Para não dizer que não falei dos cravos | Um conto de Wuldson Marcelo
Coluna 08 Um conto de Wuldson Marcelo A GAROTA QUE PODIA VOAR Ilustração de Lua Brandão Adele podia voar. Descobriu o poder involuntariamente. Quase involuntariamente. Involuntariamente não é o termo adequado para a situação, pois que ninguém investiga para saber se do dia para a noite terá a possibilidade de ganhar ou perceber um dom especial. Então, pode-se dizer que Adele soube do seu poder quando, em uma manhã gelada de março, sonhou que estava em queda e, para não cair, voou pelo quarto. Ela guardou o segredo de todos. Nem treinava para desenvolver sua habilidade. Mantinha-se afastada de todos, dos curiosos e dos sábios. Alguém poderia vir a desconfiar que podia voar. Nem sua mãe, Laura, nem Maria Isabel, a Pandinha, assim chamada por colecionar qualquer objeto com urso panda, que era sua melhor amiga, tinham conhecimento de que Adele voava. No início, ela voava tão somente pelo quarto, tamanho era seu medo de ser vista e terminar seus dias como atração de espetáculos itineran