A força poética de Yasmin Morais - três poemas
Desenho por W Patrick |
O DÉSPOTA
Que
faria, se te impões, intruso, no Palácio de minha Memória?
Tu
que vens manchado, prenhe das lamúrias do Século.
A
perfídia segue-te, e és dissonantemente pérfido.
Teus
lábios destilam xilocaína,
E
afirmas, vil, o quão desejas entorpecer-me do Mundo.
Lambo-te
em cada uma das protuberâncias, se estamos solitários,
Sob
o Luar pálido, nas entranhas da Noite.
Às
tuas mãos ásperas,
Devotaria,
secretamente, a minha Carne.
No
rompante da Aurora, és arauto do temeroso exército inimigo,
À
noite, te refugias em meu Castelo, insosso e escamado.
Curas
cada uma das tuas feridas, em meu Leito desolado.
E
eu, que me deito sobre tua barriga de misérias,
Negaria
até a Morte, que a ti recebera,
Nas
entranhas de Mim.
Atrai-me
a tua imundícia, e a brancura de tua derme déspota.
Traidor,
te rastejas furtivamente, entre o Campo e meus Lençóis.
Desperto,
e há temor entre as Mulheres de meu povo.
Teu
Exército pisoteara nossas Vinhas,
Teus
machos roubaram-nos o Ouro.
Enraiveço-me
e reavio, o que de Mim,
Houveste
Tu roubado.
Ao
aço da Espada, rasuro-te o dorso,
Firo-te
o fémur.
Alojo
o Ódio na jugular,
E
quero-te.
Lindsay Rapp |
A MELANCOLIA DOS RIOS
Dentre maiores esplendores,
Estende-se, enérgico,
O teu estandarte,
Em beleza.
Contornos pueris dão forma,
à massa amorfa,
No cerne das fantasias.
Um coração orvalho-roxo
pulsa,
Abrupto, entre seios
floridos.
Demarcaste o ápice da
primavera.
Doces Néfeles de ozônio e tristeza,
A bailar através dos céus
obscuros de
Creta.
Ó, levai convosco,
A prece silenciosa.
Ao Oráculo,
Divaguem o meu martírio.
Pois,
Tão somente desfaleço,
Às margens montanhosas
Do rio Evros.
Até que Potâmide regresse.
DAMA
DE OURO
Minha
pele é dourada,
Quando
acariciada,
Por
raios de Sol.
Minha
pele reluz como ouro;
Os
céus do crepúsculo,
As
tardes iluminadas,
A
janela na qual Julieta ainda aguarda,
Um
tardio Romeu,
Que
jamais chegará.
Minha
pele é ouro líquido,
Tinjo-me,
flava,
Tal
qual espada,
Afiada
e empunhada,
Com
o peso dos quereres mais sedentos.
Minha
pele borbulha e lumia,
Divagando
em cálidas certezas,
Que
ferem-me a cabeça,
Tal
tranças Nagô.
Minha
pele é inquietude metálica,
Luminescência
ininterrupta,
Na
qual banho-me e rasgo venturas,
Na
pele dos dias.
Minha
carne,
É
o próprio Sol.
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