Duas crônicas tocantes de Sílvia Palaia
Richard Blunt |
Bernard, o dinamarquês
Ele era dinamarquês e veio para o Brasil a trabalho. Pela empresa. Eu trabalhava de freela numa agência de pesquisas (além de dar aulas) que me chamou para compor a equipe que faria a pesquisa cultural da tal empresa. Trabalho bacana, mas que exigiu fôlego. Uns três meses e muitas horas de trabalho. Aí conheci Bernard. Lindo. Loiro. Alto. Inquieto e curioso. Bernard falava inglês, francês, italiano e dinamarquês. Eu, me arrastava no inglês, chorava em italiano, e murmurava em francês. Logo ensinei português pra ele. No final da pesquisa apresentamos os resultados e fomos comemorar o sucesso. Existia em São Paulo uma danceteria / balada/restaurante chamado Roof, ficava no último andar do prédio da Dacon - na Faria Lima - e foi lá que fomos comemorar. Primeiro jantamos e passamos para a danceteria. Drinks brasileiros , como a caipirinha, fazia a alegria dos gringos, dentre eles Bernard. Por incrível que pareça conversávamos bastante em vários idiomas e gestos. Lá pelas tantas começaram a tocar músicas brasileiras. E um sambinha. Puxei Bernard para o meio da pista: "tristeza, por favor vá embora minha alma que chora..." Bernard pediu que eu tentasse traduzir a letra. E eu consegui. Ele ficou encucado: como podíamos dançar e sorrir diante de uma letra tão triste! "Sílvia, o cara está triste. Muito triste!" Achei linda a reação dele. Ao nos despedirmos no aeroporto, dias depois ele me disse que se sentia como o moço da música. Triste. Muito triste. E que deixava o coração dele aqui "Na Brasile" comigo. Lindo Bernard! Meu amor dinamarquês. Sílvia Palaia em Todas as histórias são histórias de amor.
Sílvia Palaia em Todas as histórias são histórias de amor.
Pavarotti
Uma noite papai chegou com três convites para a apresentação de um tenor. Um deles era para meu irmão e o outro para minha mãe, que cedeu-me o lugar. Eu tinha uns 14 anos. Era no Palácio das Convenções do Anhembi. Papai não falou nada no caminho - o que não era seu estilo. Sempre nos antecipava informações. Dessa vez não disse nada. Estacionou o carro, nos pegou pelas mãos e antes de entrarmos passou as mãos nos nossos ombros olhou firme e disse: apenas sintam.
Assim conheci Luciano Pavarotti que cantou para quatro mil pessoas. Sem microfone. Sua voz preencheu tudo. Não lembro de outra emoção tão intensa.
***
Meu nome é Sílvia Palaia. Nasci em São Paulo, capital num domingo ensolarado de novembro. Pra ser mais precisa dois dias após o assassinato do presidente Kennedy, ou seja 24/11/1963. Sou a terceira filha dos quatro filhos de Elza e Linneu. Socióloga e historiadora por formação, mas meu ofício é a sala de aula. Me sinto feliz nesse lugar. Gosto de escrever. É o que faz sentido pra mim. Desde que me conheço por gente crio histórias imagino personagens e fantasio o dia a dia das pessoas no metrô, nas ruas, nos bares. Sou romântica para as histórias de amor, mas não para o amor romântico. Vivi muitas delas. E quero mais.Também sou mãe. Do Pedro e do André e é aqui que o amor é a melhor realidade.
Adorei conhecer a sua escrita! Li, também, "Os Amantes - doze anos depois." Pura emoção! Obrigada, por compartilhar.
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