Vozes Negras importam - e brilham
Tiago Moura Januário |
Poetas Contemporâneas
Panfleto
para Pirilampos e Magnólias
Há um
aneurisma no cérebro do País
Esperando o tempo da explosão.
Pirilampos apagados
Buscam faróis na noite da Baía,
No mistério do dique, das docas.
Celebro manifestos insurrectos
Onde a Poesia cataclisma,
Hekatomba.
Esperando o tempo da explosão.
Pirilampos apagados
Buscam faróis na noite da Baía,
No mistério do dique, das docas.
Celebro manifestos insurrectos
Onde a Poesia cataclisma,
Hekatomba.
Estampo
relâmpagos nos muros.
Uma hemorragia inunda
De sangue o oxigênio das horas.
O sangue pletora utopias, risos e chamas.
Apesar da grande noite que se abate sobre o País,
O combate permanece no silêncio das tumbas,
Na obscuridade dos pesadelos,
Nas vontades recolhidas por Blimunda.
O horror retumba sobre as casas.
Enquanto engenho palavras
E lavro novos âmagos.
Uma hemorragia inunda
De sangue o oxigênio das horas.
O sangue pletora utopias, risos e chamas.
Apesar da grande noite que se abate sobre o País,
O combate permanece no silêncio das tumbas,
Na obscuridade dos pesadelos,
Nas vontades recolhidas por Blimunda.
O horror retumba sobre as casas.
Enquanto engenho palavras
E lavro novos âmagos.
Na Colômbia,
Há Ceibas na estrada para Córdoba,
E suas raízes guardam segredos
De viajantes, de plantadoras de café,
De homens que bebem a noite
E sorvem nossas magnólias
(Magnólias brancas de Billie).
Mulheres que mascam tristezas, fumos.
Ceibas mulheres que sustentam o céu,
E acolhem ancestralidades ameríndias.
Assim, desmoronam colinas inteiras dentro de mim.
Há Ceibas na estrada para Córdoba,
E suas raízes guardam segredos
De viajantes, de plantadoras de café,
De homens que bebem a noite
E sorvem nossas magnólias
(Magnólias brancas de Billie).
Mulheres que mascam tristezas, fumos.
Ceibas mulheres que sustentam o céu,
E acolhem ancestralidades ameríndias.
Assim, desmoronam colinas inteiras dentro de mim.
Há acordes de
desolação,
Sinfonia de silêncios,
Lassidão dos sonhos, das crenças.
Atavismos seculares nas paredes,
Nos retratos, nas páginas diárias da História.
Nosso leito está vazio.
Nosso eito, sem arado.
Somos um rio seco, sem curso.
Somos um poço escuro e profundo,
Onde não vivem sequer bagres albinos.
Discurso para desertos, para ossos e rochedos,
Para homens surdos e mulheres apáticas.
Somos um Paraguaçu de fósseis, de lembranças marinhas.
Além da devastação em nossas margens,
Aragem alguma suaviza as dores do presente.
Não vislumbro novas galáxias.
Apenas patíbulos de condenados suicidas.
Apenas juízes e delatores,
Apenas sigilos oportunos.
Há um vazamento de tristezas em nossos olhos,
Cataratas mudas aguardam a vertigem do Espírito do Tempo.
E desencantos mofam nossas paredes.
Como mulher: dilato-me!
Sinfonia de silêncios,
Lassidão dos sonhos, das crenças.
Atavismos seculares nas paredes,
Nos retratos, nas páginas diárias da História.
Nosso leito está vazio.
Nosso eito, sem arado.
Somos um rio seco, sem curso.
Somos um poço escuro e profundo,
Onde não vivem sequer bagres albinos.
Discurso para desertos, para ossos e rochedos,
Para homens surdos e mulheres apáticas.
Somos um Paraguaçu de fósseis, de lembranças marinhas.
Além da devastação em nossas margens,
Aragem alguma suaviza as dores do presente.
Não vislumbro novas galáxias.
Apenas patíbulos de condenados suicidas.
Apenas juízes e delatores,
Apenas sigilos oportunos.
Há um vazamento de tristezas em nossos olhos,
Cataratas mudas aguardam a vertigem do Espírito do Tempo.
E desencantos mofam nossas paredes.
Como mulher: dilato-me!
Por todas as
casas do País, há plantação de palmas.
E almas perecem de sede e desencanto.
Mucugê é um jardim de pedras
Cujas pétalas são nossos corações embrutecidos.
O cafezal ameaça as flores do lugar.
O manguezal avança sobre sutilezas de cores.
E almas perecem de sede e desencanto.
Mucugê é um jardim de pedras
Cujas pétalas são nossos corações embrutecidos.
O cafezal ameaça as flores do lugar.
O manguezal avança sobre sutilezas de cores.
