A POESIA DE MANUELA LOPES DIPP | Projeto 8M

fotografia do arquivo pessoal da autora 

8M (*)

Mulheres não apenas em março. 
Mulheres em janeiro, fevereiro, maio.
Mulheres a rodo, sem rodeios nem receios.
Mulheres quem somos, quem queremos.
Mulheres que adoramos.
Mulheres de luta, de luto, de foto, de fato.
Mulheres reais, fantasias, eróticas, utópicas.
Mulheres de verdade, identidade, realidade.
Dias mulheres virão, 
mulheres verão,
pra crer, pra valer!
(Nic Cardeal)

Hoje é dia de mergulhar na incrível poesia de MANUELA LOPES DIPP (**):



imagem do Pinterest

PAH

A palavra

Pode derrubar um muro

Pode ter a força de um soco no estômago 

Pode transmutar como a poção de um Alquimista 

A palavra 

Pode destelhar a casa

Pode esfacelar certezas

Pode destruir cidades

A palavra 

Pode te deixar calado

Pode te fazer de bobo

Pode desvendar tua farsa

A palavra 

Pode tirar a razão 

Pode roubar a calma 

Pode desfazer a trama

A palavra 

Engatilhada

Pode te tirar a vida.

-*-


fotografia do arquivo pessoal da autora 

MANUELA LOPES DIPP 

não sou um ser humano

sou poeta

moro num verso

com janelas rítmicas 

a porta aberta em estrofes

durmo deitadanum hífen

por entrelinhas de aconchego

embaixo de um telhado

feito de exclamações 

-*-


imagem do Pinterest 

PERDIDOS E ACHADOS

É teu

Isso que tenho

Aqui dentro

De mim

Calado

Vibrante

E insano

Aqui dentro

De mim

É teu

Isso que guardo

Aqui dentro 

De mim

Fervendo Inquietante

E alucinado

Aqui dentro

De mim

É teu Basta

Dizeres sim

-*-


imagem do Pinterest 

ANTES DE COLOCAR DENTRO DE UMA GARRAFA:

Ah se pudéssemos 

Ousar 

Esse encontro

Se pudéssemos 

Burlar

O tempo

As dimensões 

Se pudéssemos 

Concretizar

A sensação 

De tudo em volta

Desaparecer

Por instantes

Incontáveis 

Ah se pudéssemos 

Arriscar

Outros passos

Se pudéssemos 

Abandonar os remos,

Todo e qualquer leme,

Quebrar a bússola 

E navegar

Nos nossos mares supostos

Ah se pudéssemos 

Um no outro

Naufragar

Se pudéssemos 

Um

Beber da água 

Do outro

Num único gole

Ah se pudéssemos 

Aplacar essa sede...

-*-


imagem do Pinterest 

AFÃ

Preciso urgente de um sapateiro pra consertar meus sapatos. Preciso urgente de um livro que instigue. Preciso de uma carta distante de alguém que há anos não vejo. Preciso seguir pra Lisboa, ver o Tejo. Preciso pregar no mural a carta com um percevejo. Preciso de ensejo pra aparecer de novo por tuas bandas. Preciso de uma frase de efeito pra minha chegada. Preciso de um subterfúgio pra não entregar o jogo de cara. Preciso de alguma piada pra quebrar o gelo. Preciso de uma história mal-contada. Preciso de uma carta marcada. Preciso de um blefe. Preciso coragem pra voltar para estrada. Preciso de um bom mate amargo. Preciso de um trago. Preciso de um norte. Preciso dar o bote. Preciso sumir e não ser encontrada. Preciso matar a charada. Preciso da moral dessa história. Preciso de um canto pra dormir essa noite. Preciso da noite. Preciso do escuro. Preciso entrar em apuros. Preciso perigo. Preciso de abrigo. Preciso de ajuda. Preciso sonhar com uma orquestra. Preciso aprender a ser ambidestra. Preciso de astúcia em ambas as mãos pra escrever essa história. Preciso pedir desculpas. Preciso ser perdoada. Preciso te desculpar. Preciso te apunhalar com um golpe preciso de faca. Dessa vez seja homem e não fique de costas.

-*- 



Sobre o livro de Manuela Lopes DippPoemas para colocar dentro de uma garrafa (***):

"A poesia escapa pelas frestas do cotidiano, corre solta pelas esquinas e pelos silêncios, encontra acolhida na encosta dos olhos, faz abrigo nas esperas, no amor e nas mãos, verte profunda das nascentes do coração de quem sente e vive o poema, a poesia desenha oceanos. "Poemas para colocar dentro de uma garrafa" abre-se como um horizonte marítimo de versos, é um mergulho nas águas poéticas de Manuela Dipp. Manuela que absorve da vida que transborda matéria-prima para o poema, reúne nesse livro uma generosa e bela seleta de poesias que constelam temas como o amor, as paixões, o fazer poético, o navegar. De ritmo potente, a poética de Manuela carrega o movimento das águas: intensa e suave, desaguando em metáforas sinestésicas, em imagens que ampliam os significados da dimensão dos afetos, dos territórios do corpo. "Poemas para colocar dentro de uma garrafa" tem o princípio das cheganças, dos abismos e da devoção por sentir viver poesia derramada em palavras. A experiência dessa leitura transcende qualquer mapa, linha, letra, fronteira ou caminho, é uma vivência-mergulho arrebatadora." 
(Michelle C. Buss)

-*-

(*) 8M: 8 de Março = Dia Internacional da Mulher: Projeto 'Homenagem a mulheres escritoras/artistas', iniciado em março/2021, por Nic Cardeal.

(**) poemas extraídos da "Revista Escriba", publicação de 24.08.2017.

(***) na 'orelha' do livro de Manuela Lopes Dipp, por Michelle C. Buss.


fotografia do arquivo pessoal da autora 

MANUELA LOPES DIPP é natural de Porto Alegre/RS, onde vive atualmente. Graduada em Direito pela Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais da PUC/RS. Além de atuar na área jurídica, também escreve e declama poemas. Produz e coordena o Sarau da Invencionática, realizado semanalmente e de forma virtual, desde julho/20. Seus poemas já foram publicados em diversas revistas de literatura, como na 'Revista Escriba' e na 'Revista Gente de Palavra'.

Participação em antologias e/ou coletâneas: Enluaradas II - Uma Ciranda de Deusas (org. Marta Cortezão e Patrícia Cacau, Enluaradas Selo Editorial e Sarasvati Editora); Arca de desejos por Porto Alegre (org. Catia Castilho Simon e Liana Timm, Território das Artes/2022); No meio do fim do mundo (org. Luciana Barreto, no prelo).

Lançou seu primeiro livro em 2021, Poemas para colocar dentro de uma garrafa, pela Editora Bestiário.




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