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Mostrando postagens com o rótulo Marilia Kubota

A POESIA MARCANTE DE MARÍLIA KUBOTA | PROJETO 8M

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fotografia do arquivo pessoal da autora  8M (*) Mulheres não apenas em março.  Mulheres em janeiro, fevereiro, maio. Mulheres a rodo, sem rodeios nem receios. Mulheres quem somos, quem queremos. Mulheres que adoramos. Mulheres de luta, de luto, de foto, de fato. Mulheres reais, fantasias, eróticas, utópicas. Mulheres de verdade, identidade, realidade. "Dias mulheres virão",  mulheres verão, pra crer, pra valer! (Nic Cardeal) Não deixe de ler a poesia  marcante de MARILIA KUBOTA : ESTE SILÊNCIO este silêncio é pra ser ouvido como quem ouve um velho amigo como quem põe sentido e repercute o menor ruído este silêncio é pra ser ouvido contra o motor do avião e placas de Proibido pra ser ouvido como quem anda pra trás e acha divertido viver por um triz este silêncio é pra ser cortado por um pé de vento e súbito cair abatido. (* poema do livro Esperando as Bárbaras ) capa do livro Esperando as Bárbaras  -*- CORES preto preto preto. são as unhas sujas na banca de frutas. branco bran

De sacadas e varandas | Marilia Kubota

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  MOSAICO Coluna 28    –   Crônica DE SACADAS E VARANDAS por Marília Kubota Moro num pequeno apartamento de um quarto, no centro de Curitiba. Há uma sacada para a rua, para a qual, há alguns meses, arrastei a mesa de trabalho. Assim posso receber mais luz, à tarde, e ver o sol se pôr. Dali, vejo apenas dois vasos da área comum de meu condomínio, as lixeiras, os prédios vizinhos e um trecho da rua.  Na casa de meu pai, em Paranaguá, ao contrário, há uma grande sacada dando para a rua. Lá dá para ver uma praça onde está instalada a Biblioteca Pública Municipal, um estacionamento,  várias casas, muitos prédios. Estou tergiversando sobre vistas de sacadas. Gostaria de falar sobre a vizinhança.   Meu  vizinho em Curitiba tem gaiolas com  pássaros que cantam durante quase o dia inteiro. No início da pandemia, enquanto eu cumpria o isolamento social restrito, eram eles que me alegravam. O vizinho da casa de meu pai também cria pássaros. E plantas. Da janela de meu quarto, dá para ver um mamoe

Clarice em vários espectros | Marilia Kubota

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  MOSAICO Coluna 25    –   Crônica CLARICE EM VÁRIOS ESPECTROS por Marília Kubota Neste dia 10 de dezembro celebram-se os cem anos de Clarice Lispector. Sem formação acadêmica em sua obra, não tenho condições de analisar a obra dela.  Vou dar pitacos  como leitora apaixonada.   Aos dez anos a li pela primeira vez.  Era a crônica "O ato gratuito", publicada numa antologia escolar. Eu ouvia a professora ler, intrigada. Por que alguém consideraria um prazer  beber água em  fonte pública ?  Eu nada conhecia de poesia. Nunca tinha ouvido falar de Jean Paul Sartre ou existencialismo. O nome da autora ficou gravado em minha mente. Ainda, como leitora iniciante, lembro dela como tradutora do romance "O retrato de Dorian Gray", de Oscar Wilde.  Era um livro de bolso da Ediouro, que eu comprava pelo correio. Não havia livrarias em minha cidade natal. Eu só podia ler emprestando livros da biblioteca de meu tio, quando ia visitar a avó, em São Paulo ou comprando livros pelo cor

Tua ikebana tem flor de banana | Marilia Kubota

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  MOSAICO Coluna 24    –   Crônica TUA IKEBANA TEM FLOR DE BANANA por Marília Kubota Escrevi, há tempos, um poema que entrelaçava ikebana e flor-de-banana. Na época, não sabia que ikebanas poderiam ser arranjadas com flores de banana. Quem me ensinou isto foi a artista e professora Élia Kitamura. Ouvi o nome  dela como uma famosa mestra em Curitiba durante anos. Eu a entrevistei por telefone uma vez, para que explicasse sobre o estilo de sua escola, a Ohara Ryu. Élia explicou que no Japão há mais de 400 escolas/estilos de ikebana. No Brasil, só conhecemos quatro.  Para a Ohara Ryu, as flores e plantas usadas no arranjo devem ser o mais naturais possível, evitando amarrações de galhos e outros contorcionismos.  Também se deve usar flores e plantas da região em que o aluno vive. A mestra aprendeu sua arte no Japão, com Teiko Itoh. Quando Teika veio ao Brasil  ficou fascinada com a espécie nativa brasileira esponja de ouro. Ciou muitas composições com a flor.  Só fui conhecera Élia pessoa