Há um
aneurisma em mim
Que também explodirá!
Há um aneurisma nos justos
E naqueles que buscam alegrias coletivas.
Canso-me dos homens
E dos tentáculos da sua arrogância
Que invadem meus abismos,
Minhas sutilezas, minhas cerâmicas, meus musgos.
Que também explodirá!
Há um aneurisma nos justos
E naqueles que buscam alegrias coletivas.
Canso-me dos homens
E dos tentáculos da sua arrogância
Que invadem meus abismos,
Minhas sutilezas, minhas cerâmicas, meus musgos.
Canso-me dos
homens
E da sua estupidez de pedra
Da sua obscuridade de gruta,
Seu estado de inércia,
Sua velhice precoce,
Sua adolescência perpétua.
Sua covardia de demônios.
Sua desistência, seu desamor.
Sou uma mulher da América Latina!
Sou uma voz diaspórica, negra!
Venho de uma África que me busca.
E o que faço é atravessar oceanos,
Decifrá-la em mim, em meu território.
Minha pena é o meu remo.
Minha pena é a minha bússola.
Minha pena é também minha nau.
E da sua estupidez de pedra
Da sua obscuridade de gruta,
Seu estado de inércia,
Sua velhice precoce,
Sua adolescência perpétua.
Sua covardia de demônios.
Sua desistência, seu desamor.
Sou uma mulher da América Latina!
Sou uma voz diaspórica, negra!
Venho de uma África que me busca.
E o que faço é atravessar oceanos,
Decifrá-la em mim, em meu território.
Minha pena é o meu remo.
Minha pena é a minha bússola.
Minha pena é também minha nau.
Canso-me dos
abutres, das raposas,
Dos leopardos e da prepotência dos intelectuais.
Ninguém me faz feliz!
Ninguém tem a chave!
Quem nutre a memória de mim?
Quem projeta meus delírios em suas cavernas?
Dos leopardos e da prepotência dos intelectuais.
Ninguém me faz feliz!
Ninguém tem a chave!
Quem nutre a memória de mim?
Quem projeta meus delírios em suas cavernas?
Há um ranço
de família na poeira das mobílias.
Ranço de nomes na cartografia das lápides.
Ranço do poder na energia das vozes,
Na seleção dos vocábulos.
Há o vício dos brancos, o vício do poder dos homens.
Sou feminista quando me desconstruo,
Travo embates com a existência
E enfrento temores.
Há um ranço de poder nas elites.
Há estalactites nos cérebros,
Estalagmites entre o sexo e a alma.
Ranço de nomes na cartografia das lápides.
Ranço do poder na energia das vozes,
Na seleção dos vocábulos.
Há o vício dos brancos, o vício do poder dos homens.
Sou feminista quando me desconstruo,
Travo embates com a existência
E enfrento temores.
Há um ranço de poder nas elites.
Há estalactites nos cérebros,
Estalagmites entre o sexo e a alma.
Há desvãos
insondáveis dentro de mim.
Ninguém me acha, ninguém me vê,
E, hoje, ninguém me habita.
Há um labirinto dentro de mim,
Que apenas eu me percorro solitariamente aos domingos.
Apenas eu mínguo de vésperas e de escolhas.
Apenas eu recolho âncoras
E trago pavões em minhas saias.
Dragões e mandrágoras residem nas rendas
Das minhas negras anáguas.
Apenas eu sou casta,
Pois vivencio a solidão absoluta das divindades.
Ninguém me acha, ninguém me vê,
E, hoje, ninguém me habita.
Há um labirinto dentro de mim,
Que apenas eu me percorro solitariamente aos domingos.
Apenas eu mínguo de vésperas e de escolhas.
Apenas eu recolho âncoras
E trago pavões em minhas saias.
Dragões e mandrágoras residem nas rendas
Das minhas negras anáguas.
Apenas eu sou casta,
Pois vivencio a solidão absoluta das divindades.
Trago em mim
a ilusão de reter o tempo,
A extensão da vida, da morte.
Inútil reter o a convulsão dos diamantes!
E a combustão dos diademas.
Inútil reter sementes, óvulos e afetos!
Inútil, pois o belo expira.
O amor definha.
E a história é feita de fios que se desfazem
No ano do Galo.
Restam vestígios e sombras apenas.
A extensão da vida, da morte.
Inútil reter o a convulsão dos diamantes!
E a combustão dos diademas.
Inútil reter sementes, óvulos e afetos!
Inútil, pois o belo expira.
O amor definha.
E a história é feita de fios que se desfazem
No ano do Galo.
Restam vestígios e sombras apenas.
Os girassóis
de Van Gogh estão mortos!
Somente agora os vejo cadáveres.
Somente agora murcham e enlouquecem
Diante das minhas janelas barrocas.
