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MulherArte Resenhas 17 | "O Olho Esquerdo da Lua" de Jade Luísa - Por Antônio Torres

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  O OLHO ESQUERDO DA LUA (EDITORA PENALUX, 2021) DE JADE LUÍSA - Por Antônio Torres Nos tempos que atravessamos, ler “O olho esquerdo da Lua, de Jade Luísa, é pressentir a respiração indômita e libertadora de Lilith, tida como a mulher primeira; é vislumbrar a autonomia, sensualidade e prazeres no reino de Safo, em Lesbos; é perceber o esplendor erótico na arte de Maria Tereza Horta e de Lourença Lou; é sentir a multiplicidade de mulheres, lutas e caminhos que habitam e formam uma mulher, ao ler Mar Becker; é trilhar uma vereda original entre tudo que já foi dito e o que ainda não se nomeia e se oculta na encastelada hipocrisia. Já tivemos, nos primórdios, sociedades matriarcais, e a lua foi a primeira divindade do que passou a chamar-se humano. “O olho esquerdo da Lua” chega com essa aura de mistério e luz reveladora : de delicadezas, como em Gema (tornar-se pétala), Maré VII (asa no murmúrio das ondas) ou El comienzo del sueño (cata-vento enluarado); : de afirmação e autodescoberta

|coluna 13| Fala Aí - Os Poemas que o Diabo Amassou por Adriana Mayrinck

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                                                            Poesia nua e crua, igual a terra árida do Sertão Nordestino. Poesia latente e desbravada, igual a  semente que rasga o solo em busca de sol. Poesia transbordante e verdadeira, igual a chuva que  cai, após a seca castigante, com trovoadas e relâmpagos. Poesia que transcende a memória,  a história, o tempo, a imagem. Poesia sentida, vivida e pisoteada. Poesia dolorida pelas adversidades  e lutas da vida. Poesia de resistência e alerta em gritos silenciosos e torturados. Poesia de amor, embalada em uma rede feita à dois – e que se propaga. Poesia ferida, que traz marcas de tempos difíceis. Poesia libertadora que  atravessa oceanos e voa como pássaro que faz ninho em todo lugar. Poesia que transforma,  que chama, que arrebata. É assim, a poesia de Inêz Oludé da Silva.  Despida, autêntica, forte, e sobretudo, pincelada de arte! Arte da palavra, do sentir, do experimentar o mundo tal como é. Sem máscaras, sem comodismos, sem melindr

Pés Descalços 03 | Quanto vale seu bicho

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          Quanto vale seu bicho Por volta dos sete anos de idade tive uma galinha de estimação. Fiz promessa a ela de que jamais nos separaríamos. Cuidei desde que era pinto. Gostava de fazer casinhas e caminhas para ela com tranqueiras velhas que pegava pelo quintal. Eu a achava a galinha mais linda do mundo. Penas brancas como as nuvens e plumas rosadas, roliça e grandalhona. Li muito para o meu filho a história “A Vida Intima de Laura”, de Clarice Lispector, cuja personagem principal é uma galinha, Laura. Eu passava os momentos de folga em baixo de um pé de manga, ao lado dela, geralmente pela manhã, quando os pássaros mais cantam em meu quintal. Quando a minha avó paterna vinha nos visitar, corria até ela e perguntava “vovó, quando a minha galinha tiver os pintinhos, eu serei a avó deles?”. A minha avó abria um sorriso enorme. Depois dela, não me lembro se apeguei a outro animal. Gosto de vê-los soltos pelos matos, ainda mais sendo pássaros com suas cantigas pela manhã. Houve

