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Um conto - por Jeanne Araújo

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Segall Das dores do mundo Natal chegou e ele sabia que não havia nada que comemorar. Tivesse um pouco de carne no prato na ceia já era presente dos mais caros. Olhou pro cinza do sertão e pensou em pedir a mãe um caderninho e um lápis de presente. Agora que tinha aprendido a fazer o seu nome queria escrever histórias. Logo que o sol levantou o pai o mandou pro campo, pastorear a plantação de arroz pros passarinhos não comerem. Passou o dia a correr de um lado pro outro, enxotando os pássaros enquanto o suor escorria no rosto e as lágrimas nos olhos. Queria outra vida, necessitava de outra vida. Sabia que a saída era aprender a ler e a escrever. A garganta seca, os olhos ardendo, a cabeça tentando encontrar uma saída. Olhou para a vazante e para a plantação de melancias ali do lado. Uma sede terrível. Teve ímpetos de abrir uma fruta, vermelha, suculenta, para matar a sede. Mas, se o pai descobrisse, tinha certeza que o castigo viria. Tornou a olhar o céu e a pedir ao Bom S

Poemas - por Diana Pilatti

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Fotografia por Mdorea versos para esquecer das cinzas do dia teu nome me insiste ecoa cálido síbilo entre os dentes da noite te exorcizo nestes versos Órion, visgo de estrelas da minha boca, da minha pele, teu nome madrugada com a mesma força eflúvio e sede e devoção           estro e poesia           que decomponho e para meu alento [e sepultura] - parto poeira de Lua e Tempo no viés da palavra [desfaço nós] sem pronúncia: sou outra "na curva extrema do caminho" despedida [e em teus adros meu nome totem profano] Fotografia por Mdorea selvática cresce ao meu redor floresta selvagem faminta vigas concreto marquises no olho da noite aquela que tem fome                              de vida                              grita Imagem da internet sem indicação de autoria portais daquele tempo restam somente vultos na janela... n|um canto doutro mundo a

A vendedora de balas - Conto

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  A vendedora de balas por Vanessa Ratton *Baseado no Conto A pequena vendedora de Fósforos de Hans Christian Andersen Era a última tarde do ano. Fazia um calor insuportável. Os carros passavam apressados pela rua como se quisessem deixar o tempo mais veloz para acelerar o Réveillon. Ninguém reparava na franzina menina à beira da pista vendendo balas. Ela passava por entre os carros, tão magrinha, tão pequena que aparentava uns doze anos,   mas na verdade acabara de completar quinze. Sua pele era negra, os cabelos eram crespos e teimavam em sair do coque que ela mesma fizera. Quando sua mãe era viva, os cabelos eram mais bonitos. Ela os lavava e passava um óleo cheiroso, depois prendia e pronto. Ficava sempre bonita. Que saudade tinha da mãe. Quanta tristeza ela guardava no seu pequeno coraçãozinho, depois que os anjos a levaram de pneumonia. Ficara morando com a avó, pois o pai passou a beber mais e quase nunca parava em casa. Ele ficou seis meses fora, sem nem

Uma Mulher Admirável - Conceição Evaristo

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 Além de promover a visibilidade e divulgação das mais diversas mulheres, em todas as vertentes da arte, a  Revista Ser MulherArte , visa homenagear mulheres maravilhosas que fazem a diferença, com sua arte e com uma postura admirável de luta, em prol de direitos, igualdade e mais justiça social. A nossa segunda homenageada, Conceição Evaristo merece todas as reverências possíveis. Queremos ainda, através dela, homenagear todas as mulheres negras que são invisibilizadas diariamente, encaradas sob a ótica de uma cultura escravagista, sexista, machista, que não admite a mulher negra num lugar de intelectualidade e competências que não passem pela questão da beleza física. Conceição Evaristo subverte todos esses padrões estabelecidos, ocupando um lugar de escritora bem sucedida, intelectual, homenageada em diversos prêmios importantes do país e mulher que concorreu a uma das cadeiras da Academia Brasileira de Letras. Lia Sena "Antes de lerem nossos textos já fazem

Ana Cecília Romeu em uma Prosa Poética

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Ovelha de Nuvem  Entre desassossegos de grandes passados e pequenas chances de hoje, a mulher inventou um promissor prado cor celeste. Contou carneirinhos, leu pensamentos e amores, respirou raridades, escarrou nas dores, ensaiou beijos e versou nas poucas horas vagas segurando um sorvete de limão, seu favorito. Não passava de uma Ovelha de Nuvem em céu escarlate. Qualquer pingo de satisfação que lhe chegasse aos dedos, o transformaria em algodão: branquinho, macio, modelável, palpável. Pois assim deveria ser sua trajetória: um par de sonhos, outro tanto de obras em andamento e o etéreo na adição das linhas de suas mãos. Um arremesso ao longe na brevidade da vida, e um chega para cá na felicidade em dízimas periódicas Fotografia por Luíse Rodrigues da Costa     Ana Cecília Romeu é gaúcha de Porto Alegre. Graduada em Comunicação Social - Publicidade e Propaganda pela PUC/RS, também estudou Artes Plásticas e Arquitetura pela UFRGS. Desde 2010, publica artigos em

História de Natal de uma ateia - Chris Herrmann

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Crônicas que as lembranças me embrulham de presente - 03 por Chris Herrmann História de Natal de uma ateia Eu nasci em uma família católica, com exceção do meu pai que era ateu. Fui batizada, crismada, participei do grupo jovem da igreja do meu bairro no Rio, onde participei de programas de apoio a crianças sem família que moravam em creches. Toquei órgão em missas na igreja. Estudei em colégio de freiras. Depois de passar por algumas experiências (que não vêm ao caso aqui) fui me afastando da vida religiosa até me tornar ateia. Só não divulguei essa decisão abertamente para família e amigos naquela época, até para não magoar minha mãe. Guardei para mim. Eu tinha a desculpa de trabalhar e estudar muito, de “não ter mais tempo para frequentar a igreja”. Porém, respeitava e continuo respeitando a crença (ou a não-crença) de todos. Certa vez, fiz amizade com uma moça do meu trabalho, que mudarei o nome aqui por respeito, assim como o da mãe dela. A chamarei de Silvia. Então,

Suspense e emoção no conto de Rosângela Vieira Rocha

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Imagem da internet sem identificação de autoria Sombras tenebrosas O castelo em Edimburgo era enorme, com pesadas cortinas de veludo vinho. Havia almofadas por toda parte, de brocado dourado. As janelas davam para um parque amplo, cheio de flores vermelhas. Ela vestia uma camisola fina, branca, enfeitada de fitas. Trazia os cabelos presos no alto da cabeça, o que lhe emprestava um ar mais maduro. Caminhava pelos quartos, com seus chinelos macios, sem fazer barulho. Talvez procurasse alguém. Avistou-o. Vinha pelo parque com sua capa negra, nariz adunco e grandes entradas na testa. Passou por ela, olhou-a e subiu as escadas. Suas pernas tremiam. Mesmo no inverno, vestia-se com um tecido transparente. Os fascinantes olhos lhe faziam mal, mas não podia desviar o olhar. Gostava daquele homem, embora o temesse. Ele sobe para o quarto, onde há um grande esquife no centro. É quase de manhã e deita-se, apressado. Zilá acorda. Quase todas as noites sonha com o vampiro Barnabas Col