" Não é sobre Flores" - Mulherio das Letras da Bahia
Vídeos a partir de poemas das integrantes do Mulherio das Letras da Bahia
nem UMA a menos
nunca mais os olhos baixos
Nunca mais os óculos
a esconder o olho roxo
nunca mais o repouso em sobressalto
nunca mais o asqueroso "abraço"
nunca mais desgosto
nunca mais o grito, o estampido
nunca mais o monstro maldito
estrebuchando de prazer
nunca mais você, fugindo de casa
nunca mais, pássaro de asas cortadas
nunca mais soluços, ferida exposta
nunca mais a porta fechada a lhe prender
nunca mais o pesadelo
- nunca mais morrer -
Lia Sena
Música ao fundo: Fêmea de Lia Sena e Kareen Mendes
Mulher
“No teu cabelo negro brilham estrelas.”
Elizabeth Bishop
Há uma mulher chamada Nome,
cujo rosto eu desconheço.
Sempre que chego dizem: “Oh, ela
saiu daqui agora mesmo.”
Ah, essa jovem senhora
sabe a aurora, tece com finos dedos
fios de ouro envelhecido, em seus cabelos,
manto amarelo. E o Universo inteiro cede
a um encantamento que ninguém consegue nominar.
Há uma mulher chamada Espelho.
(Kátia Borges, Ticket zen)
Ela não quer
Ela não quer a mão que apedreja, quer a boca que beija.
Ela não quer a força que bate, quer o amor que invade.
Ela não quer ser sempre culpada, quer ser perdidamente amada.
Ela não quer ter seu corpo explorado, quer seu corpo respeitado.
Ela não quer ser objeto, quer afeto.
Ela não quer ser violada, quer ser respeitada.
Ela não quer sempre ser bonita, quer ser livre e desimpedida.
Ela não quer rótulos. Só uma coisa ela quer: ser plenamente mulher.
Palmira Heine
Lugar de mulher
Não use esse batom vermelho
Essa roupa curta não lhe cai bem
Você não entende de política
Procure seu lugar
Basta!
Você que procure seu lugar
Ao meu lado não pode estar
Sei onde quero chegar
Meu lugar é onde escolher
Para ser feliz e dizer:
Sou mulher e quero respeito!
Rita Queiroz
Hoje a poesia sangra
sem coletores ou absorventes
para mascarar as agressões
Hoje a poesia chama, clama
todas as irmãs femininas
com ou sem vagina
para essa luta que um dia finda
Hoje a poesia grita de dor
com os seios à mostra
mostra as chagas
cravadas pelo machismo
Chega de opressão
Chega de possessão
Chega de agressão
Hoje a poesia se empodera
estufa o peito
e brada:
Sou mulher
e não desisti de mim!
Luh Oliveira
Ou Migalhas
Não sou seu carro
Seu time
Seu eletrodoméstico
Nada que se compra
Ou se aposta
Penso que é isso em mim
Que você não gosta
Sem repressão por favor
Não.me induza a nada
Nem me abafe
Ou terá que recolher
O que nunca viu de mim
"Migalhas"
Edna Almeida
Alexandra Patrocínio
DESCABIMENTO
Dentro do vestido
tem um corpo
que veste um ser
e seus sentidos
É descabido
despir o vestido
e pendurar o ser
no cabide
Esther Alcântara
UM DIA, EU GRITO
Silencio, quando reclama da comida
Travo, quando me grita no meio da multidão
Constranjo, quando me obriga a trazer a toalha
Morro, quando não me deixa dormir.
Rejane Souza
Honra
Se não fosse a sua deserção
eu ainda estaria no cerne
a experimentar
teu gosto
teu segredo
teu falo
e saberias
minhas marcas
percorreria meus mapas
Romperias
percorrendo minhas trilhas
e me tornarias mulher.
Sandra Moreira
duerme, maria
na noite sem segredos
sem olhos nem vigílias
no quarto possível
escuro.lume.abrigo
em teu conforto hipotecado
pago em lágrimas.grito
duerme, duerme
que a lua se faz perto
um afago, um sorriso
e mãos que não matam
dorme e dorme, maria
na calma de outros dias
quando amor se faz lei e
não se morre ou mata
Andréa Mascarenhas
Ela
Canta a moça da janela
É ela, a moça dos poetas
Não tem luz, não tem cor
Sua voz é díssona
Seu cabelo é penugem
Feia
É a moça do poeta,
Está na janela, suas mãos estão sujas da caneta cor –de –rosa
Ela, por vezes, é azul
Ela, por vezes, chora inconsciente do clamor
Morre em seus beijos invisíveis,
Volta ao mundo, redistribui seu pesar e anda pelo corredor,
[a trilha mais próxima da estrada ]
É a moça da janela, tem cicatrizes pela cara
e inquietude da liberdade
de todas as canções.
Josimeire Sacramento
Celina Bezerra
RESISTÊNCIA
"Se ferem minha existência,
Serei resistência!"
Serei verbo
Rasgando palavras
Necessárias para garantir
Meu lugar de fala.
Serei carne
De corpo presente
Por vidas inocentes
Silenciadas abruptamente.
Serei hoje e sempre
A voz que não cala
O braço de luta
Por dias melhores, em brava labuta!
(Carla Alves)
Ana Carol Cruz
O Mulherio das Letras da Bahia é um coletivo feminista de mulheres escritoras vinculado ao grupo nacional, Mulherio das Letras. É um dos vários coletivos regionais, existentes no Brasil e fora do país. O propósito é o mesmo para todas as mulheres dos diversos grupos; lutar por mais direitos, dentro do campo da literatura, buscando mais visibilidade e oportunidades para as escritoras, num ambiente onde o machismo ainda predomina. Além das questões literárias, há uma preocupação social e política, daí a elaboração desse evento em torno do Dia Internacional da Mulher, no qual várias escritoras participaram com poemas e vídeos, dentro da temática de invisibilização e violência contra a mulher.
Desenho e arte da foto de capa por W. Patrick
Excelente esse projeto de vocês do Mulherio das Letras da Bahia. Parabéns, Lia e todas participantes. ♥️
ResponderExcluirUma riqueza de poemas ! Fico grata por participar de um grupo de mulheres tão intensas!!! Gratidão pela publicação!
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