A Poesia-espelho de Silvana Conterno: cinco Poemas
imagem sem anotação de autoria
Sina
Quando criança entrei na
fila
pra receber meu anjo da
guarda
era um dia de muito
movimento
lembro-me, era setembro
uma porta levava a um
espelho
nos conheceríamos em
instantes
meu coração
descompassava.
vi uma criatura frágil,
estrábica e insegura
fiquei na dúvida, estava
em busca de proteção
uma voz imperiosa disse:
É o que temos!
este ser tomou conta de
mim
por toda minha infância!
imagem sem autoria anotada
Presença da falta
Guardo palavras
que não me foram ditas
nasceriam do calor de um
momento
que já passou
tecerei um colar de
contas
entremeado pela falta
que me fazem
usarei até o eco do luto
abrandar
e o silêncio for só
silêncio!
Arte: Alexandre Cabanel
Mutantes
Há tempo os homens
pombos
perderam a graça
transitam por praças
acreditam e engolem tudo
sem discernimento
tornaram-se nocivos
se quisermos nos livrar
desses pombos
não basta mais espantar
cada vez mais próximos
perderam o medo de gente
distanciados da origem
de seu símbolo
pregam mentiras e
incoerências
hoje homens pombos
multiplicados
usam o espaço público
como se fossem “gente”!
Flor da pele
avesso descoberto
vida dando choque
retraio-me
em segunda pele
adapto-me
agradecida
pelo mal que não me
fizeram
por enquanto
resguardo-me
passos atrás
recapitulo
tudo que me circunda
e inconsciente contribuo
pisando em armadilhas
que montam passo a passo
caio
sempre que caio
é em mim mesma
Aprendo-me!
Arte: Dirceu Marins
Antes do poema
um vento
folhas secas no chão
rodopiando
num som seco, quebradiço
circundam um sentimento
uma espiral de
lembranças
matérias se misturando
quando...um susto no
trânsito
tira-me do estado de
poesia
em que me encontro
.
protejo quase com as
mãos
esse recém nascido
passarinho do pensamento
.
nem ao menos chorou
pra respirar
seu primeiro verso!
Silvana Conterno, (filha de Geraldo Conterno e Dalva de Oliveira
Conterno). Queria fazer poesia, então nasceu em Minas! Mas só tardiamente a
poesia desvelou em sua vida. Trabalha como diretora de uma escola de Educação
Infantil pública, onde aprende todos os dias com as crianças e traduz o
aprendido em poemas. Estudou psicologia para dominar tormentas e tentar
transforma-las em brisas. Às vezes ainda lhe falta o ar, mas já não lhe falta a
poesia!
Parabéns linda poeta! Seus poemas encantam!
ResponderExcluirPoemas lindíssimos, Silvana! 🤍
ResponderExcluir