Magia e delicadeza em uma história para crianças - por Ana Laudelina Ferreira Gomes
imagem pinterest, sem anotação de autoria
,
Zambelê e a árvore dos amores
I
Zambelê e seus pais iam se mudar para um
lugar bem longe de onde moravam. O menino viu a foto da futura casa, bem
bonita, mas surpreendeu-se com o quintal, completamente vazio! Nenhuma
plantinha nem dessas que nascem sozinhas, nem mato sequer!
Foi quando sua avó Rosa lhe revelou um
grande segredo: as plantas podem nascer das mãos dos homens. Zambelê
ressabiou-se.
- Como assim? Podem nascer plantas nas
minhas mãos?
A avó explicou melhor.
- Não Zambelê, não nascem plantas NAS
nossas mãos, elas nascem DAS nossas mãos. Nascem do trabalho de nossas mãos.
Zambelê achou muito curioso que uma
simples troca de uma letrinha a palavra pudesse mudar completamente o sentido
do que a avó dizia.
E ela continua a explicar:
- São nossas mãos que cavam a terra para
nela deitar as sementinhas, com as mãos as cobrimos com terra e lhes damos água
de beber nos lugares onde as plantas forem plantadas.
Essas palavras – as plantas foram
plantadas – soaram nos ouvidos de Zambelê
como uma grande descoberta
desconcertante, o menino até mudou de lugar.
As plantas são plantadas? As plantas são
plantadas?
E num relampejo de dúvida, arriscou
perguntar:
- Então os meninos são meninados vovó?
Rindo muito a avó voltou a explicar:
- Não Zambelê, as plantas são plantadas,
mas os meninos não são meninados.
Mas plantas e meninos são ambos
cultivados.
- O que é cultivado, vovó?
- Cultivar é fazer com que a semente de
planta e a semente de menino cresçam fortes e saudáveis oferecendo a eles o que
precisam para viver e se melhorar a cada dia. Por exemplo, com as plantas, é preciso
alimentá-las todo dia com água, expô-los ao sol, cuidar delas com muito amor.
Então as sementes brotam e crescem, florescem, dão frutos, beleza e alimento
para nossa vida e nossa alma. Zambelê arregalou os olhões e se adiantou:
- Vovó, você pode me dar umas sementes
de menino para eu plantar no nosso quintal vazio?
Zambelê já estava morando em sua casa
nova, e se preparava finalmente para poder plantar no quintal todas as
sementinhas que ganhou de amigos e familiares por cujas casas passou para se
despedir no lugarejo de onde vinha.
As sementes que trouxe da casa de sua
avó eram as mais especiais para o menino, pois fora ela que lhe revelara o
grande segredo de que as plantas eram plantadas, e que as sementes de menino
podiam também ser cultivadas, mas, infelizmente, não podiam ser plantadas no
quintal.
Lá foi Zambelê ao vasto quintal da nova
casa carregando, num baldinho, muitos pequenos embrulhos com diferentes
sementes. Com sua pazinha amarela como o sol ele cavou fundo vários buracos para
colocar as distintas sementes. Sentou-se ao lado do baldinho e começou a
desembrulhar os pacotinhos, um por um, jogando nele as sementes todas.
Nesse desembrulhar passou a manhã
rapidinho. Fez uma pausa. Depois do almoço voltou ao quintal para finalmente
plantá-las. Planejava cultivar cada tipo de semente num buraco próprio. Mas
qual o que! Veio a surpresa!
- Ah! Meu Deus! Juntei todas as sementes
no baldinho, como separá-las de novo agora?
Correu ao telefone, para se aconselhar
com a avó.
- Plante todas juntas, disse a boa
senhora, vingarão aquelas que tiveram mais força dentro do coração da terra.
E assim fez Zambelê. Plantou todas as
diferentes sementes num imenso buraco que abriu no meio do quintal. Ao final do
dia, depois que o sol já tinha aquecido a terra, Zambelê com um grande regador
dava de beber a seus futuros rebentos.
Assim foram muitos dias. E no início da
primavera alguma coisa começou a furar a terra. Era um pé de árvore. Ao longo
da estação das flores ela cresceu, cresceu, cresceu muito. E para a surpresa de
Zambelê, ela deu muitas diferentes flores: margaridas, violetas, antúrios e
rosas. Também diversos e saborosos frutos. Zambelê não conhecia ainda árvore
assim, mas ficou muito encantado que esse mistério tivesse acontecido em seu
quintal.
