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Mostrando postagens com o rótulo Literatura índigena

UniVerso de Mulheres 12 - A voz da selva na poesia de Sandrinha Barbosa, por Valeska Brinkmann

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UniVerso de Mulheres 12                                                                                                                             Foto  © Luciana Frazão   A voz da selva na poesia de Sandrinha Barbosa, por Valeska Brinkmann Eu selvagem   selvagem como as pedras não polidas e intocadas selvagem como o fogo o sol do meio-dia e as grandes tempestades selvagem como os terremotos maremotos secas e enchentes selvagem como a pororoca amazônica que em sua passagem arrasta o tudo e o todo selvagem como a febre alta como a ferrada de arraia e o choque do puraquê selvagem como a noite sem fim sem luz e sem som repleta de pesadelos selvagem assim eu sou assim estou seria uma certeza ou auto-defesa? não sei explicar mas por alguns instantes ao deixar a selva encontro vocês: amigos fiéis que tanto falam, brincam e sorriem em seus olhos quanta esperança firmeza e carinho traduzidos a mim selvagem em jeito de luta persistência e não desistência o oxigênio a segurança a brisa morna qu

UniVerso de mulheres 10 - A crônica urbana e poética de Fernanda Vieira, por Valeska Brinkmann

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UniVerso de Mulheres 10                                                                       A crônica urbana e poética de Fernanda Vieira , por Valeska Brinkmann Nada mais importa   Que me importa o que eles falam? Que me importa o que eles dizem? Deslizo meu corpo na fluidez da minha liberdade de mulher que sabe, sabe que nada mais importa. Cantarolo uma música de que não sei a letra. Eu que nem sei como pavimentei esse caminho pelo qual vou me escorregando. Vou me abrindo na confiança de ser sempre nova amanhã. E meus olhos recebem desejosos seja lá o que tocarem. Escancarei as janelas da minha alma porque perdi o medo de me machucar no escuro. Tão perto de mim que pouca coisa importa. Esbarro nas coisas e derrubo pedaços de mim por aí, descuidada. Hoje eu me abri para o infinito. E me invadiu a consciência de tudo tão violentamente que meus poros transbordam e transpiram. Transformam. E essas palavras todas que eu não vou não sei não quero não preciso dizer vão te encontrar de al

UniVerso de mulheres 09 - Três Poemas de Rayen Kvyeh - traduzidos por Valeska Brinkmann

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| Coluna 09 | Três Poemas de Rayen Kvyeh  - tradução Valeska Brinkmann Tempo da lua fria     * Inesgotável tempestade de granizo do wekufe chicoteia as araucárias sem piedade expulsa os choroyes** de seus ninhos bandos tempestuosos enlouquecidos .viajam pelo espaço No altar  o tambor do pajé ,soa na noite sem lua lá ao alto os choroyes se detêm   : e lançam o fatídico presságio chegarão os estrangeiros .e um tremor rasgará a terra   wekufe – força negativa que tenta destruir o equilíbrio natural * Choroy – espécie de papagaio típico dos boques do sul do Chile ** Tiempo de luna fría Granizada inagotable del wekufe azota sin piedad las araucarias desaloja de sus nidos los choroyes enloquecidas bandadas tormentosas .recorren el espacio En el rewe el kulxug de la machi suena .en la noche sin luna Allá en lo alto los choroyes se detienen :y lanzan su fatídico presagio llegarán los extranjeros .y un temblor partirá la tierra   §§§§§                                                            

UniVerso de Mulheres 06 -Três poemas de Jamille Anahata, por Valeska Brinkmann

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  Três poemas de Jamille Anahata, por Valeska Brinkman        não sou só  meus joelhos ralados  ou a cicatriz na minha barriga sou também canga estendida  em dias ensolarados,  sorriso bordô, dança e cantiga *** toda vez que um de nós sem aldeia fala se reconhece no espelho  tem coragem de usar a palavra-tabu  sinto o fortalecimento  na pele no peito no sangue o plano deles era nos arrancar   nos engolir e integrar  apagar nossa memória mas nenhum vínculo é  tão forte quanto o dos encantados a ancestralidade  nos guia de volta *** teu beijo me acordou de um sonho as estrelas eram nossas cúmplices e teus cabelos com cheiro de carambola  me traziam de volta sempre que eu ia longe sol e lua desceram do céu e  nos observaram dançar e se embrenhar  entre infinitas raízes retorcidas teu beijo me acordou e ainda era sonho Jamille Anahata é manauara, ativista indígena, poeta e pesquisadora de Re

UniVerso de Mulheres 05 - Um Poema Inédito de Julie Dorrico, por Valeska Brinkmann

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Um Poema Inédito de Julie Dorrico, por Valeska Brinkmann                                                                               Foto©  Inaê Guion          O boto                                                                                            Para Márcia Kambeba Na ponta da canoa O canto ecoa Lá vem o boto! Da proa da canoa Dá pra ver o boto Brincando com o vô Lá vem o boto No pé do Apeú Atrás do canto! O boto gosta de canto! Um encantado faz o quê? Canta! Por isso ele veio! Por isso ele vem! Às vezes homem Às vezes criança Às vezes mulher Da ponta da canoa Quem ele é? Ô boto bonito Me leva pra ver o teu mundo? No balanço do maracá O canto ecoa Ecoa o canto! Julie Dorrico , nasceu em Guajará-Mirim (Rondônia) é descendente do povo Macuxi . Doutoranda em Letras na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PU