Uma colher de chá pra ele - Geraldo Lavigne
| uma colher de chá pra ele - 02| - Seis poemas tocantes do poeta baiano Geraldo Lavigne - meu caso é grave, doutor? comecei sofrendo de poesia aguda. não tratei. desenvolvi sensibilidade às palavras, sofri de conceitos e verbetes, senti alívio usando metáforas e outras figuras de linguagem. eu inventava realidades no labirinto do lirismo. fiz alguns exames, guardei papéis nos bolsos, portei caneta e lancei-me ao acaso. estava na poesia pelo escapismo e expelia versos rabiscados. os laudos foram claros e, depois do estadiamento, recebi o diagnóstico : sofro de poesia crônica. vejo a curva da mobília repetir o universo, um palhaço riscado dançando nas rachaduras da cerâmica e um pássaro exibir seu voo estático. apanho água de lago na pia e ouço cachoeiras no chuveiro. dissocio corpo, mente e alma. enxergo as moléculas do ar e o espaço que ocupam. capto a vida das coisas inanimadas e reanimo a morte dos seres vivos. toco a força dos trabalhos, não a coisa que trab