Artes integradas de Ana Maria Oliveira - Poesia e Artes Plásticas
Foto alterada - Ana Maria Oliveira |
Ecos de um pensar maior
As gotas de água ampliam a perspetiva cinzenta das
árvores nuas
Pela lente do sonho pardacento por entre o
cruzamento
De pinceladas alvoraçadas sobre o informe volátil
Dos elos quebráveis no despertar das projeções
cruas
Os falantes não se dão conta da realidade
subjetiva
Estendida em palpação nos veludos dourados de um
sol invasor
Lançando dardos e fluídos espevitando o verbo
Peneira diluída na força da expressão da vida
A refração hipnotiza as condutas de oxigénio
Onde florescem catos sobre o prisma da perfeição
das molduras
Qual afago ajustado na delicadeza do toque em
transe
E no renascer da cópia enlaçando o raspar das
esquinas
Trocando infinitas faculdades em truques mágicos
Denunciadores de danças ancestrais conturbando
rituais de animação
Teatro de tragédias abissais onde a ação se
expande
Em fria argamassa de paraísos e infernos
Gerados no sopro eterno dos mistérios
Ana Maria Oliveira |
A conotação pegajosa da palavra
O prazer sádico explodiu no grupo intoxicado pela
inanição
Onde a anemia minou neurónios e furou os tímpanos
dos macacos em apatia
Só os urros espumam das mandíbulas do canzoal
esfomeado de sangue
Qual desejo de sanguessugas incoerentes e cobardes
Que se agitam na germinação da violência no âmago
de criaturas
Sem rotas sem projetos sem criatividade
manipuladores de horror
Onde se soltam tatuagens de embalar espíritos
vazios procurando poiso
Assinando contratos atestados controladores de
morte vida e dor
E o ego a rebentar de trampa distribuindo agressão
gratuita
Qual boneco saltitão dos anfiteatros e bancadas
De língua afiada cuspindo bactérias destruidoras
de inteligência
Enrolando-se na estupidificação especialista em
venenos psicológicos
De sinfonias descontroladas e desfasadas
Então a festa dos corpos desfaz-se em gritos
colapsados pelos apedrejamentos
Gestos que lançam escarros virulentos das bocarras
escancaradas dos delinquentes de profissão
Ofendendo os que hasteiam o facho da liberdade e
da comunidade
Da beleza da destreza dos festejos da humanidade
Há sempre criaturas enraivecidas arremessadoras de
peso
Contra os edificadores atléticos
Que se pega ao encéfalo tacanho de minhoca
subterrânea
E nem se dão conta da sua condição de bestas
Nem do ódio que corrói o coração
Porque nesta sociedade venal entre a cintilação da
pele e a destreza dos membros
Entre o perder e o ganhar será imperativo o ritual
sagrado do participar
Refluxo
O refluxo plastificado das lixeiras emerge na
força das marés revoltadas
Com a ansiedade de controlo e poder dos vírus
pardacentos
Denunciando o espetro raquítico e esponjoso dos
homicidas
Perante a obstrução dos canais que criam floreados
galerias
De criações humanas que se contaminam pelos
desarranjos dos metais
E destroem círculos sagrados onde se erguem
ermidas
A ambição e a vaidade amordaçam mentes inquietas
Perdendo-se em oceanos de superficialidade
Contribuindo para banquetes de insipiência
Para matança dos consagrados no desmantelar
Dos corpos gigantescos das carcaças
E a fome esquizofrénica de proteínas
À custa de criaturas manipuladas para devorar
Com as gargalhadas dos esfomeados assanhados de
imortalidade
Os poços corroem-se na acidez fétida dos estrumes
E os peixes sofrem com a metamorfose dos mamíferos
A flutuação dos desperdícios denunciam as pocilgas
Vertendo o metano nos acumuladores de bombas por
deflagrar
De armamento por explodir arquitetando o regresso
às cinzas
A campânula fecha-se sobre os agitadores de
programas
Em malabarismos de redes de pesca e aprisionamento
Sufocando o bater cardíaco e provocando fumo negro
em subtis brisas
A partícula agitada qual onda ténue deixa-se
apanhar pela avalanche
Procurando a outra parte do enigma planeando-se a
si própria
Inventando um novo nascimento no interior do
rodopio
Uma renovada camada emergindo na parte
milagrosamente alterada
Transformando-se numa faiscante tranche em forma
de suspiro
****
Que essência que demência?
Borbulham fluidos amarelados acantonados na
dimensão
Incomensuravelmente pequena do meu invólucro
Criando batalhas de desfloramento no interior da
infinita existência
Em batimento cardíaco acelerado desfazendo o motor
cansado
Perante um cérebro desfeito e em curto-circuito
irado
Gozando com a falência da prova empírica que rasga
as receitas precisas e estreitas
As mãos alisam os cumes as arestas o áspero dos
caninos
As mordidas esfomeadas dos felinos
E perdem-se em prece na história limitada
Prisioneira de perspetivas mitológicas
ensanguentadas
Agita-se o peito por entre beijos de lábios
crispados denunciantes de mordaças
Contorcendo-se os membros pela noite com dores
lacerantes
Deixando que a angústia existencial impulsione o
desejo de tudo se esfumar
Com a certeza de que será para sempre o recomeçar
E neste ritual acabrunhado incerto impreciso
amargurado mundano
Não se encontra razão que atenue o absurdo do
humano
Que essência que demência?
Que intempérie prolifera na mente na semente?
Que campo germinativo traz para a luz os rebentos
da vida
Em reconstruções de arquétipos e rasgos de trapos
Abanando o trapézio na plataforma quebrável
efémera e garrida
Desabrochando a dialética da negação em azedume
eliminando teias
Sustendo naves na transpiração dos rios nas
correntes oceânicas
Na desconstrução de viadutos lamacentos e estéreis
E nesta guerrilha pelo reconhecimento
Atropelam-se os fantoches do escravo e senhor
Pois são marionetas de um sistema implantado na
cegueira
Mesmo disfarçando o hálito a morte que dá pelo
nome de horror!
Ana Maria Oliveira é licenciada em Filosofia pela Faculdade de Ciências
Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.
Lecionou durante uns anos, estando atualmente a exercer atividades ligadas
ao Infantário, onde desenvolveu um projeto de “Filosofia para crianças”.
Publicou dois livros de poesia: “Grito de Liberdade” em
2008 e “Espírito Guerreiro” em 2014.
Sites de Ana maria
http://www.worldartfriends.com/store/318-grito-de-liberdade.html
https://www.facebook.com/Esp%C3%ADrito-Guerreiro-397716480404024/
portuguesa.html
https://www.poetasdelmundo.com/detalle-poetas.php?id=7798
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