentro,
Quero o líquido que ecoa letra a fora
O grito escondido na garganta.
Oração
Penitência que atravessa horas no dia,
fere joelhos, as pontas dos dedos das
mãos
caleja os pés, só assim se
santifica...
como mártires, não há graça sem
sacrifício.
Mesmo causa nem sempre santa.
O que será santo afinal?
Santo é tudo que sinto,
a própria escritura chama o gozo a completude.
santo, agradeço e padeço
a impermanência, anoitecer completos
amanhecer em total fragmento.
Estilhaços de corpos em outros pedaços,
percorrem distancias agora
braços e pernas apartados do todo,
a cabeça em devaneio
dor que não sangra... purifica
parece que ressuscita.
O martírio que expurga partes mortas
catarse que embaça,
pureza que não vem,
produz cegueira de fora...
abre os olhos de dentro.
Jakob Gilles por Pixabay |
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