UniVerso de Mulheres 02 - Dois Poemas de Sandrinha Barbosa





Dois poemas de Sandrinha Barbosa, por Valeska Brinkmann



Foto ©Ribamar Caboclo



Ave, Solimões

ainda há pouco
teu filho
       o velho Madeira
nos entregou
       de braços abertos
a ti
e agora navegando em tuas
       barrentas
águas, te saúdo:
Ave, Solimões
cheio de graça!

pai
        mestre
amigo e
senhor majestoso
       há milênios
dessa sagrada Amazônia
onde reinas humilde
 repleto de sabedoria:
Ave, Solimões
cheio de graça!

que teu corpo
       seja a rede
e teu espírito
       seja o bálsamo
às dores  na alma
que ora sinto 
percorre meu sangue
segura em teu colo
       meu coração
e se possível
       ainda
leva minh´alma
       para descansar
um pouco nas profundezas
de tuas turvas
águas

onde eterno  e
                     utopia
convivem na paz
de tuas lendas e
            mistérios
Ave, Solimões
cheio de graça!
                                                             


Pássaro da Noite II

gigante  e
sobrenatural
lento  e
solitário
o imenso
        pássaro
do além-oceano
se aproxima :
       pássaro de luzes
reluzente e fantástico

nas madrugadas
deitada em nuvens
ou passeando entre
estrelas mil
       identifico
pelo coração
um sonho encantado
cheio de verde
 para então só acordar
além, muito além do
oceano azul!



Sandrinha Barbosa, descendente do povo indígena Xokó originário do Sergipe, nasceu  já na Amazônia brasileira, depois de seu povo emigrar para essa região.
Aos 4 anos de idade, foi iniciada na Pajelança pelo seu avô.
Estudou a medicina ocidental em Manaus e medicina natural  em S. Paulo (USP e Mogi das Cruzes). Vive atualmente em Kaiserslautern, na Alemanha onde junto com o marido forma o Duo Igapó, projeto de música brasileira. Escreve prosa e poesia. No momento se ocupa de seu livro de memórias da vida na Alemanha, intitulado  Cartas ao Reno.
Os poemas Ave-Solimões e Pássaro Noturno II foram retirados do livro Igapó, publicado em 2019 em alemão pela BoD


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