Uma colher de chá pra ele - Alberto Bresciani
| uma colher de chá pra ele - 01 | Seis poemas insubordinados e inéditos - por Alberto Bresciani SÍTIO Já havia mortes traçadas nas tatuagens de rapazes e moças, silêncio opressivo sob a crosta de muita fala, muito ruído, toda zombaria e dança em cada praça. E nada era engano, ilusão. Não. Era o desastre, discreto, chegando, acumulado nas balas de festim. Como se Deus enfim assumisse seus erros, a deformada geometria. E assim começou o cerco, a noite infiltrada nas tardes, a gravidade insuportável para ombros frágeis, enterrando o que ria e se comemorava, um escuro invisível, chumbo embora. Os videntes anunciando em desespero o rompimento dos muros, dos diques, a fome, a sede, o desamor, epidemias. Na cidade sitiada, esse homem é o louco das ruas, perdido, anda enfiado em pedras, coberto de papel, colecionando caixas de remédio, vazias como um sorriso póstumo. Passa o tempo costurando, umas às outras, as asas dos ins