A POESIA E A PROSA DE DANIELLA GUIMARÃES DE ARAÚJO |Projeto 8M

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  (fotografia do arquivo pessoal da autora) 8M Mulheres não apenas em março.  Mulheres em janeiro, fevereiro, maio. Mulheres a rodo, sem rodeios nem receios. Mulheres quem somos, quem queremos. Mulheres que adoramos. Mulheres de luta, de luto, de foto, de fato. Mulheres reais, fantasias, eróticas, utópicas. Mulheres de verdade, identidade, realidade. Dias mulheres virão,  mulheres verão, pra crer, pra valer! (Nic Cardeal) Hoje é dia de navegar na POESIA e na  PROSA  impressionantes de DANIELLA GUIMARÃES DE ARAÚJO !  1) FRUGAL esticar um lençol e devolver ao lugar os travesseiros  coar no filtro de flanela um café mais forte que antes  abrir em cada cômodo as janelas que não dão para mar nenhum  as miudezas das manhãs são enormes  há fiapos, objetos fora do lugar, roupas secando da véspera, copos sujos, chinelos largados no meio de tudo, uma pétala por um fio  são tão largas as horas da imaginação  mas nada se apressa  sabe-se de antemão como será o almoço, o jantar somos sobreviventes,

Um conto de Cristiane Macedo | "Quando você volta?"

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  Imagem de Steward Masweneng por Pixabay. Um conto de Cristiane Macedo Quando você volta? Dos vinte e dois filhos nascidos de dona Maria Diolinda, quatorze vingaram. O mais novo era o Doca. Não sei dizer seu nome de batismo, cresceu e viveu Doca e aqui será. Doca era um rapaz lindo, mesmo já depois dos quarenta ainda era lindo, embora esse relato seja de um tempo bem antes. Para dona Maria Diolinda, Doca era o bebê, por toda sua vida foi assim. Tinha regalias que os outros não tinham. O preferido. De família abastada, Doca gostava dos luxos que podia ter e tinha. Em plenos anos 1950 vivia em ternos e chapéus muito bem alinhados. Difícil achar rapaz mais charmoso. O pai era dono de botica e foi assim que, desde bem jovem, começou a namorar Maria Quitéria. Sendo rapaz de beleza superlativa, não poderia ter decidido por melhor parceria. Pois que Maria Quitéria era a moça mais bonita daquela cidade do interior paulista. Namoraram muitos anos, até que o pai da moça exigiu um compromisso ma

A POESIA DE DALILA TELES VERAS | Projeto 8M

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(fotografia do arquivo pessoal da autora) 8M Mulheres não apenas em março.  Mulheres em janeiro, fevereiro, maio. Mulheres a rodo, sem rodeios nem receios. Mulheres quem somos, quem queremos. Mulheres que adoramos. Mulheres de luta, de luto, de foto, de fato. Mulheres reais, fantasias, eróticas, utópicas. Mulheres de verdade, identidade, realidade. Dias mulheres virão,  mulheres verão, para crer, para valer! (Nic Cardeal) Hoje é dia de mergulhar na intensa POESIA de DALILA TELES VERAS : 1)  LIÇÕES DE TEMPO  Em tempos imateriais o tempo mistura os tempos  (real e virtualidade) tempos sem tempo : materialidade irreconhecível  Recolher do tempo o além tempo armazenar e seguir um tempo novo a germinar deste tempo : cumprir-se (* poema do livro 'À janela dos dias', p. 11) -*-*-*- 2)  FELICIDADE Valerá, ainda rasgar-se adiar-se à espera? (* poema do livro 'À janela dos dias', p. 19) -*-*-*- 3)  SINA   Escrever para não perder o mote Cantar para ter direito à vida Trabalhar p

Quatro poemas de Ana Dos Santos | "Retorno ao Atlântico Negro"

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  Imagem de Harubaba por Pixabay. Quatro poemas de Ana Dos Santos RETORNO AO ATLÂNTICO NEGRO   Quero escrever uma carta para colocar numa garrafa e lançar ao mar. O mar do Atlântico negro... o mar que na sua ressaca traz à beira da praia os corpos dos imigrantes, refugiados, expatriados, que junto de suas crianças correram em busca de uma vida melhor e encontraram a morte... Ah, esqueci! Esqueci que essa era uma carta de amor para a humanidade. Mas quem pode exigir amor, quando tem criança morrendo de fome, ou em meio a uma guerra? Como posso falar em amor, quando famílias inteiras morrem afogadas nesse mar de sangue, numa diáspora forçada, que refaz a rota do descobrimento numa rota de desespero e de cobrança de tudo que nos arrancaram, terra, língua, saberes, cultura, espiritualidade. Como é necessária a reeducação do homem branco! Esse homem que vive de privilégios, desde sempre, montado nas costas dos negros e brincando de cavalinho com as