Uma Mulher Admirável - Conceição Evaristo
Além de promover a visibilidade e divulgação das mais diversas mulheres, em todas as vertentes da arte, a Revista Ser MulherArte, visa homenagear mulheres maravilhosas que fazem a diferença, com sua arte e com uma postura admirável de luta, em prol de direitos, igualdade e mais justiça social. A nossa segunda homenageada, Conceição Evaristo merece todas as reverências possíveis. Queremos ainda, através dela, homenagear todas as mulheres negras que são invisibilizadas diariamente, encaradas sob a ótica de uma cultura escravagista, sexista, machista, que não admite a mulher negra num lugar de intelectualidade e competências que não passem pela questão da beleza física. Conceição Evaristo subverte todos esses padrões estabelecidos, ocupando um lugar de escritora bem sucedida, intelectual, homenageada em diversos prêmios importantes do país e mulher que concorreu a uma das cadeiras da Academia Brasileira de Letras.
Lia Sena
"Antes de lerem nossos textos já fazem um pré-julgamento, ou dizem que a autoria negra é uma autoria de militância. Mas é preciso conhecer os textos. Peço muito para as pessoas que não leiam apenas minha biografia, porque ela é importante sim, porque ela contamina meu texto, mas por favor leiam meu texto".
“o sujeito da literatura negra tem a sua existência marcada por sua relação e por sua cumplicidade com outros sujeitos. Temos um sujeito que, ao falar de si, fala dos outros e, ao falar dos outros, fala de si”.
Da calma e do silêncio
Quando eu morder
a palavra,
por favor,
não me apressem,
quero mascar,
rasgar entre os dentes,
a pele, os ossos, o tutano
do verbo,
para assim versejar
o âmago das coisas.
Quando meu olhar
se perder no nada,
por favor,
não me despertem,
quero reter,
no adentro da íris,
a menor sombra,
do ínfimo movimento.
Quando meus pés
abrandarem na marcha,
por favor,
não me forcem.
Caminhar para quê?
Deixem-me quedar,
deixem-me quieta,
na aparente inércia.
Nem todo viandante
anda estradas,
há mundos submersos,
que só o silêncio
da poesia penetra.
(Poemas de recordação e outros movimentos)
EU-MULHER
Uma gota de leite
me escorre entre os seios.
Uma mancha de sangue
me enfeita entre as pernas
Meia palavra mordida
me foge da boca.
Vagos desejos insinuam esperanças.
Eu-mulher em rios vermelhos
inauguro a vida.
Em baixa voz
violento os tímpanos do mundo.
Antevejo.
Antecipo.
Antes-vivo
Antes - agora - o que há de vir.
Eu fêmea-matriz.
Eu força-motriz.
Eu-mulher
abrigo da semente
moto-contínuo
do mundo.
Momento Inesquecível
Encontro Nacional do Mulherio das Letras em João Pessoa (Outubro/2017), Cochichei para uma amiga que nem a incomodaria pra tirar uma foto comigo, pois estava cansada, depois de tanto assédio para fotos e autógrafos. Ela percebeu e escutou, levantou-se da mesa onde dava autógrafos e conversava com a querida Maria Valéria Rezende e me disse, " ainda não fizemos foto juntas? venha!" E fizemos essa fotografia que marcou o momento inesquecível.
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Obras de Conceição Evaristo
Romance
- Ponciá Vicêncio (2003)
- Becos da Memória (2006)
Poema
- Poemas da recordação e outros movimentos
(2017)
Contos
- Insubmissas lágrimas de mulheres (Editora
Malê, 2016 )
- Olhos d`água (Editora Pallas, 2014) .
- Histórias de leves enganos e parecenças
(Editora Malê, 2016)
Participações em antologias
- Cadernos Negros (Quilombhoje, 1990)
- Contos Afros (Quilombhoje)
- Contos do mar sem fim (Editora Pallas)
- Questão de Pele (Língua Geral)
- Schwarze prosa (Alemanha, 1993)
- Moving
beyond boundaries: international dimension of black women’s writing (1995)
- Women
righting – Afro-brazilian Women’s Short Fiction (Inglaterra, 2005)
- Finally
Us: contemporary black brazilian women writers (1995)
- Callaloo, vols. 18 e 30 (1995, 2008)
- Fourteen female voices from Brazil (EUA,
2002), Estados Unidos
- Chimurenga People (África do Sul, 2007)
- Brasil-África
- Je suis Rio, éditions Anacaona, juin 2016.
Obras publicadas no exterior
- Ponciá Vicencio. Trad. Paloma Martinez-Cruz,
Austin: Host Publications, 2007.
- L’histoire de Poncia, traduzido por Paula
Anacaona, collection Terra, éditions Anacaona. 2015.
- Banzo, mémoires de la favela, traduzido por
Paula Anacaona, collection Terra, éditions Anacaona.
Fonte: Wikipedia
Prêmios
- Prêmio Jabuti de Literatura ,2015
- Faz a Diferença – Categoria Prosa, 2017
- Prêmio Cláudia – Categoria Cultura, 2017
- Prêmio Bravo! – Categoria Destaque, 2018
- Prêmio Governo de Minas Gerais – categoria
Conjunto da Obra, 2018
- Homenageada do Prêmio Jabuti 2019
Biografia de Conceição Evaristo
Maria da Conceição Evaristo de Brito nasceu em 29 de novembro de 1946, em Belo Horizonte (MG). Foi a segunda de nove irmãos. Teve a infância e a adolescência marcadas pela miséria, na extinta favela do Pindura Saia na região centro-sul da capital mineira. Trabalhou como babá e faxineira enquanto cursava os estudos secundários, aspirando à carreira de professora, mas quando concluiu o curso normal, não conseguiu emprego em Belo Horizonte.
Não havia, na época, concursos para professores em Minas Gerais: aulas, só para quem fosse indicado. Assim, Conceição mudou-se, em 1973, para o Rio de Janeiro, onde se graduou em Letras pela UFRJ e seguiu carreira no magistério, lecionando na rede pública fluminense até aposentar-se no ano de 2006.
Sua estreia na literatura aconteceu no ano de 1990, quando seis de seus poemas foram incluídos no volume 13 da coletânea Cadernos Negros, publicação literária periódica que teve início em 1978, com o intuito de veicular a cultura e a produção escrita afro-brasileira, seja na forma da prosa, seja na forma da poesia.Conciliando os trabalhos na docência, na literatura e na produção de estudos teóricos, Conceição Evaristo titulou-se como mestra em Literatura Brasileira pela PUC-Rio, em 1996, com a dissertação Literatura Negra: Uma Poética de Nossa Afrobrasilidade e depois como doutora em Literatura Comparada na UFF, defendendo, em 2011, a tese Poemas malungos, cânticos irmãos, em que analisou a poesia dos afro-brasileiros Nei Lopes e Edimilson de Almeida Pereira e a do angolano Agostinho Neto.
Autora de contos, poemas e romances, parte deles traduzida para o inglês e o francês, além de vasta obra teórica, Conceição Evaristo foi finalista do prêmio Jabuti em 2015 e contemplada, em 2018, com o Prêmio de Literatura do Governo de Minas Gerais pelo conjunto de sua obra, sendo reconhecida como uma das mais importantes escritoras brasileiras da contemporaneidade.
*Informações retiradas da internet
*Fotografias retiradas da internet, sem indicação de autoria
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