SEIS POEMAS INCRÍVEIS DE CÁTIA CASTILHO SIMON | PROJETO 8M

 

fotografia do arquivo pessoal da autora 

8M (*)


Mulheres não apenas em março. 
Mulheres em janeiro, fevereiro, maio.
Mulheres a rodo, sem rodeios nem receios.
Mulheres quem somos, quem queremos.
Mulheres que adoramos.
Mulheres de luta, de luto, de foto, de fato.
Mulheres reais, fantasias, eróticas, utópicas.
Mulheres de verdade, identidade, realidade.
"Dias mulheres virão", 
mulheres verão,
pra crer, pra valer!
(Nic Cardeal)

Mergulhe nos poemas incríveis de CÁTIA CASTILHO SIMON, do livro NÃO HÁ OÁSIS NO DESERTO:

capa do livro Não há oásis no deserto 


AS CINCO MARIAS EM TRÊS ATOS

I
as cinco marias
era uma vez 
a primeira ninguém lembrava 
a segunda jogada para baixo 
a terceira alçara voo
a quarta cruzara as pernas
e a quinta
de novo seria a primeira 

II
as cinco marias
não foram felizes para sempre 
primeiro passava uma
depois passavam duas
para passarem três 
tinha que ter muita destreza 
mas quatro e cinco 
eram agulhas
no palheiro

III
as cinco perdidas marias
esquecidas em uma gaveta
almofadinhas sebosas
por onde escorria o tempo
em minúsculos grãos de areia 

(pp. 28-29)

imagem do Pinterest 
-*- 


MINHA BIBLIOTECA

vez ou outra
um livro
retorna
em capítulos, 
em trechos interrompidos
em paisagens
ou diálogos 
entremeados
às vezes 
por algum chimarrão
(chego a sentir 
a quentura
da cuia na mão)

páginas aquareladas
de uma escrita
escavada 
combinação 
de letras,
números e
figuras geométricas 

o meu próprio 
jogo da amarelinha
involuntário 

guardo amores
na cabeceira
da memória 

(pp. 39-40)

imagem do Pinterest 
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CADÊ A TUA TEXTURA, MÃE?

vesti a tua roupa, mãe 
mas não me vesti de ti
não há roupa que
não há pano
não há fio que teça
de volta

vesti a tua roupa, mãe 
quis me vestir de ti
não serviu na altura
não serviu na largura
não tinha a tua textura

vesti a tua roupa, mãe 
mas nela não havia calor
nem suor
nem colo
era apenas um tecido morto
que gritava a tua ausência 

(p. 50)

imagem do Pinterest 
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TEMPO

o tempo é água 
escorre rebelde
saltita desenfreado
aprisionado, transborda
em "pedra dura, tanto bate até que fura"
eu, peneira

(p. 58)

imagem do Pinterest 
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DO FIXO PARA O ERRANTE

não gosto
de linhas retas
prefiro
ziguezagues
e cabras-cegas

(p. 74)

imagem do Pinterest 
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DEVIRES

também já fui ar,
brisa leve
tempestade de areia

labaredas e fumaça 
estalos de madeira queimada

águas em cursos de rios
e cavernas íntimas 
escassez e gota

por vezes
alfazema - respingos lilases,
carinhos de Iemanjá

(p. 81)

imagem do Pinterest 
-*-

(*) 8M: 8 de Março = Dia Internacional da Mulher: Projeto 'Homenagem a mulheres escritoras/artistas', iniciado em março/2021, por Nic Cardeal.


fotografia do arquivo pessoal da autora 


CÁTIA CASTILHO SIMON é mestre em literatura brasileira e doutora em estudos da literatura brasileira, portuguesa e luso-africana, pela UFRGS. Recebeu o prêmio Vianna Moog, em 2014, conquistando o 1º lugar na categoria ensaio – UBE/RJ, pelo livro Labirintos da realidade – diálogo de Clarice Lispector com Machado de Assis. Publicou contos, ensaios e poesias em diversas coletâneas e periódicos. 
É co-organizadora e co-apresentadora do Digressões Clariceanas, veiculado pela Território das Artes, desde 2021. Integra o Mulherio das Letras/RS.

Livros publicados: Labirintos da realidade - diálogo de Clarice Lispector com Machado de Assis (ensaio, 2014); Por que ler Clarice Lispector (Território das Artes, 2017); Rastro de estrelas (contos, Território das Artes, 2022); Não há oásis no deserto (poesia, Coleção IV Mulherio das Letras, Venas Abiertas, 2023).

Participação em antologias e coletâneas: Psicografadas (várias autoras, e-book, Território das Artes, 2020 e 2021); Todas escrevemos (várias autoras, Fora da asa, e-book 2020, livro físico 2021); Enluaradas I, II e III (poesia, org. Marta Cortezão e Patrícia Cacau); Mulherio das Letras Portugal (org. Adriana Mayrinck, Infinita, 2021 2 2022): Identidades (vários autores, org. Karine Oliveira, Venas Abiertas, 2021); O mundo ao redor (vários autores, org. Cíntia Moscovich, Class, 2021); Arca da desconstrução (coorganizadora, Território das Artes, 2021); Arca de desejos (coorganizadora, Território das Artes,  2022); entre outras.







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