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De vez em quando um conto - Lia Sena

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Astuta por Lia Sena Os óculos eram inseparáveis durante o dia; pareciam uma espécie de máscara que a distanciava da mulher que só ela conhecia e blindavam-na diante do mundo. Invariavelmente ia ao banco e pegava fila, torcendo pra ser atendida por ele. Aqueles olhos negros e sérios atrás do balcão a impressionavam de tal forma, que suas pernas tremi am na espera, muitas vezes frustrada, pois outro caixa a atendia. Lançava um último olhar perdido, por trás dos óculos, ao rapaz compenetrado e sério; partia. Num dia melhor, atendida por ele, deixou escapar, junto às contas a serem pagas, um papelzinho com número de celular/whatsapp, na esperança de que ele a adicionasse e entendesse o tímido recado. A roupa não ajudava muito; estava sempre de camisa, fechada por botões, calça social e aqueles óculos sérios. Saltos, nunca durante o dia... Sua esperança foi pro lixo, junto com o papelzinho atirado por ele à lixeira. Enfim, era sexta feira, era lua cheia e o momento de tirar a out

De vez em quando um conto - Lia Sena

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Três As tímidas mãos branquinhas, preparavam vigorosamente as cocadas que à tarde, seriam vendidas no passeio da sua casa. Decerto causava espanto em algumas pessoas, era a esposa de um rico fazendeiro; mal sabiam que aquela era a única maneira de ter um pouquinho de autonomia, já que todo o dinheiro da família, era controlado e gerido pela outra. O filho caçula contou-me certo dia, essa história em detalhes; fiquei surpresa, não pela história que já intuía, depois de ouvir alguns pedaços, segredados pelos cantos, surpreendeu-me, a confidência dele; um homem de noventa anos, falando livremente, de forma tocante e dolorida, sobre a sua mãe; sobre a história de seus pais. Afirmou com toda segurança e forte carga de tristeza, que a mãe era uma pessoa muito doce, amorosa com todos, delicada e certamente, morrera de tristeza. Foi a primeira a morrer, embora fosse a mais nova, das pessoas que compunham tal enredo. O pai, Alfredo, casou-se com Isadora e nela fez os fi