Um conto - por Henriette Effenberger
Imagem: Arte de Luciane Valença A velha da sacola Todas as segundas-feiras o ritual se repetia. Saía de casa por volta das dez da manhã, carregando aquela cesta de lona listrada que tinha ido à feira por décadas, e seguia, dirigindo o próprio carro, em direção à periferia, onde escolhia, ao acaso, uma família que recebia o presente. Na cesta, um tabuleiro com lasanha ao molho branco, uma peça de lagarto ao molho madeira, uma cumbuca de salada mista com molho de maionese. Separada, em um saquinho desses de supermercado, outra vasilha continha pudim de leite condensado. Na primeira vez, a chegada da velha senhora oferecendo comida surpreendeu os moradores daquele bairro pobre. Na semana seguinte, quando estacionou o carro debaixo da amoreira, as crianças da família presenteada anteriormente já chegaram mais perto do automóvel, sorrindo e tentando descobrir o que havia na sacola. A mulher não correspondeu aos sorrisos, passou por elas e ofereceu o conteúdo a uma moça