A POESIA DE SOLANGE PADILHA | Projeto 8M
Mulheres não apenas em março.
Mulheres em janeiro, fevereiro, maio.
Mulheres a rodo, sem rodeios nem receios.
Mulheres quem somos, quem queremos.
Mulheres que adoramos.
Mulheres de luta, de luto, de foto, de fato.
Mulheres reais, fantasias, eróticas, utópicas.
Mulheres de verdade, identidade, realidade.
Dias mulheres virão,
mulheres verão,
pra crer, pra valer!
1)
ando duplamente
-*-*-*-
2)
Bato asas.
Asas batem ao vento.
Mordem a dor.
Sinto o vento bater asas.
Rumo ao norte.
Não há mais dor.
(* poema publicado no livro 'Escrita labial')
-*-*-*-
Às vezes penso que você mora em Pato Branco,
próximo à Finlândia. Outras, que está entre os Inuits,
perto da Groenlândia; e, hoje, nesta quarta-feira,
enviei um fax para você a Copenhague (na Dinamarca)
onde o Instituto Niels Bohr informou a radiação
da estrela IRAS 16293-2422.
Pensava que nós somos de lá, enquanto aqui,
onde tudo é Terra,
polvilham sonhos de padaria
moléculas de 400 anos-luz.
(* poema publicado no livro 'Escrita labial')
-*-*-*-
calçadas e depois descalças
no chão que meus pés pisam
lembranças de apetrechos
que servem a uma certa visão.
Como daquelas botas pesadas de meu pai
tiradas com uma mulher
(palmilha) nua,
de cócoras
num só golpe de mão.
(* poema publicado na 'Antologia de poesias Mulherio das Letras')
-*-*-*-
SERÃO TIRAS REUNIDAS
presas uma à outra por um grampo,
um grampo se descasca,
como a pintura de cabelo aos domingos.
Como colorir os dias da semana?
Misturar as cores do arco-íris?
Profetizar com as vogais de Rimbaud?
7)
pela metade
ainda acordo
árvore
não uma mesa
Árvore
danço com montanhas
e mesmo
sem respirador
minhas raízes entranham
o chão
Navego
o aquífero
do devir.
(* poema publicado no livro 'Sobre aquilo que não cessa')
-*-*-*-
8)
a infância, minha mãe
e a praia.
Ela cantava Caymmi,
com medo do mar
O sol refletia o timbre
em seus dentes
clarins da banda
vibravam
ao ver
Dora passar
A noite lançava
Cordas soltas no espaço
Ondas a respirar o vácuo
Explosões de estrelas
a eletrizar o peito
Partículas
em busca
do amar infinito"
(* poema publicado no livro 'Sobre aquilo que não cessa')
-*-*-*-
9)
é
um planeta
oriundo
do
éter"
SOLANGE PADILHA é natural de Belém/PA e vive no Rio de Janeiro/RJ. Morou em Paris durante a ditadura militar, formando-se em Ciências Sociais pela Sorbonne. Fez mestrado em Ciências Sociais pela PUC/SP. É doutora em Antropologia da Arte pela PUC/SP. Fez pesquisas de pós-doutorado pelo CNPq no acervo do Museu Nacional de Belas Artes. Editou o primeiro jornal feminista brasileiro, 'Nós Mulheres' (1976/1979, SP). É poeta, poeta visual, atriz, pesquisadora e fotógrafa amadora.
Livros publicados: Safographia (poesia, Rio de Janeiro/RJ: Ed. Casa 6/1986); Dadá ainda anda (poesia, Rio de Janeiro/RJ: Ed. do autor/1992); Escrita labial (poesia, Rio de Janeiro/RJ: Ibis Libris/2014); Sobre aquilo que não cessa (poesia, São Paulo/SP: Patuá/2020).
Participação em antologias e coletâneas: Nova poesia brasileira (poesia, org. Olga Savary, Rio de Janeiro/RJ: Hipocampo/1992); Poesia do Grão-Pará (poesia, org. Olga Savary, Rio de Janeiro/RJ: Graphia/2001); Antologia de poemas cariocas (poesia, Rio de Janeiro/RJ: Ibis Libris/2012); Antologia de poesias Mulherio das Letras (poesia, org. Vanessa Ratton, São Paulo/SP: Costelas Felinas/2017); Antologia comemorativa dia internacional da mulher Mulherio das Letras Portugal - poesia (org. Adriana Mayrinck, Lisboa-PT: In-finita, 2019); Antologia de prosa e conto Mulherio das Letras (org. Adriana Mayrinck, Lisboa-PT: In-finita, 2020); As mulheres poetas na literatura brasileira (poesia, org. Rubens Jardim, Cajazeiras/PB: Arribaçã, 2021); entre outras.
Realmente um assombro!
ResponderExcluir