De vez em quando um conto - Lia Sena
Astuta por Lia Sena Os óculos eram inseparáveis durante o dia; pareciam uma espécie de máscara que a distanciava da mulher que só ela conhecia e blindavam-na diante do mundo. Invariavelmente ia ao banco e pegava fila, torcendo pra ser atendida por ele. Aqueles olhos negros e sérios atrás do balcão a impressionavam de tal forma, que suas pernas tremi am na espera, muitas vezes frustrada, pois outro caixa a atendia. Lançava um último olhar perdido, por trás dos óculos, ao rapaz compenetrado e sério; partia. Num dia melhor, atendida por ele, deixou escapar, junto às contas a serem pagas, um papelzinho com número de celular/whatsapp, na esperança de que ele a adicionasse e entendesse o tímido recado. A roupa não ajudava muito; estava sempre de camisa, fechada por botões, calça social e aqueles óculos sérios. Saltos, nunca durante o dia... Sua esperança foi pro lixo, junto com o papelzinho atirado por ele à lixeira. Enfim, era sexta feira, era lua cheia e o momento de tirar a out