Postagens

Mostrando postagens com o rótulo Maria Amélia Elói

UM CONTO DE MARIA AMÉLIA ELÓI | Projeto 8M

Imagem
  fotografia do arquivo pessoal da autora   8M (*) Mulheres não apenas em março.  Mulheres em janeiro, fevereiro, maio. Mulheres a rodo, sem rodeios nem receios. Mulheres quem somos, quem queremos. Mulheres que adoramos. Mulheres de luta, de luto, de foto, de fato. Mulheres reais, fantasias, eróticas, utópicas. Mulheres de verdade, identidade, realidade. Dias mulheres virão,  mulheres verão, pra crer, pra valer! (Nic Cardeal) Hoje, homenageamos a escritora MARIA AMÉLIA ELÓI , com seu conto inédito: ORGULHO Desta feita aflorou a necessidade. A mulher sentiu uma precisão genuína de romper. A angústia formigava sem parar, qual espinho de pequi engolido arranhando o céu do peito. Ela não tinha com quem dividir. Pensou em dizer ao padre, de joelhos no confessionário, mas não conseguiu. A reza não fluía nem quando ela se deitava à noite, sozinha com a imagem da Virgem Desatadora à cabeceira da cama. Quem sabe se escrevesse? Mãe do Céu, me ajude. Desculpe a chateação, mas sou devota e crei

MulherArte Resenhas 08 | "O quarto canal", de Clara Arreguy: um misto de alívio e suplício, utopia e distopia; um tributo à educação

Imagem
O quarto canal , de Clara Arreguy:  um misto de alívio e suplício, utopia e distopia;  um tributo à educação - Por Maria Amélia Elói Quando Clara Arreguy anunciou que lançaria romance novo, intitulado O quarto canal , versão bilíngue Português-Inglês, por sua própria editora, a Outubro Edições (outubroedicoes.com.br), logo fiquei interessada em conhecer a história. Imaginei que encontraria naquele universo narrativo algum tipo de consolo anestésico ou ensinamento cirúrgico. Isso porque, em 2020, em plena pandemia, vim finalmente a experimentar o tal tratamento de canal, não só uma, mas duas vezes, após episódios de dor de dente — eu, que até então só conhecia as habituais limpezas, pequenas obturações, a plaquinha noturna de acrílico e os aparelhos ortodônticos da infância e da juventude. Quem me deu o livro foi a escritora Flávia Ribas, numa brincadeira de amigo oculto do Instituto Casa de Autores (casadeautores.com.br), em dezembro, e só agora tive a chance de me deitar na cadeira do

Um conto de Maria Amélia Elói | "Fécula"

Imagem
  Luis Gregório por Pixabay . Um conto de Maria Amélia Elói Fécula Você precisa dar uma sova bem dada. Sem dó. Amassar muito mesmo, com jeito, com força, até desmanchar cada caroço. O pão de queijo é um milagre — ela costumava dizer, sorrindo, com as mãos melecadas. Não o pão de queijo que se compra na padaria, no supermercado ou na lanchonete. Não o que já aparece enrolado, congelado, unidades desgrudáveis (às vezes não tão fáceis de separar), com marca mineira no pacote plástico, pronto pra ir ao forno. Nem o que chega assado às três e quarenta da tarde, num pacote de papel pardo, pelo motociclista do aplicativo que usa máscara bamba sob o nariz. Nem muito menos o que se recebe à meia-noite, pra aproveitar o seu ubereatsdescontão , entregue pela ciclista grávida quase rebentando, sob chuva despejada de balde. Não esse pronto que lhe oferecem a todo o tempo, em grande escala, instantâneo. Esse tipo de pão de quê pode saciar a ânsia calórico-proteica do seu marido, ser calmante para

Maria Amélia Elói - Poeminha e conto

Imagem
Fotografia por Marcelo Sena Flor-essência Quero mesmo é florescer. Até toda flores ser. (Maria Amélia Elói) *** Veludo   ( por Maria Amélia Elói ) Programou-se para receber a segunda visita no quinze de abril. Desde então, esperou precavidinha por dezessete dias, trazendo sempre um protetor longo, almofadado e cheio de abas – matéria estranha que incomodava a menina e absorvia a espontaneidade de seus movimentos. Com a prolonga da espera, a pele dos fundilhos foi ficando áspera e descamada, chegando a assar. Então, Janaína simplesmente desistiu do aguardo e parou de usar o monstrengo. “Viva. Estou livre.” Ficou feliz, porque não via vantagem nenhuma no tal presente mensal encarnado. Leu sobre mocinhas irregulares, que só sabiam falhar e falhar. “Oba. Deve ser o meu caso. Acho que agora vai demorar a vir de novo.” Não queria ser chamada de pré, nem muito menos de adola, adolescente. Tudo ia muito bem, aquela infância confortável de novo. Janaína brinca

Um Conto - por Maria Amélia Elói

Imagem
Lasar Segall Fluxo Por Maria Amélia Elói Eu precisava conversar com alguém hoje, com qualquer pessoa. Pode ser com você, moça? Que bom que você se sentou aqui do meu lado. Senão eu era até capaz de ficar falando sozinha. Prefere que eu te chame de senhora? Não, né? Você parece muito mais jovem que eu. Não desvie o olhar, por favor. Você pode me ouvir um pouco? Ah, obrigada. Minha fala não vai incomodar. Não sou de pedir dinheiro nem comida, nem fico vendendo balinha nem saco de lixo nem pano de chão nem goiaba nem biscoito de vento nem pipoca de isopor. Tudo bem? Você pega este ônibus de vez em quando? Eu não. É muito raro. Só estou nesta linha porque acabei de sair de uma consulta no Hospital de Base. Hoje finalmente fui atendida, acredita? Você trabalha na Asa Sul? Ah, sim. Então, você vai fazer a caridade de guardar seu celular na bolsa e me escutar um bocadinho? Graças a Deus. Tem hora que a gente precisa falar com os outros, né? Qual é mesmo a sua graça? Ah, nome b