A Poesia empoderada de Josimey Costa, em três poemas

Cícero Dias

EU TU DEUSA

Cada mulher é um portal
Há em seu ventre mundos
Templos que erguem histórias
Biografadas em carne
Cada boca de cada uma
É riso e grito incessante
Fonte profunda telúrica
Das muitas fases da lua
Crescendo e minguando
Como humor sazonal de rio
Cada vagina faz rugir as feras
As bestas dançarem mansinho
Ao som dos tambores da pele
Enquanto tudo é o tempo
Sua cabeça de oráculo
Emaranha qual serpente
Sentenças certezas sentidos
Seu rastro arando a terra
Com fogo espaço e estrelas


Cícero Dias

INDISCRIÇAO

A garganta
ganha uma gruta de silêncio
tenso imenso e só
rarefeito no óxido do tempo

A palavra
mastigada entre os dentes
pende quase rota
quase nada que diz tudo
No fundo
o segredo dorme vazio
na cara
o escape acorda o espanto

 
Cíciero Dias

NÃO

Quero não o seu abraço de hera
Se o corpo não basta, quanto mais braço ou perna
Tudo tudo é só o que você quer
Não é?
Quero o quê esse olhar transfixo
Cada parte de mim perfurada
Principalmente a alma
Não sou alvo nem trepadeira
Nem quero ser medo ou rancor
Não quero ir aonde você for
Seguir seus passos é deixar os meus de lado 
Meu caminho é este aqui e bem assim
O seu é caminhando pra lá
E se o meu não ainda tem senão
Vou manter em mim o meu desejo
E você pode dar pra outras seu beijo


Josimey Costa, jornalista de formação, doutora em.Ciencias sociais pela PUC-SP. Escritora brasileira, poeta, pesquisadora, interessada nas artes do pensamento e nas ciências do sentimento. Mãe de Lucca e de Eric. Tem diversos artigos, contos e poemas publicados em coletâneas. Livros da autora: Casa de Penhores. UFRN/PRAEU, 1982. Complexidade á flor da pele. Cortez Editora, 2002. Brasil em tela: cinema e poéticas do social, Editora Sulina, 2008. No limite da traição: comunicação de massa, cinema e vínculos sociais, EDUFRN, 2012. A palavra sobreposta: imagens contemporâneas da Segunda Guerra em Natal, EDUFRN, 2013. Quase conto, EDUFRN, 2014. Entre vislumbres e letras. Offset, 2019-


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