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DUAS CRÔNICAS E CINCO POEMAS DE VIOLANTE SARAMAGO MATOS | dos livros "DE MEMÓRIAS NOS FAZEMOS " e "CONVERSAS DE FIM DE RUA"

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fotografia do arquivo pessoal da autora  A PROSA E A POESIA DE  VIOLANTE SARAMAGO MATOS DUAS CRÔNICAS  DO LIVRO "DE MEMÓRIAS NOS FAZEMOS " capa do livro De memórias nos fazemos   LIVROS Sempre houve em nossa casa um escritório, um lugar que era mais ou menos sagrado. Pelo menos para mim que, pequena, me impressionava com aquelas estantes cheias de livros e uma secretária com papéis, onde não estava autorizada a mexer. E pelo chão. Sempre que o meu pai se sentava à secretária, rapidamente o chão em volta se enchia de grandes livros. Uns anos mais tarde, percebi que eram dicionários, enciclopédias, livros de consulta. E havia o silêncio. Pai a trabalhar, a ler, a escrever, à mão ou na máquina, significava silêncio na casa. Se preciso fosse, ou se o trabalho da mãe produzia barulho - as chapas de cobre ou zinco de onde haveriam de sair belíssimas gravuras não se podem fazer em silêncio - fechavam-se então as portas. Aprendi que o trabalho dos outros não deve ser incomodado. Que

CINCO POEMAS DE ANA MARIA OLIVEIRA

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  fotografia da autora por José Lorvão AUSÊNCIA Borbulham portais de luz e movimento Na casa que foi lar na eternidade das galáxias Sons que sustentam um passado Vibrações que fixam à terra o abraço das árvores Colhendo os figos de mel sem contratempo Agora transponho a sombra e o pó O chão levantado as paredes esburacadas ruidosas Enferrujada e decrépita canalização Obras adiadas e dolorosas Um quintal feito de entulho Como um quadro pintado  Anunciador da morte e destruição Saio e acelero pelas ruas estreitas De um bairro em que habitam fantasmas Outrora feito de brincadeiras e entusiasmos Na subida às oliveiras generosas Crianças dançando sob os ramos admirando sustentações Na gritaria agitada num salpico de ilusões Hoje o tempo é impiedoso na prisão em forma de furna E num ápice entre inspirar e expirar Os órgãos cansados anseiam fechar-se sobre si mesmos Comunicam os espectros na vertigem pelo cosmos Mas assola-me sem controlo uma crise de choro e pesar Enquanto as cinzas permanec

NAS MARGENS DO SILÊNCIO | UM CONTO DE MARIA FRATERNA

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  fotografia do arquivo pessoal da autora   UM CONTO DE  MARIA FRATERNA "NAS MARGENS  DO  SILÊNCIO" Há que continuar, não faltará muito para chegar ao refúgio de Blandina, escondida da desumanização que fustiga o mundo. Aconchegada numa gruta, da branda da serra mais alta, ela apanha bocados de sol dourados e de céu de anil, para ao sono sonhar. Nestas margens do silêncio ela procura proteção contra a procissão dos fazedores de tudo e de nada, nos corredores esguios, sem rigor ou conhecimento.  Agora o seu impacto é, junto deste nevão que, lentamente, fustiga sem dor ou piedade, a pressão e os traumas de uma parcela plana de pasto para o gado. Talvez eu mereça um lugar debaixo deste nevão que não pára de cair, e até consiga limpar algumas vísceras da podridão humana que me devoram. Raul procurava-a para lá se refugiar! Era este o seu pensamento, à semelhança do corvo que procura o brilho na Terra, ele queria tudo, até o lume das últimas folhas de samambaias cheias de espo

A POESIA, A PROSA E A PINTURA DE VIOLANTE SARAMAGO MATOS |Projeto 8M

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  (fotografia do arquivo pessoal da autora) 8M Mulheres não apenas em março.  Mulheres em janeiro, fevereiro, maio. Mulheres a rodo, sem rodeios nem receios. Mulheres quem somos, quem queremos. Mulheres que adoramos. Mulheres de luta, de luto, de foto, de fato. Mulheres reais, fantasias, eróticas, utópicas. Mulheres de verdade, identidade, realidade. Dias mulheres virão,  mulheres verão, pra crer, pra valer! (Nic Cardeal) Hoje é dia de mergulhar na arte múltipla e fascinante - na poesia, na prosa e nas aquarelas - de  VIOLANTE SARAMAGO MATOS : (capa do livro Escritas da pandemia com caneta e pincel )  1) AS MINHAS CIDADES As minhas cidades são ruas quase desertas onde os carros são brinquedos de criança  sem crianças para brincar. As minhas cidades são quadrículas de espaços  tristes, estranhas, quase opressivas sem namorados a namorar. As minhas cidades são prédios que fecham gentes tensas, ansiosas, preocupadas onde a alegria custa a entrar. As minhas cidades estão silenciosas mas mo