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Um miniconto de Silviane Ramos | "De que cor ficou?"

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Fonte: pixabay.com Um miniconto de Silviane Ramos De que cor ficou?   De que cor ficou é o que questiona Joana a Maria. Estavam discutindo sobre os coiós que vinham tomando nos últimos tempos. Maria, mais que depressa, suspira e diz, não ficou de cor nenhuma, ficou da cor de sempre, mas minha filha pode ir à escola. Joana, indignada (mesmo que tenha tomado um coió), diz, Maria, cada vez que você é surrada a cor não muda? Sorte a sua! Eu preciso sempre disfarçar, disfarçar com maquiagem, disfarçar a voz barganhada, disfarçar "a tendência” do meu filho. Maria, já cabisbaixa… suspira mais uma vez… Suspiro sentido, como se a surra tivesse sido ainda naquela manhã, e tinha!. Olha firme para Joana e diz, você não cansa? Não cansa de ver sua vida assim? Joana responde prontamente nessa confidência tão violenta quanto as surras, Maria, estou cansada, mas para que meu filho não tenha que disfarçar o resto da vida suas escolhas, eu faço isso! Assim como suas marcas não são as mesmas

Um poema de Jade Rainho | "Um gafanhoto e o jardim gradeado"

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Fonte: pixabay.com Um poema de Jade Rainho UM GAFANHOTO                                         E O JARDIM GRADEADO     GRADEARAM O JARDIM   do lado de fora homens dormem seus trapos sob o vento sombrio   GRADEARAM O JARDIM   os olhos cheios ainda buscam o verde na mão a caneta quer sentido desenha folhas secas além do abismo   GRADEARAM O JARDIM   vestiram calcinha de renda na índia e lhe coroaram vitrine tamanho especulação   GRADEARAM O JARDIM   e dizem que não sou poeta a poesia morreu asfaltada no avançar do nosso desencontro progressivo   GRADEARAM O JARDIM   nas cidades a solidão é uma voz unicelular homens hipnotizados e conectores portáteis comunicam a virtualidade de seus anseios por te alcançar   GRADEARAM O JARDIM   e a música ilhada tenta ensurdecer o ranger dos automóveis no fluxo atrasado da vida   GRADEARAM O JARDIM   e a liberdade é uma estrada que já não cabe em avenidas   GRADEARAM O JARDIM   e o coração bomba veloz dispara o sonho de estarmos juntos   GRADEARAM O JA

Cinco poemas de Mariana Belize | "De dentro das revoltas submersas"

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  Fonte: pixabay.com Cinco poemas de Mariana Belize "De dentro das revoltas submersas" billie   lavo os pratos do jantar enquanto Adorno fala pausadamente sobre a dialética, a indústria cultural e reclama do jazz   que toca baixinho na sala de estar   somente Benjamin sorrindo relega a si mesmo a tarefa tediosa   de secar os talheres e me dizer entre sussurros "pegue o bebê inseto e vá dormir... Theodor não vai parar de falar de si" Janis   de gota em gota o filtro enche a garrafa miúda   pacientemente aguardo barriga na beira da pia   enxaguando um copo   entre sabão e sangue, deliro tento sair desse dia   que é apenas mais um Fonte: pixabay.com Em junho   é a verdade que eu sonho: ontem apontei pra igreja de são joão de meriti e assumi a cidade inteira como estado de emergência gritei que a baixada fluminense é uma coisa que vai invadindo a gente aos poucos e nascer aqui não é es