A POESIA PULSANTE DE LIANA TIMM | PROJETO 8M

 

fotografia do arquivo pessoal da autora 

8M (*)

Mulheres não apenas em março. 

Mulheres em janeiro, fevereiro, maio.

Mulheres a rodo, sem rodeios nem receios.

Mulheres quem somos, quem queremos.

Mulheres que adoramos.

Mulheres de luta, de luto, de foto, de fato.

Mulheres reais, fantasias, eróticas, utópicas.

Mulheres de verdade, identidade, realidade.

"Dias mulheres virão", 

mulheres verão,

pra crer, pra valer!

(Nic Cardeal)

Mergulhe na poesia pulsante de LIANA TIMM:

MEMÓRIA 

quero a vocação da imagem

na sensação dos avessos

seu objeto primeiro 

existência e multidão 

quero

o transitivo dos contatos

diferenças

reinvenções

mala de objetos crescente

desordenado baú de entulhos

requenta nas transversais do dentro

herança inesgotável 

urge perfurar a superfície 

cambiar ar e luz

deslocar

expor às intempéries da emoção 

o armazém das memórias 

(* do livro Água passante e da antologia A dimensão da palavra, p. 65)

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EFÊMERA 

O amor é uma dor profunda. Amar é temer

Temo

Por nós. Nesse momento abrasador.

A sensação penetra fundo na alma.

Alma sim

Nenhuma expressão modernosa diz tão bem

aquilo que não sabemos.

E roça como um choque as paredes.

Mas não se morre. Se ultrapassa.

Gosto de ultrapassar, pois do alto

entendo mais

as borboletas.

(* do livro Armazém de memórias e da antologia 

A dimensão da palavra, p. 105)

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CONSTELAÇÃO 

soltar o pensamento 

no lago visto da janela 

astronomia atrevida

investiga até os fundos 

do abandono

no meu encalço 

estrelas e guias

(* do livro Os potes da sede e da antologia A dimensão da palavra, p. 148)

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O QUE É 

o passado não é mais útil 

o presente deixa de ser

meu passado não dura

é absoluto

(* do livro Outros de mim e da antologia A dimensão da palavra, p. 190)

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EM MOVIMENTO 

a vida se esgota num querer

- falar sobre isto não gosto

impaciente sussurro

o que dura enquanto dura

como flor de estufa e clonagem

esqueço como mola o repouso

- sou um coração desconfortável 

(* do livro À beira do ar e da antologia A dimensão da palavra, p. 219)

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REPETIÇÃO 

era uma vez

eram duas

e três 

paro de contar

que o infinito é próximo 

e existe

(* do livro Extravios incandescentes e da antologia A dimensão da palavra, p. 289)

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CONSISTÊNCIA 

Grito ouvido

junto ao canteiro das flores

O plantio é sempre fácil 

difícil é o nível da regagem

(* do livro Todos os feiticeiros e da antologia A dimensão da palavra, p. 324)

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CONTRADITÓRIOS

meu retrato mais autêntico é a palavra 

escrita

navega em céu de vontades e recortes

deduzo na umidade a pulsação das origens

saltando e recuando ambivalente

ancorada num banco de imprecisões

duelo com a rapidez

e meu embaraço se impõe 

aos sentidos do sensível 

exposta além do possível 

moro no imprevisível dos afetos

(* do livro Incessante e da antologia A dimensão da palavra, p. 389)

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LAISSEZ FAIRE

a poesia é capaz de ser no ser

partícula e lucidez

sintonia de som e vento

acima de qualquer razão 

a poesia é capaz de ser no ser

a revolução 

de um mistério que conta

(* do livro Essencial e da antologia A dimensão da palavra, p. 420)