O menino estava feliz e a cada diferente
fruto de sua árvore que comia ou a cada ramo de flor da árvore que perfumava
sua casa, lembrava com carinho e saudades daqueles que o presentearam com suas
sementes. Por isso, passou a chamar sua árvore de árvore dos amores.
Ana Laudelina Ferreira Gomes é poeta e escritora de histórias para crianças, contos e crônicas, além de ensaios e textos acadêmicos. Especialista na poeta oitocentista Auta de Souza, quem pesquisou no seu doutorado em Ciências Sociais (PUC-São Paulo) publicada no livro "Auta de Souza: a noiva do verso" (2013), escreveu introduções e artigos, organizou suas obras reunidas no livro (2008) "Horto, outros poemas e ressonâncias" (em co-parceira) e , dirigiu (em co-parceria) o videodocumentário "Noite Auta, céu risonho" (2008/2009). Realizou estágio Pós-Doutoral em Filosofia da Imagem (FURG - Rio Grande e Université Jean-Moulin - Lyon 3 - França) acerca da leitura de imagem na educação, focada nos estudos do filósofo da imaginação Gaston Bachelard, sendo organizadora de duas coletâneas de ensaios nessa abordagem. Professora Titular colaboradora do OOGCS/UFRN. Atualmente, mora em Aveiro, Portugal.
Ana Laudelina Ferreira Gomes é poeta e escritora de histórias para crianças, contos e crônicas, além de ensaios e textos acadêmicos. Especialista na poeta oitocentista Auta de Souza, quem pesquisou no seu doutorado em Ciências Sociais (PUC-São Paulo) publicada no livro "Auta de Souza: a noiva do verso" (2013), escreveu introduções e artigos, organizou suas obras reunidas no livro (2008) "Horto, outros poemas e ressonâncias" (em co-parceira) e , dirigiu (em co-parceria) o videodocumentário "Noite Auta, céu risonho" (2008/2009). Realizou estágio Pós-Doutoral em Filosofia da Imagem (FURG - Rio Grande e Université Jean-Moulin - Lyon 3 - França) acerca da leitura de imagem na educação, focada nos estudos do filósofo da imaginação Gaston Bachelard, sendo organizadora de duas coletâneas de ensaios nessa abordagem. Professora Titular colaboradora do OOGCS/UFRN. Atualmente, mora em Aveiro, Portugal.
*Cauã Torres é filho da Autora.
Muito importante a revista abrir espaço para histórias para crianças e para as crianças dentro de todos os adultos. Agradeço às editoras pela oportunidade e à Ivy Menon pelo convite.
ResponderExcluirUma honra, Ana! Obrigada!
ExcluirExcelente iniciativa da Revista p acolher histórias infantis! Parabéns pelo rico trabalho Ana Laudelina!
ResponderExcluirConcordo plenamente espaço importantissimo!
ExcluirAgradeço seu retorno. É uma felicidade quando nossa escrita ressoa positivamente em outras almas!
Lindo! Os contos infantis são muito importantes na formação da personalidade infantil. Amei a ilustração do Cauã. Uma maravilhosa parceria.
ResponderExcluirVerdade Diná, a escola deveria se apropriar mais da literatura, que ensina de forma mágica.
ExcluirParabéns, Ana Laudelina! Vejo sua história de vida nessa linda história infantil. Parabenize Cauã pela linda ilustração.
ResponderExcluirObrigada Sâmia, você tem toda razão.
ExcluirParabéns Ana, esta estorinha lembrou-me da canção: " No quintal por trás de casa tem um pé de sonhos, que não pára de florar....."( trecho da canção PÉ DE SONHO), Cantada por Nara Leão. Bjs
ResponderExcluirParabéns Ana Laudelina.
ResponderExcluirmuito boa e criativa a estória do Zambelê.
Gostamos muito, leitura de fácil entendimento, li para um netinho de 5 anos que ficou tão interessado q combinou com a mãe de plantarem uma sementinha de feijão e acompanharem juntos seu crescimento.
Sabemos q ensinar, estimular e incentivar as crianças a cuidar do meio ambiente é fundamental.
Sucesso!!