A lucidez do amor - crônica de Chris Herrmann
Crônicas que as lembranças me embrulham de presente - 05
A lucidez do amor
por Chris Herrmann
Meu pai era machista, fruto da educação que recebeu e das suas próprias limitações. Cometeu muitos erros, embora tenha tido seus momentos de acertos. Eu tinha uns 17 anos, quando naquele dia ele retornara do hospital após um derrame (hoje chamado de AVC). Ainda com dificuldades na fala e com um olhar humilde como eu nunca tinha visto antes, ele me disse:
- Minha filha, você é uma moça inteligente. Não sei se vou viver por muito tempo (e não viveu mesmo). Continue a se dedicar aos estudos e trabalhe e lute. Sei que você irá longe. Nunca se submeta a um homem. Nunca seja dependente de alguém. Se um dia você se unir a um homem, que seja de igual para igual. Só assim você poderá ser feliz. Sei que não tenho muito tempo para consertar meus erros. Mas você tem todo o tempo do mundo para seguir um caminho mais justo que o da sua mãe.
(Eu o abracei e nossas lágrimas selaram aquele momento que não precisava mais de palavras.)
Abaixo, uma das poucas fotos que tenho junto ao meu pai. Creio que foi clicada em 1969 ou 1970 em uma festa junina na rua onde morávamos, no Rio de Janeiro.
Que linda! Emocionante a crônica e que bela foto.
ResponderExcluirObrigada, Lia. 🤍
ExcluirUma preciosa delicadeza, dele, que vc seguiu à risca! Um momento de amor cobre multidão de erros passados! Linda crônica.
ResponderExcluirO momento de lucidez e amor que mudou muita coisa em mim. Obrigada, Ivy. 🌷
Excluir