Nossa Senhora de um cacho só - crônica de Ivy Menon
Pietà - Michelangelo Nossa Senhora de um cacho só O dia da primeira comunhão chegara para minha irmã, mas ela estava triste e envergonhada. A mãe costurara à mão um vestidinho branco de amorim, quarado no sol e passado com o ferro de brasa, para combinar com a coroa de florezinhas de plástico presas em uma tiara de arame encapado com crepom. Ela usava um velho par de tênis azul, nos pés. Há muito tinha notado a diferença entre as suas roupas e as das amigas. Não estava contrariada com aquilo. Acostumara-se. Estava infeliz porque, enquanto fazia o catecismo, aconteceu de lhe sair um furúnculo na cabeça. No couro cabeludo, bem no meio do cocuruto. Do tamanho de um ovo de galinha. Sofreu como gato no saco. Muito tempo de dor, além de ter que suportar o deboche que pendia dos dentes cariados das crianças de sua rua, a rirem e a apontarem seu imenso tumor-unicórnio . Furúnculo tem tempo certo para ser espremido. A mãe esperou amadurecer. Apontar o bico para, então, ape