Resenha do livro infantojuvenil A ÚLTIMA FOLHA, de Adriana Barretta Almeida





(Capa: ilustração de Rosangela Grafetti)



PORQUE AS FOLHAS FALAM A LÍNGUA DAS COISAS MIÚDAS

por Nic Cardeal

A ÚLTIMA FOLHA (Curitiba: Insight, 2017) é um livro infantojuvenil escrito por ADRIANA BARRETTA ALMEIDA e lindamente ilustrado por Rosangela Grafetti, que conta a história de uma folhinha de plátano.

Essa folhinha miúda e verdinha vivia em uma grande árvore de plátano, junto com muitas outras folhinhas também verdinhas e miúdas, e a vida lá das alturas era muito divertida! Todas gostavam muito de estar sempre juntas, nos galhos da majestosa árvore que lhes dava seiva de comer, água de beber, vida de viver! Não faltava nada à folhinha dessa história, porque até "a língua das coisas miúdas" (pág. 5) ela conseguiu aprender com suas amiguinhas! Até amigos passarinhos brincavam com as lindas folhinhas em dias ensolarados! O que poderia haver de mais divertido nesse mundo tão encantado?

O tempo foi passando, porque mesmo pras coisinhas miúdas o tempo sempre passa, às vezes devagar como uma tartaruga, às vezes ligeiro que nem vendaval traiçoeiro... Até mesmo a nossa querida folhinha dessa história percebeu que havia o tempo, esse estranho 'senhor' que nunca se deixa ver, mas que sempre está por perto, avisando manhãs, noites e dias, contando as horas como um velho relógio de sol. Então a folhinha cresceu. Suas amiguinhas também cresceram - foram ficando todinhas "de um verde profundo e suave" (pág. 7), donas de si, e até cantavam quando o vento ventava, pois elas não podiam deixar de farfalhar felizes porque sabiam que tinham o lindo privilégio de, todas juntinhas, ser árvore!

O tempo continuou passando, passando e passando... Um dia, a folhinha percebeu que estava ficando com manchas amareladas em seu tão frágil corpinho de folha. Percebeu que não estava sozinha nessa 'estranheza' do viver de folha - suas amigas folhinhas, folhas, folhonas, também estavam todas amarelando. As manchas aumentavam, espalhavam, mudavam de cor. Do verde ao amarelo, ao vermelho, alaranjado, marrom. O que estaria a acontecer com as moradoras da grande árvore de plátano? De repente não eram apenas manchas, todas as folhas mudavam completamente de cor...

Um certo dia a folhinha caiu em si: algo muito novo estava a acontecer em sua grande morada das alturas: vinha um vento e, quando o vento vinha, algumas folhas iam com o vento, livres, felizes pelo ar, numa nova brincadeira de fazer voar! As folhas que ficavam queriam muito também ir brincar de voar com o vento! A cada brisa mais uma, e outra, outra, mais outra, saiam bailando felizes pelo céu, até alcançar o chão, cair sobre um menino que colhia flores no quintal, ou ficarem embaraçadas n'algum cabelo de criança a brincar no parque, feito coroa de rei, rainha, príncipe ou princesa...

A folhinha viu todas as suas amigas partirem. Até que se deu conta: estava sozinha - a última folha do galho, do tronco, da árvore. Sentiu-se tão triste e miúda (apesar de já ser folha grande!) naquele inverno chuvoso e cinzento. A folhinha chorou... "Nessa tarde choveu uma chuva fina, mas ela já nem queria mais brincar com as gotinhas, que se misturavam às suas lágrimas" (pág. 24). Seu amigo passarinho logo percebeu a tristeza da folha, veio correndo (digo, voando!) consolar a amiga folhinha já tão alaranjada, triste e sozinha: "Amiga folhinha, não fique triste... vamos esperar o próximo vento, e você vai voar. Eu prometo!" (pág. 26). A folhinha até que ficou mais animadinha com a promessa do passarinho - lá no fundo de sua alminha de folha, ela sabia que ele tinha razão  - voar não era só pra quem tinha asas de borboleta, joaninha ou passarinho, voar também era pra folhas que moravam em árvores, um dia elas aprendiam a seguir o vento, e pulavam contentes, rumo à imensidão!

Você quer saber o que aconteceu com a folhinha?  Não deixe de ler esse lindo livro, e você saberá qual foi o destino da última folha daquela árvore de plátano! E aproveite pra seguir o conselho da Adriana (e da folhinha que um dia foi verdinha, verdinha!): "E nesse inverno, quando você passar por ali, chegue mais perto, apure o ouvido e espie com olho de enxergar avesso. Lá dentro dos galhos solenes e grávidos, o farfalhinho invisível das folhas bebês nos conta que elas já se agitam para nascer com a primavera" (pág. 32).

(* Livro indicado para pensar sobre a passagem do tempo, sobre o ciclo da vida, sobre as chegadas e partidas, porque "essa pequena folha nos fala das alegrias e amizades, desejos e angústias que acompanham todos os seres vivos" (contracapa).




ADRIANA BARRETTA ALMEIDA, por ela mesma:

"Nasci em São Paulo, mas vivo nessa cidade de cores lindas que é Curitiba. Estudei Letras na USP e Artes na Embap. Mas o que tenho de mais importante a dizer de mim é minha ligação muito forte com o universo infantil. Sempre me toca profundamente o olhar das crianças sobre as coisas: ao mesmo tempo tão novo e tão íntimo. Como mãe e como professora, tive sempre o privilégio de tê-las por perto.  Escrever para crianças, para mim, é um exercício de alma."

Adriana também é autora do livro infantojuvenil de poesia 'Poemear de pernas pro ar' (Curitiba/PR: Editora Insight, 2018), e acaba de lançar o livro 'Todo laço é feito de areia' (Guaratinguetá/SP: Penalux, 2020).



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