Casamentos concretos e reais | Marilia Kubota

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  MOSAICO Coluna 23    –   Crônica CASAMENTOS CONCRETOS E REAIS por Marília Kubota Na semana que passou, um site de Curitiba publicou a notícia (e já retirou do ar) de um casamento que seria realizado na Ilha do Mel, com 300 convidados. O evento seria celebrado na ascensão do covid-19 no Paraná. Esta celebração lembrou um outro casamento, realizado na Bahia, em que a cantora Preta Gil se contaminou, logo no início da pandemia no Brasil. Se os ricos se contaminam, não há problemas. Dispõem dos melhores tratamentos em hospitais privados. O problema é o rastro de contaminação que deixam no local. Sem UTI e sem equipamentos adequados, se contaminados, os pescadores e suas famílias teriam que ser transportados às pressas para hospitais de Paranaguá. Para os noivos, só há o momento em que se equiparão ao Príncipe Harry e Meghan Markle, ou, para uma comparação com cor local, à Maria Victória Borgheti Barros e Diego da Silva Campos (quem?). Estes, em julho de 2017, para celebrar o sonho de

Rituais de morte | Marilia Kubota

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  MOSAICO Coluna 22    –   Crônica RITUAIS DE MORTE por Marília Kubota Este ano fui ao cemitério no dia 31 de outubro, para evitar aglomeração. Fui levar flores, acender velas e incenso no túmulo da família. Ali estão sepultados duas avós – mãe de meu pai e madrasta, meu avô e minha mãe. Este é o ritual que costumava fazer. Visitar túmulos de antepassados é compromisso obrigatório, quando se vai visitar parentes. Todos os anos eu levava a mãe para visitar o túmulo da mãe dela, no cemitério do Morumbi, em São Paulo. A visita consistia em limpar e lavar o túmulo, renovar as flores, acender velas e fazer uma oração. No Dia de Finados, até há pouco tempo, era comum encontrar pratos de comida diante de lápides de famílias asiáticas de origem japonesa. A oferenda de refeições aos mortos em cemitérios é uma tradição ancestral. E scrituras Budistas contam que, um dia, o monge Mokuren viu a mãe morta sofrendo de fome nas profundezas do inferno. A oferenda de uma tigela de arroz a ajudou a alivi

Santiago insurgente | Marilia Kubota

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    MOSAICO Coluna 21    –   Crônica Santiago Insurgente por Marília Kubota No dia 17 de outubro de 2019, cheguei a Santiago para participar do 7º Encontro Internacional de Editoras Cartoneras. O plano era acompanhar os três dias do evento e conhecer a capital chilena e arredores. Amigos de São Paulo já estavam lá. Na noite deste dia aconteceria a abertura, na Biblioteca Nacional de Santiago. Ao embarcar no metrô, um amigo falou sobre o movimento pula-catraca, realizado por estudantes, em protesto contra o aumento de tarifas. Na estação, no vagão e nas ruas, vi rostos melancólicos de chilenos, mestiços e com traços indígenas, contrastados ao rosto sorridente do presidente e empresário bilionário Sebastián Piñera. Na madrugada de 18 para 19 de outubro, Piñera decretou Estado de Emergência. Estações de metrô haviam sido queimadas pelos manifestantes. Ver os canais CNN Chile e Telesur assustava. Parecia haver incêndios e saques em toda a cidade. Mas, era possível sair nas ruas. No p

O eclipse | Marilia Kubota

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MOSAICO Coluna 20    –   Conto O eclipse por Marília Kubota Não gostei quando ela marcou no Parque Alvorada. Quem marca um encontro num parque de diversões fechado ? As famílias curitibanas se divertiam no Passeio, aproveitando o domingo de sol. Ela sugeriu: por que não vamos lá curtir o eclipse? Este parque não está fechado pra reformas ?, perguntei. Está, está. Mas todo mundo entra, pra zoar. Fui, com dois pés atrás. Ao entrar pelo portal, lembrei de uma notícia sobre o acidente de uma criança no chapéu voador. Eis porque havia sido fechado. Esbarrei, na entrada, com o vendedor de cachorro-quente. Era dia de faturar. Entraram um anão com gêmeas xipófagas, um magricela engolindo espadas, um bigodudo chicoteando um leão, uma mulher gorila. Não sei de onde vinha tanta gente. Quando a vi, entrei em choque. Diante dela, o sol se esconderia detrás da lua além dos sete minutos previstos para o eclipse. Perguntei, por que não mostra toda esta formosura nas fotos ? Ela ficou constrangida:

