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Sobre as De(s)morte(s) de Nima Spigolon

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  Há o tempo de festa. Há o tempo de recolhimento, este, em que agora nos abrigamos da doença e da morte. Tempo de adiar encontros e rostos – sorrisos e esgares se perdem no luto das máscaras, sem testemunha. Nunca estivemos tão sós. Às vezes, dói respirar   De outras, Impossível ir tão fundo.   Sorvemos com dificuldade o dia que se arrasta. O ar, após este ano e o outro, se rarefaz. O vácuo é nas emoções, as minhas e as suas, transformando nossos corpos em ausência. O que somos, sem a referência do outro? O silêncio está nos seus poemas, que ora leio como um sussurro. A vida se desmancha em seus versos: é preciso dissolver-se na incerteza e na desesperança para então nos reconstruir. O fim é sempre o começo? como a inviabilidade da fruta desperta a possibilidade da semente. O ser adiado e dolorido de seus versos me desperta, e, como ele, logo torno-me (im)paciente nestas manhãs que se arrastam. En passant , aos poucos, ele e eu reunimos ânimo para desafiar nosso de

Poemas de sobrevivência à quarentena - Nic Cardeal

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  (imagem do Google) QUASE AGORA Depois a gente esfrega o chão recolhe os tapetes ergue os varais com as toalhas e os lençóis corta a grama que já extrapolou os limites abre as persianas e deixa chegar outro sol depois a gente corta o fio afia a navalha estende o cordão entre as paredes pendura as fotografias que sobrarem no baú precisaremos afinar o olhar - o jeito certo de olhar - para não perder nenhuma palavra desviada daqueles olhares estancados da vida como meros ingredientes do nada depois a gente chora enxuga o leite derramado diz o amor engolido a sete chaves corre o risco de perder a hora, o trem, a viagem depois do fim e recolhe cada um dos abraços deixados de lado na cama, na poltrona, na cadeira da cozinha, sobre o armário empilha um por um, dobrados e cobrados, nunca dados, os beijos desejados por ora, resta-nos a máscara o lábio amargo a garganta seca luvas guardando dedos sem anéis em mãos mil vezes lavadas em água, sabão e desespero por ora,