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ADIVINHAÇÃO 

não sou vidente

este ser que abre janelas no tempo

e desmantela o imaginário 

idealizo logo pela manhã 

meu destino e propósito 

preciso dormir

deixar essa insônia do lado de fora da cama

com as decepções 

dor profunda 

rompe lado a lado o coração 

artérias veias válvulas 

não sabem mais o que fazer desse

que jorra e espirra 

desbotando

das adivinhações sei menos

sei menos a cada dia

e muito muito menos

recuperar que seja

uma diminuta alegria

(* do livro Paisagens do interior e da antologia A dimensão da palavra, p. 449)

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DECLARAÇÃO 

escrevo de um jeito

diria só meu

numa rebeldia contida

carimbada de sentidos

e cancelamentos

mas tudo menos isso

revisões e adversidades

acentos e vírgulas 

                                   exclamações!

aspas onde não cabem

travessões inoportunos 

e pontos finais

colocados no meio de uma história 

quero tudo ao vivo

quero a cor mesmo

desbotada do arco-íris 

de letra em letra

vou compondo

interrogações 

(* do livro Extravagante, p. 13)

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(*) 8M: 8 de Março = Dia Internacional da Mulher: Projeto 'Homenagem a mulheres escritoras/artistas', iniciado em março/2021, por Nic Cardeal.

fotografia do arquivo pessoal da autora 

LIANA TIMM é natural de Serafina Corrêa/RS e vive em Porto Alegre/RS. É artista multimídia, arquiteta, poeta e designer. Sua produção mescla manualidade e tecnologia, conceito e materialidade, história e contemporaneidade. Transita pelas artes visuais, pela literatura, pelas artes cênicas e pela música. 

Foi professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio Grande do Sul de 1976 a 1996. Especialista em Arquitetura Habitacional e Mestre em Educação pela UFRGS. 

Realizou 76 exposições individuais, sendo as mais importantes: Pinacoteca do Estado de São Paulo/SP; Memorial da América Latina, SãoPaulo/SP; Centro Cultural Correios e Telégrafos, Rio de Janeiro/RJ;  Museu Brasileiro da Escultura, São Paulo/SP; Fundação Cultural do Distrito Federal, Brasília/DF; Museu da Gravura de Curitiba/PR; Museu de Arte do Rio Grande do Sul, Porto Alegre/RS; além de 35 shows musicais, entre eles, em Porto Alegre e no interior do Rio Grande do Sul; em Montevideo, Uruguai; em Miami, EUA; em Toulx Sainte Croix; França, e em Culiacán, México. 

Recebeu 17 prêmios nas diversas áreas de atuação.

Atualmente é presidente da Associação Gaúcha de Escritores/AGES. Desenvolve suas produções culturais e projetos editorias através da Território das Artes.

Já publicou mais de 66 livros, sendo 19 individuais de poesia, entre eles: Amenas inferências (Porto Alegre: Movimento, 1986); Estados empíricos (Porto Alegre: Timm & Timm Editora, 1989); Misturas principais, Porto Alegre: Timm & Timm Editora, 1992); Arte que te quero arte (Porto Alegre: Coleção, SMC, 1992); Trilogia do indizível (Porto Alegre: Território das Artes, 1997); Água passante (Porto Alegre: Território das Artes, 2009); Armazém de memórias (Porto Alegre: Território das Artes, 2010); Os potes da sede (Porto Alegre: Território das Artes, 2011); Outro(s) de mim (Porto Alegre: Território das Artes, 2012); À beira do ar (Porto Alegre: Território das Artes, 2013); Extravios incandescentes (Porto Alegre: Território das Artes, 2014);  Todos feiticeiros (Porto Alegre: Território das Artes, 2015); Incessante (Porto Alegre: Território das Artes, 2016); Essencial (Porto Alegre: Território das Artes, 2017); La invención del cuerpo (Porto Alegre: Território das Artes, 2017); Paisagens do interior (Porto Alegre: Território das Artes, 2018); O íntimo das horas (Porto Alegre: Território das Artes, 2019/2020); A dimensão da palavra: 35 anos de poesia (Porto Alegre: Território das Artes, 2021); Extravagante (Porto Alegre: Território das Artes, 2023).