Cinco Poemas de Máyda Zanirato
Petite fleur
No seu vestido molhado
das chuvas da primavera
espia discreta quem passa
ela
que humilde
não se imagina tão bela
e nem se sabe poema
mas
como dizia o poeta
"só a alguns a quem tal
graça se consente
é dado"
parar pra vê-la
e lê-la
e os que amam (quem sabe?)
consigam talvez ouvi-la
e entendê-la
"(como disse outro poeta
falando de estrelas)"
"(como disse outro poeta
falando de estrelas)"
Presságio
Por um instante
vi na eternidade do olhar
o olho perecível
Por um instante
nos passos infinitos
eu pressenti o resto
do esqueleto roto
Por um instante
no carinho das mãos
as mãos cruzadas
definitivamente
sobre o peito
Por um instante
no corpo que se move
ao ritmo do amor
a languidez do corpo
que abandona a vida
Do outro lado do
espelho
...e como demoravas
saí à tua procura
saí à tua procura
pensei estar errado o endereço:
no umbral meu nome
escrito pelo avesso
no umbral meu nome
escrito pelo avesso
na sala um grande espelho
em que olho e não vejo
o meu rosto nele
mas retalhos dispersos
de um quebra cabeça
o meu rosto nele
mas retalhos dispersos
de um quebra cabeça
louca a mente
busca junta-los
em alguma forma
compreensível
busca junta-los
em alguma forma
compreensível
inutilmente
a noite chega e lhe faltam ainda
as partes da parte do meio
as do início do fim
e as do fim do começo
as partes da parte do meio
as do início do fim
e as do fim do começo
então a angústia me desperta
sento na cama
vejo tua sombra
em frente do espelho
em que escreves
de trás para frente
sento na cama
vejo tua sombra
em frente do espelho
em que escreves
de trás para frente
VEM!
vou
me jogo de encontro à parede
atravesso o espelho
e te abraço e me beijas
e enlaçados ficamos
e morremos
me jogo de encontro à parede
atravesso o espelho
e te abraço e me beijas
e enlaçados ficamos
e morremos
assim
para muito além
do outro lado
do espelho
do espelho
Fênix
Um vento leve varreu a última poeira de ti mesma
Por um instante o reino do nada se instala
e se vislumbra um império
de mil anos
de ausência total e
de silêncio profundo e
de escuro, escuro...
Então um clarim não de sabe de onde
anuncia um novo parto de ti mesma
A dor
a alegria
e o recomeço de um tempo novo
e de um círculo eterno
Enquanto um deus mudo e indiferente
preside sonolento
à tua vida eterna
à tua sede
á tua busca
Ao teu encontrar-nunca
Um Sonho
Quando
teu nome do fundo do sonho
emerge
e sai como suspiro
e sinto
meus lábios se movendo
te chamando
quando mal desperta vejo
que tenho só teu nome
em minha boca
vazia do teu beijo
que
de tão intenso
me tirou do sono
quando me recuso a despertar de todo
e não ver que o corpo teu
junto do meu
era só um sonho
procuro te pensar então
como se, na realidade apenas
fosses tão somente sonho
um sonho a que sequer devo dar forma
se acordada
(com medo que se despedace)
e tento então dormir de novo
emerge
e sai como suspiro
e sinto
meus lábios se movendo
te chamando
quando mal desperta vejo
que tenho só teu nome
em minha boca
vazia do teu beijo
que
de tão intenso
me tirou do sono
quando me recuso a despertar de todo
e não ver que o corpo teu
junto do meu
era só um sonho
procuro te pensar então
como se, na realidade apenas
fosses tão somente sonho
um sonho a que sequer devo dar forma
se acordada
(com medo que se despedace)
e tento então dormir de novo
Fotografias por Mdorea
Máyda Zanirato é paulista, vive atualmente em Santos, é professora aposentada, depois de toda uma carreira no magistério em escolas públicas. Publicou pela primeira vez, em uma Antologia com suas irmãs, que são também escritoras e em outra, mais recente, organizada pelo saudoso Cairo Trindade. Tem publicações, nas duas últimas edições do Livro da Tribo.
Gosto imenso da poesia da Máyda. <3
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