Cinco poemas de Ângela Zanirato
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nomearei a flor
de homem do meu tempo
a flor que abraça e tritura
a flor da morte
corrompida
entre telas e grades
a flor estúpida
circunscrita aos jardins
ousou prédios
cercas elétricas
lapelas
a flor humana
desumanizada
neste país múltiplo
homens e flores
secam
silenciosamente
..
Tenho alguns comprimidos uma faca e depressão crônica
Para não morrer escondo tudo de mim
E rio
Para não morrer evito aguas fundas janelas do quinto
andar
Cordas cintos e soda cáustica
Para não morrer não leio Sylvia Plath,Ana Cristina
César Anne Sexton ou Florbela Espanca
Não carrego pedras no bolso quando observo o mar
Não acendo forno
Não carrego estiletes
Para não morrer ouço rock alemão
Tento desenhar a sobrancelha de Nina Hagen
Teço poemas de manhã e desfaço à noite
Para não morrer crio elos e conexões com olhos alheios
Para não morrer tenho com-paixão de mim
E engendro álibis com meus espelhos
Viver é a anti-mágica,
..
Sob o olhar do pássaro
há prisão nesta liberdade
a fechadura antítese do pássaro
o homem contradição do voo
-anjos de coturnos acorrentados
toda manhã insisto caminho
abro os braços/ cruz
com as chaves da minha reclusão auto- imposta
minha liberdade é hiato:
olhos de terra e chão
há dias que insisto em asas ou tesouras:
_ viver é uma adequação.
..
..
na casa que me habita
rugem assoalhos
as paredes gotejam solidão
a fome tem cara de morte
peitos esgotados enfeitam a sala
meninas menstruam azuis
a casa que me habita
não tem capacho de boas vindas
a porta nunca é aberta
as aranhas constroem suas teias
redes que dão colo as crianças
sobreviventes de mim
há um relógio secular na minha casa
a gritar as horas
e devolvê-las secas
como a foto de Kevin Karter
o vazio da casa preenche todos os espaços
a toalha guarda as lágrimas chorada por todos
e arrependidos vestidos rosas
questionam a inútil existência
..
eu tô cansada
da perfumaria
da quinquilharia
do jogo de braços
eu tô cansada
de egos coroados
o salto alto
tem o peso do
coturno
depende da pisada
coroas de cristo
enfeitam as fachadas
eu passo reto
não tenho tempo
de tirar espinho alheio
Maiakóvski
o mar da história
é agitado
mas a gente mergulha
de ponta
difícil
é caminhar no asfalto
onde a poesia
chega crua
como um prego
no peito do pé.
Poemas maravilhosos!!!! Grande poeta.
ResponderExcluirVersos que paralisam o olhar num ponto qualquer para que o efeito metabolize o impacto de inúmeras sensações. "Viver é uma anti-magica; viver é uma adequação; homens e flores secam silenciosamente". Magnífico!
ResponderExcluirPoemas ,fantásticos!!Abraço
ResponderExcluirTenho a honra de cohecer essa poetaça, via facebook. Versos portentosos, bem pensados e expostos. E linda, pra completar.
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