A poesia imensa de Adriane Garcia

"Passeio com Vincent" de LucianeValença

Oftalmológico

Um céu tão amplo
O mar este vasto
O mundo grande
A perder de vista

De repente céu
Para além da ponta
Dos edifícios

Miopia é vício
De só enxergar
De perto.


"Céu" de Luciane Valença
Poema para um sábado

Luz amena
O céu coberto de
Manta de algodão
Experimenta a preguiça
(como são deliciosos
os pecados capitais)

Manda uma chuva
Fininha
Para nos distrair
Do atraso do Sol

A água
Lânguida
Lambe plantas
E pedras

O dia é um gato
Se enroscando
Nas pernas. 

"Portal" de Luciane Valença
Os vivos

Da não agressão
Da inveja nula
Da cobrança reduzida a
Zero
Da aceitação sem nome e do
Silêncio
Do livre transitar sem
Julgamento:

Gosto mais dos mortos.

 ***

Morrer

A beleza pousa na ampulheta
Ruflar asinhas ninguém escuta
A vida e a morte no pé de murta

Só dura um dia essa borboleta.

"Solitaire" de Lu Valença
Vó Preta

Minha avó morreu hoje
Não creio que mortos
Descansem

Creio sim que vivos
Percorrem
O caminho entre as tumbas
Cansados

Passam pássaros em revoada
Um cão tranquilo adota uma lápide
Crianças não dão a mínima
Para o que não seja
Brinquedo

Eu sinto o odor incômodo
Dos crisântemos
Arrancados.

Fotografia por Ricardo Laf
Adriane Garcia, poeta, nascida e residente em Belo Horizonte. Publicou Fábulas para adulto perder o sono (Prêmio Paraná de Literatura 2013, ed. Biblioteca do Paraná), O nome do mundo (ed. Armazém da Cultura, 2014), Só, com peixes (ed. Confraria do Vento, 2015), Embrulhado para viagem (col. Leve um Livro, 2016), Garrafas ao mar (ed. Penalux, 2018) e Arraial do Curral del Rei: a desmemória dos bois (ed. Conceito Editorial, 2019).





Comentários

  1. Belosoemas. E belas ilustracoes de Luciane Valença!

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  2. A maravilhosa poética da Adriane numa linda edição da Lia Sena e arte de Luciane Valença. Amei! 🤍

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    Respostas
    1. Obrigada, Chris Hermann. A beleza do trabalho de Adriane Garcia e Lu Valença, facilitam muito a edição! Beijos.

      Excluir

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