Há desolação em meu peito
E o coração assombra-se com
Conspirações, golpes.
Somente agora os vejo cadáveres.
Somente agora murcham e enlouquecem
Diante das minhas janelas barrocas.
Há desolação em meu peito
E o coração assombra-se com
Conspirações, golpes.
A Poeta cisma
da sua escrivaninha
E gira na convulsão do mundo.
A Poeta transita entre as minas de ouro da Colômbia
Em amnésia, em guilhotinas, em fraudes.
Atordoada de si mesma e da sua condição.
O estúpido americano ataca a língua de Lorca!
O Chile, em incêndios.
Imigrantes sofrem açoites, pânicos.
Tudo o que canto faz-se poeira cósmica.
Tudo o que canto evade-se sem eco.
Tragam-me o ópio, o haxixe e o absinto!
E gira na convulsão do mundo.
A Poeta transita entre as minas de ouro da Colômbia
Em amnésia, em guilhotinas, em fraudes.
Atordoada de si mesma e da sua condição.
O estúpido americano ataca a língua de Lorca!
O Chile, em incêndios.
Imigrantes sofrem açoites, pânicos.
Tudo o que canto faz-se poeira cósmica.
Tudo o que canto evade-se sem eco.
Tragam-me o ópio, o haxixe e o absinto!
Rita Santana
em Projeto profundanças: organizado e idealizado por Daniela GalDino.
Fotografia por Shai Andrade
http://vooaudiovisual.com.br/projects/profundancas2/
Fotografia por Shai Andrade
http://vooaudiovisual.com.br/projects/profundancas2/
Rita Santana nasceu em Ilhéus. É atriz, escritora e professora. Em 2004 ganha o Braskem de Cultura e Arte para autores inéditos com o livro de contos Tramela. Em 2006, Tratado das Veias (poesia) é publicado pelo selo Letras da Bahia. Publica Alforrias (poesia) em 2012, pela Editus. Em 2019 publica Cortesanias (poesia), pela Caramurê, e participa do Festival Internacional de Poesia de Buenos Aires.
***
OUVINDO OS ANCESTRAIS
Eu carrego azeite quente,
Queimo senhores e correntes,
Gingo o corpo, acumulo vitórias.
Zumbi me diz qual o próximo passo,
como se abre alas interditadas
para a beleza, a fartura e a liberdade.
Assim vou de ágata na dança de ogum,
forte nas encruzilhadas do ser e existir.
Zumbi, Acotirene, Zeferina, Luiza Manhim
Meu avô, Chico Rei, Luiz Gama, Lima Barreto
São ações.
Eu me faço seus verbos e vou revelando fatos
negras memórias refazendo espelhos doentes
esbranquiçados.
Jovina Souza em “O Caminho das Estações”
Jovina Souza é mulher baiana, nascida em Feira de Santana, residente em Salvador. Graduada em Letras Vernáculas pela Ufba, especializou-se em Estudos Literários e fez Mestrado em Teoria e Crítica da Literatura e da Cultura. Intelectual de voz delicada e falas contundentes, possui longa trajetória como criadora e professora de projetos identitários, destinados a elevar a auto estima de negras e negros de todas as idades,formação de intelectuais negros e à preparação de professores. Participou de várias Antologias, inclusive, Outras Carolinas, Mulherio da Bahia, publica nos Cadernos Negros e em 2012, lançou o seu primeiro livro, Agdá ; em 2018, O Caminho das Estações, ambos ´pela editora Mondrongo. Em 2019, lançou o seu terceiro livro, O amor não está, pela Editora Òminira. A poeta tem sido convidada para todas as importantes Feiras Literárias do o país, como Flipelô, Flica, Fligê e seu trabalho poético tem sido estudado em universidades brasileiras e americanas.
***
Abaeté
A água escorre
dos olhos
sobre a face escura.
sobre a face escura.
A água escorre
das roupas
dentro das mãos negras.
dentro das mãos negras.
Escorre dos
olhos
das mãos da mulher
a dor dos dias.
das mãos da mulher
a dor dos dias.
A água escura
da lagoa
lava as roupas
e a alma.
lava as roupas
e a alma.
Lílian Almeida em “Pulsares”
Fotografia por Inajara Diz
Baiana de Salvador, Lílian Almeida é professora adjunta na Universidade do Estado da Bahia e doutora em Teoria da Literatura pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Participa de “Além dos quartos: coletânea erótica negra Louva Deusas”, “CartoGRAFIAS” (Funceb) e “Profundanças 2: antologia literária e fotográfica”. Publicou “Todas as cartas de amor” (ficção) em 2014, pela Editora Quarteto. Venceu o prêmio Edital Caramurê de Literatura 2019 com o livro “Pulsares”.
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