O feminismo que vem da Ásia | Marilia Kubota

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MOSAICO Coluna 22    –   Crônica O feminismo que vem da Ásia por Marília Kubota O feminismo asiático não é fenômeno recente. Desde fins de século 19 temos notícia de mulheres que lutam por libertar-se da sociedade patriarcal na Ásia. A chinesa Qiu Jin e as japonesas Kanno Sugako e Fumiko Kaneko são algumas precursoras. Mas há muitas, mulheres coreanas, indianas, árabes, brasileiras, americanas e europeias que unem suas vozes na defesa dos direitos das mulheres de etnias amarelas, marrons e brancas da Ásia.   Na história do feminismo asiático temos poetas, como a chinesa Qiu Jin, que lutou contra a famigerada prática de pés de lótus, a tradição de amarrar pés de mulheres para reduzi-los.  Qiu Jin e as japonesas  Kanno Sugako e Fumiko Kaneko têm em comum o fato de ter despertado o ódio dos governos locais., terem sido presas e torturadas.  Qiu Jin  viveu de 1875 a 1907. Um  casamento extremamente infeliz  a fez gerar novas ideias consideradas subversivas. Logo  se tornaria membro de um

Cuide-se ! | Marilia Kubota

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MOSAICO Coluna 19    –   Crônica Cuide-se! por Marília Kubota Cuide-se! É assim que nos despedimos, durante este tempo de isolamento social. A recomendação é para continuar com o isolamento. Quando necessário sair de casa, usar máscara e álcool gel e praticar o distanciamento.  Eu penso que é preciso uma aprendizagem sobre o que significa cuidar-se.  É comum querer cuidar de outros e esquecer-se de cuidar de si. Alimentar-se corretamente, fazer exercícios, cortar o cabelo, pintar as unhas e hidratar a pele é cuidar-se  ? Sem dúvida.  Mas há outros cuidados, que pouco observamos, no afã de nos relacionarmos com o próximo. Vivemos numa cultura que prega: "Cuidar é amar!". E assim nos dedicamos a cuidar de marido, namorado, filhos, pais, avós, cachorros, gatos, plantas, casa, amigos. Não pensamos que precisamos, antes de tudo, cuidar de nós.   E quando temos responsabilidade de cuidar, a tendência é extrapolar os limites. O outro precisa tanto! O sono, a alimentação, a leitura d

Os clarins da banda militar | Marilia Kubota

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MOSAICO Coluna 18    –   Crônica OS CLARINS DA BANDA MILITAR por Marília Kubota Ir ao desfile de 7 de Setembro era um horror. Já pensava em pesadas botinas, a marcha e a chuva. Chovia quando desfilávamos pela escola. Tínhamos que marchar e cantar o Hino da Independência com a chuva gotejando sob o nariz. Um dia, soubemos que o presidente Emilio de Garrastazu Médici viria a Paranaguá. A imaginação de criança acreditou. Vimos uma limusine preta passar rápido diante de nós. O presidente só desfilava dentro da limusine ? Imaginei que iria a tantos desfiles pelo Brasil que nem tinha tempo de apertar nossa mão. Para a criança da época era só um presidente carrancudo. Quando fiquei adolescente, soube que a carranca tinha razão de ser. Como chovia, o uniforme escolar ficava uma lástima. Até era bom, a gente podia voltar chapinhando nas poças d´água. Chegava em casa já enlameada da cabeça aos pés. O melhor momento do desfile era este. A mãe punha a mão na cabeça e mandava tirar a roupa pra lava

Olhos nos olhos | Marilia Kubota

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    MOSAICO Coluna 17    –   Crônica Olhos nos olhos  por Marília Kubota Não olhar nos olhos é sinal de que o interlocutor está mentindo. Pelo menos no Brasil. Já na cultura japonesa, olhar nos olhos é uma afronta. Os japoneses mantêm os olhos baixos, e preferem, espiar, ou espreitar. Seguindo a tradição de olhar pelas frestas, ou olhares furtivos, usa-se reflexos de vidros das janelas, em metrôs e trens. Assim, podem olhar, até com interesse, indiretamente. Um dos escritores japoneses mais celebrados no mundo, o Prêmio Nobel Yasunari Kawabata, em seu romance O país das neves , descreve a miragem oblíqua de uma garota pelo protagonista através das janelas de trem. No século X, as mulheres da corte espiavam detrás de biombos para verem reis e nobres conversando, discutindo e escrevendo relatos oficiais. A elas não era permitido participar destes colóquios. Por trás de biombos, mandavam cartas umas às outras, usando uma língua clandestina: a escrita fonética hiragana. Era vedado a